domingo, 26 de junho de 2016


DA SÚPLICA E DO PERDÃO
         Ciro José Tavares.

...Agora voltas entardecida, triste e pedes
meu colo e meus  abraços para amainar as tempestades
que o tempo fez desabar sobre teu solitário coração.
Não te lembras da fuga do passado, ao crepúsculo, o mar
quase a molhar os nossos pés. Partiste sem olhar-me, silenciosa, fria como à tarde que morria, sem um gesto qualquer, pelo menos
a palavra  adeus na despedida.
Eu fiquei como se fosse um corpo estranho perdido no espaço,
fixado na lentidão dos passos no afastamento sem explicações.
Agora voltas, restos sombrios de mulher. Nada de antigamente,
quando eras pura, virgem, bela, luz dos meus caminhos.
Chegas lacrimosa, voz claudicante num tardio pedido de perdão,
ao confessar inquietante que mataste todos os teus sonhos.
Quanto a mim o tempo abrandou o coração renovando a vida.
Sigo sonhador, escrevo versos, vagamundo a procurar nas noites
ouvir o canto do menestrel perdido sob raios de luas fictícias.
Devolvo-te a súplica. Guardo bem guardado dentro do meu peito

o dever cristão de perdoar. É o que queres? Então é o que faço. 

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