A rede que nos envolve
(Lívio Oliveira)
Caríssimos amigos leitores, não se iludam com o título deste texto. Não tratarei aqui de nada que diga respeito diretamente
à internet e suas movimentadíssimas redes sociais. Também não falo
ainda da excelente ideia e maravilhosa inauguração de uma Difusora no
Beco da Lama, a novíssima “Boca do Beco”, rede de comunicação
alternativa que me agradou imensamente pela criatividade poética
inusitada e pela resistência cultural.
Ocorre que, neste momento, estou mesmo é fazendo menção à boa e
ecumênica rede de pano, a secular “rede-de-dormir”, tão bem estudada por
Luís da Câmara Cascudo em uma de suas muitas obras etnográficas:
“Depois verifiquei que a primeira citação nominal da rede datava de
abril de 1500. Daí para nossos dias constituía um elemento indispensável
e normal da existência de milhões e milhões de brasileiros em quatro
séculos. Nasciam, viviam, amavam, morriam na rede.” (Rede de Dormir –
Uma Pesquisa Etnográfica, Ed. FUNARTE/INF/Achiamé/UFRN, Rio de Janeiro,
1983).
É que também andei recordando uma maravilhosa notícia que
vi certa vez no noticiário televisivo. Através da matéria, fiquei
sabendo que maternidades de Maceió, talvez até com auxílio dos
conhecimentos cascudianos, andavam usando redes para acalmar bebês
nascidos prematuramente e que possuem alto grau de irritabilidade. De
acordo com a opinião de alguns médicos e fisioterapeutas, a rede faz com
que essas crianças fragilizadas com os traumas do nascimento antecipado
possam relaxar e dormir com mais facilidade. A rede serviria como uma
forma alternativa e eficaz de acalmá-las quando não dispusessem do colo
da mãe.
Destaque-se que o tecido das tais redes deve ser
escolhido e preparado de forma a evitar alergias e infecções
oportunistas. Ademais, com o seu uso, também se faz possível a redução
da quantidade de glicose usada para acalmar os bebês. Outro ponto
positivo da utilização da rede é que a posição do bebê em seu interior
minimiza desconfortos respiratórios.
Na verdade, fisioterapeutas
e pediatras chegaram a concordar que, de certa forma, a rede realiza
uma simulação do espaço intra-uterino, ajudando a desestressar o bebê,
reduzindo sequelas que poderiam se projetar para a vida adulta. Bom
lembrar que, com o uso das redes, o sono dos bebês se torna tão
tranquilo que algumas mães querem até levar o artefato para fazer uso em
casa.
Taí uma notícia que me deixou realmente feliz e me
mostrou como a criatividade e a sensibilidade podem se fazer aliadas da
técnica e da ciência para minorar os males da humanidade. Isso mereceria
mesmo um bom estudo científico para aprofundar a compreensão sobre a
simples solução levada a cabo. No que respeita ao uso da rede de dormir,
decididamente, sou um adepto contumaz. Há muito tempo (e não somente
eu) nutro predileção pelo seu conforto amoldável ao corpo e aquele
balanço que nos envolve, acalma e inspira.
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