quinta-feira, 14 de julho de 2016




A rede que nos envolve

(Lívio Oliveira)

Caríssimos amigos leitores, não se iludam com o título deste texto. Não tratarei aqui de nada que diga respeito diretamente à internet e suas movimentadíssimas redes sociais. Também não falo ainda da excelente ideia e maravilhosa inauguração de uma Difusora no Beco da Lama, a novíssima “Boca do Beco”, rede de comunicação alternativa que me agradou imensamente pela criatividade poética inusitada e pela resistência cultural.
Ocorre que, neste momento, estou mesmo é fazendo menção à boa e ecumênica rede de pano, a secular “rede-de-dormir”, tão bem estudada por Luís da Câmara Cascudo em uma de suas muitas obras etnográficas: “Depois verifiquei que a primeira citação nominal da rede datava de abril de 1500. Daí para nossos dias constituía um elemento indispensável e normal da existência de milhões e milhões de brasileiros em quatro séculos. Nasciam, viviam, amavam, morriam na rede.” (Rede de Dormir – Uma Pesquisa Etnográfica, Ed. FUNARTE/INF/Achiamé/UFRN, Rio de Janeiro, 1983).
É que também andei recordando uma maravilhosa notícia que vi certa vez no noticiário televisivo. Através da matéria, fiquei sabendo que maternidades de Maceió, talvez até com auxílio dos conhecimentos cascudianos, andavam usando redes para acalmar bebês nascidos prematuramente e que possuem alto grau de irritabilidade. De acordo com a opinião de alguns médicos e fisioterapeutas, a rede faz com que essas crianças fragilizadas com os traumas do nascimento antecipado possam relaxar e dormir com mais facilidade. A rede serviria como uma forma alternativa e eficaz de acalmá-las quando não dispusessem do colo da mãe.
Destaque-se que o tecido das tais redes deve ser escolhido e preparado de forma a evitar alergias e infecções oportunistas. Ademais, com o seu uso, também se faz possível a redução da quantidade de glicose usada para acalmar os bebês. Outro ponto positivo da utilização da rede é que a posição do bebê em seu interior minimiza desconfortos respiratórios.
Na verdade, fisioterapeutas e pediatras chegaram a concordar que, de certa forma, a rede realiza uma simulação do espaço intra-uterino, ajudando a desestressar o bebê, reduzindo sequelas que poderiam se projetar para a vida adulta. Bom lembrar que, com o uso das redes, o sono dos bebês se torna tão tranquilo que algumas mães querem até levar o artefato para fazer uso em casa.
Taí uma notícia que me deixou realmente feliz e me mostrou como a criatividade e a sensibilidade podem se fazer aliadas da técnica e da ciência para minorar os males da humanidade. Isso mereceria mesmo um bom estudo científico para aprofundar a compreensão sobre a simples solução levada a cabo. No que respeita ao uso da rede de dormir, decididamente, sou um adepto contumaz. Há muito tempo (e não somente eu) nutro predileção pelo seu conforto amoldável ao corpo e aquele balanço que nos envolve, acalma e inspira.

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