CUIDADO PARA NÃO QUEBRAR O VASO
Valério Mesquita*
Nada está seguro. Nem o
calendário do pagamento dos servidores estaduais nem a população de modo geral.
E o Fundo Previdenciário dos Aposentados já era. No território oficial do
Centro Administrativo arrombaram duas vezes o prédio da Secretaria de Justiça.
Mistério: por que lá duas vezes? No final da semana passada explodiram o caixa
eletrônico situado na Emater, lá dentro e nas barbas da segurança.
Os índices de
criminalidade colocam o Rio Grande do Norte na quarta colocação das fases
eliminatórias dos cinco estados já classificados. Mudanças na cúpula da
segurança foram implementadas. Mas a pergunta que não quer calar vem da Colômbia.
De Cali e Medelín, para onde o
governador e auxiliares viajaram há pouco tempo. Foram a fim de absorverem,
captarem, aprenderem e aplicarem na terra dos Reis Magos novas técnicas, estratégias
contra homicídios, assaltos, tráfico de drogas e outros balacubacos. Com
certeza, alguns inspirados tecnocratas, com passagens por potencias latinas
acharam Natal muito semelhante a Medelín e Cali, capitais dos cartéis e dos
cartolas do comércio mundial de entorpecentes. Essas duas metrópoles, por
acaso, não receberam dos ianques a ciência e o treinamento contra essas
mazelas? Talvez, irem lá nos States o aprendizado não seria mais original e
eficaz?
Outro vale tenebroso,
refúgio das dores de cabeça governamental reside nos hospitais. A rede oficial
vai de mal a pior, sem falar nas pestes perniciosas dos insetos que andam na
escuridão.
Na saúde, a exoneração
do secretário Lagreca foi um tropeço. Nele repousava a credibilidade da
sociedade. Nem o muito que fez no pouco tempo que passou houve reconhecimento.
Numa hora dessa não pode existir soberba nem julgamento injusto. Com a sua
saída remanescem problemas insolúveis em toda parte. Em Macaíba, por exemplo, o
hospital regional Alfredo Mesquita Filho funciona apenas com trinta por cento
de sua capacidade. Lá, no município, não se realiza parto na rede pública. Não
nasce ninguém, em outras palavras. Parnamirim, Natal e São Gonçalo do Amarante
hospedam a paciente e o nascituro. E Macaíba sepulta a cidadania. Essa situação
perdura há quase dois anos e tem sido abastecida com as “promessas que enriqueceram São Severino dos Ramos”. Virou folclore.
Os senhores deputados estaduais e federais mais sufragados em Macaíba devem
voltar as suas atenções para essas e outras aflições que o povo reclama e pede
pressa.
É consabido a situação
econômica que afeta o tesouro, fruto do tamanho da máquina estatal. Verdadeiro
Leviatã, monstro devorador sobre o qual imaginou e descreveu o filósofo Thomas
Hobbes. As minhas observações são para o registro iterativo na crônica dos
tempos pois já fui do parlamento estadual. Não são críticas. São testemunhos da
minha experiência política de quarenta anos, agora no exercício não remunerado
da cidadania. Isso me apraz. Nada tenho contra as autoridades e nem me devem
coisa nenhuma. Principalmente os políticos, são felizes aqueles que sabem ouvir
com temperança as suas falhas e lacunas, pois somente assim saberão
corrigi-las, dentro dos limites. Acredito no futuro do Estado. Ele sairá da
situação difícil em que se encontra sem impor mordaças as opiniões divergentes
nem calando a imprensa. Sócrates, naquele tempo, já advertia “que sem o pudor do mal e do rancor, nenhum
governante poderá edificar obras grandes e perenes para o seu povo”.
(*) Escritor.
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