domingo, 22 de maio de 2016


CUIDADO PARA NÃO QUEBRAR O VASO

Valério Mesquita*

Nada está seguro. Nem o calendário do pagamento dos servidores estaduais nem a população de modo geral. E o Fundo Previdenciário dos Aposentados já era. No território oficial do Centro Administrativo arrombaram duas vezes o prédio da Secretaria de Justiça. Mistério: por que lá duas vezes? No final da semana passada explodiram o caixa eletrônico situado na Emater, lá dentro e nas barbas da segurança.
Os índices de criminalidade colocam o Rio Grande do Norte na quarta colocação das fases eliminatórias dos cinco estados já classificados. Mudanças na cúpula da segurança foram implementadas. Mas a pergunta que não quer calar vem da Colômbia. De Cali e Medelín, para  onde o governador e auxiliares viajaram há pouco tempo. Foram a fim de absorverem, captarem, aprenderem e aplicarem na terra dos Reis Magos novas técnicas, estratégias contra homicídios, assaltos, tráfico de drogas e outros balacubacos. Com certeza, alguns inspirados tecnocratas, com passagens por potencias latinas acharam Natal muito semelhante a Medelín e Cali, capitais dos cartéis e dos cartolas do comércio mundial de entorpecentes. Essas duas metrópoles, por acaso, não receberam dos ianques a ciência e o treinamento contra essas mazelas? Talvez, irem lá nos States o aprendizado não seria mais original e eficaz?
Outro vale tenebroso, refúgio das dores de cabeça governamental reside nos hospitais. A rede oficial vai de mal a pior, sem falar nas pestes perniciosas dos insetos que andam na escuridão.
Na saúde, a exoneração do secretário Lagreca foi um tropeço. Nele repousava a credibilidade da sociedade. Nem o muito que fez no pouco tempo que passou houve reconhecimento. Numa hora dessa não pode existir soberba nem julgamento injusto. Com a sua saída remanescem problemas insolúveis em toda parte. Em Macaíba, por exemplo, o hospital regional Alfredo Mesquita Filho funciona apenas com trinta por cento de sua capacidade. Lá, no município, não se realiza parto na rede pública. Não nasce ninguém, em outras palavras. Parnamirim, Natal e São Gonçalo do Amarante hospedam a paciente e o nascituro. E Macaíba sepulta a cidadania. Essa situação perdura há quase dois anos e tem sido abastecida com as “promessas que enriqueceram São Severino dos Ramos”. Virou folclore. Os senhores deputados estaduais e federais mais sufragados em Macaíba devem voltar as suas atenções para essas e outras aflições que o povo reclama e pede pressa.
É consabido a situação econômica que afeta o tesouro, fruto do tamanho da máquina estatal. Verdadeiro Leviatã, monstro devorador sobre o qual imaginou e descreveu o filósofo Thomas Hobbes. As minhas observações são para o registro iterativo na crônica dos tempos pois já fui do parlamento estadual. Não são críticas. São testemunhos da minha experiência política de quarenta anos, agora no exercício não remunerado da cidadania. Isso me apraz. Nada tenho contra as autoridades e nem me devem coisa nenhuma. Principalmente os políticos, são felizes aqueles que sabem ouvir com temperança as suas falhas e lacunas, pois somente assim saberão corrigi-las, dentro dos limites. Acredito no futuro do Estado. Ele sairá da situação difícil em que se encontra sem impor mordaças as opiniões divergentes nem calando a imprensa. Sócrates, naquele tempo, já advertia “que sem o pudor do mal e do rancor, nenhum governante poderá edificar obras grandes e perenes para o seu povo”.


(*) Escritor. 

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