WANDERLÉA 70 ANOS
Parece que foi ontem, mas foi em 1962 que Wanderléa, aos 16 anos,
lançou o primeiro compacto e no ano seguinte o primeiro LP “Wanderléa”
com Astor Silva e Orquestra e que tinha uma música que ela nem gostou
muito quando ouviu a primeira vez, mas que estourou no Brasil inteiro.
Era “Meu Anjo da Guarda”, de Rossini Pinto. Mas, se engana quem pensa
que ela era uma estreante. Com os irmãos Bill e Wanderte já eram bem
conhecidos como “artistas mirins” e era uma veterana dos programas
infantis de Paulo Gracindo, ganhando muitas vez “A mais bela voz
infantil”. Ousada, incluiu duas faixas em inglês, até pra dizer que ela,
com aquela idade, já tinha sido cronner de uma grande orquestra, usava
pesada maquiagem pra parecer mais velha, empostava a voz e cantava de
tudo, desde “Violetas Imperiais”, até “Cuando calienta el sol”.
Daí em diante tudo que gravava era sucesso e várias faixas de um mesmo
disco, ao contrário de hoje, que tem a música de trabalho, faziam
sucesso do norte a sul do Brasil. Os “brotos” e “gatinhas” todas queriam
ser iguais a Wanderléa e tudo que ela usava no domingo no Teatro da Tv
Record, na Rua da Consolação, em São Paulo, virava moda na
segunda-feira. Eles inventaram a juventude, pelo menos naqueles moldes
que não existia até então. O início do rock no Brasil, no final dos anos
50, com Celly e Tony Campelo era bem mais comportado.
Em 1965 foi
escolhida para comandar junto com Roberto e Erasmo Carlos, o maior
movimento musical de massa da história do país, a Jovem Guarda, em pleno
chumbo grosso da Ditadura Militar e que atingiu todas as classes
sociais. Ninguém desligava a televisão nas tardes de domingo pra ver
aqueles jovens cabeludos e a mini saía das cantoras da juventude.
Chamados de alienados pela esquerda, a revolução desses jovens foi
comportamental e dentro da própria casa. Mudaram o modo de vestir e
pensar da juventude da época e abriram caminho pra tudo que vinha
depois, inclusive o uso de guitarras elétricas na MPB. Tudo que veio
depois era consequência daquela revolução musical.
Com o fim da
“Jovem Guarda” ficaram meio perdidos, mas Wanderléa prova mais uma vez
que o “Van” do começo do seu nome, também continuava sendo a “vanguarda
da música” e se reinventa nas ondas dos anos 70, emplacando vários
sucessos e gravando todos os compositores que vieram pós jovem-guarda,
nos anos 70 e 80, como os malditos Raul Seixas, Walter Franco, Jorge
Mautner, Luiz Melodia, Zé Ramalho e ganhou músicas de Caetano Veloso,
Gilberto Gil, Sueli Costa, Egberto Gismonti, Gonzaguinha, Rosinha de
Valença... grava Carmen Miranda até antes da Tropicália e vira sucesso
de todos os carnavais com “Chuva, Suor e Cerveja” também de Caetano
Veloso, ganhando muitos afagos da crítica. Revisita as cantoras do
rádio como Emilinha Borba, Elizeth, Ademilde Fonseca e Dolores Duran,
sendo convidada para vários projetos como homenagens à Adoniran Barbosa,
Luiz Gonzaga, Simonal e Dolores Duran, além de projetos com canções
infantis.
Fez shows antológicos como “Wanderléa Maravilhosa” e
“Feito Gente”, ambos revisitados recentemente na Virada Cultural de São
Paulo. Fez cinema e o seu filme “Juventude e Ternura”, com Anselmo
Duarte bateu todos os recordes de bilheteria em 1968, além de “O
Diamante Cor de Rosa”, com Roberto e Erasmo Carlos. Em 2009, grava o CD e
DVD “Nova Estação” que mereceu o premio do melhor disco de música
popular brasileira da Associação dos Críticos de São Paulo, sendo
indicado para o Grammy Latino.
Enfrentou muitas barras da vida
pessoal, mas sobrevive e descobre que a música é sua energia e segue
como uma das artistas mais prestigiadas do rock tupiniquim e da música
brasileira. Há décadas ela não saí da moda, levando multidões, de todas
as faixas de idade, aos seus shows e que cantam todos os seus sucessos.
Hoje, Wanderléa completa 70 anos e oficialmente 53 anos de carreira.
Mas, continua esbanjando beleza, carisma, sensualidade e talento. Ela
diz que pensava que com essa idade estaria em casa “fazendo tricot”, mas
nada disso. Prepara sua biografia e o lançamento de um disco com
músicas de Sueli Costa, resultado de show realizado o ano passado, em
Belo Horizonte.
Mas, esse sucesso não roubou a sua simplicidade e
carinho que tem com todos. E sua vida parece confirmar a letra da
canção que Gonzaguinha fez pra ela:
Eu apenas queria que você soubesse
que aquela alegria ainda está comigo
e que a minha ternura não ficou na estrada
não ficou no tempo, presa na poeira
eu apenas queria que você soubesse
que esta menina hoje é uma mulher
e que esta mulher é uma menina
que colheu seu fruto, flor do seu caminho
eu apenas queria dizer
a todo mundo que me gosta
que, hoje, eu me gosto muito mais
porque me entendo muito mais também
e que a atitude de recomeçar
é todo dia, toda hora
é se respeitar na sua força e fé
é se olhar bem fundo até o dedão do pé
eu apenas queria que você soubesse
que essa criança brinca nesta roda
e não teme o corte das novas feridas
pois tem a saúde que aprendeu com a vida
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