DA
SÚPLICA E DO PERDÃO
Ciro José Tavares.
...Agora
voltas entardecida, triste e pedes
meu colo e meus abraços para amainar as tempestades
que o tempo fez desabar
sobre teu solitário coração.
Não te lembras da fuga do passado,
ao crepúsculo, o mar
quase a molhar os nossos
pés. Partiste sem olhar-me, silenciosa, fria como à tarde que morria, sem um
gesto qualquer, pelo menos
a palavra adeus na despedida.
Eu fiquei como se fosse um
corpo estranho perdido no espaço,
fixado na lentidão dos
passos no afastamento sem explicações.
Agora voltas, restos
sombrios de mulher. Nada de antigamente,
quando eras pura, virgem, bela,
luz dos meus caminhos.
Chegas lacrimosa, voz
claudicante num tardio pedido de perdão,
ao confessar inquietante que
mataste todos os teus sonhos.
Quanto a mim o tempo
abrandou o coração renovando a vida.
Sigo sonhador, escrevo
versos, vagamundo a procurar nas noites
ouvir o canto do menestrel
perdido sob raios de luas fictícias.
Devolvo-te a súplica. Guardo
bem guardado dentro do meu peito
o dever cristão de perdoar.
É o que queres? Então é o que faço.
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