sexta-feira, 29 de maio de 2015


 

 
   
Luciano Ramos

 
À espera de um cruzeiro (?!)

Luciano Ramos
Procurador-Geral do Ministério Público de Contas do RN (de férias, por coincidência)

“Quando a gente acha que tem todas as respostas, vem a vida e muda todas as perguntas!” (Luís Fernando Veríssimo)

Se houvesse que me definir, curioso e questionador serias as palavras. Junte-se uma pitada de cartesianismo, e tem-se uma necessidade quase que fisiológica de entender o porquê das coisas. Ainda mais quando a lógica briga com os argumentos. Assim, invariavelmente, estamos em meio a mares pouco conhecidos, sobre águas profundas e turvas à compreensão.

Com este prenúncio, este artigo viajará a partir do seguinte roteiro: iniciaremos com os fatos inquestionáveis rumo aos não tão evidentes, com escalas nos prováveis. Assim, esperamos encontrar um porto seguro ao final desta jornada. Inegavelmente, Natal e o Rio Grande do Norte não só optaram, mas também anseiam em ser cada vez mais destinos turísticos relevantes. Para tanto, temos vocação natural e há uma percepção difundida no inconsciente coletivo de serem muito maiores os benefícios do que os custos inerentes a esta escolha.

Partindo daí, várias políticas públicas são explicadas, desde os esforços para trazer a Copa do Mundo de futebol, até os gastos com o aeroporto e com o terminal de passageiros do porto de Natal – estes últimos gastos federais, registre-se, o que me isenta do dever profissional de fiscalizá-los, limitado que sou às contas estaduais e municipais.

E seguimos a destacar nossa posição geográfica mais próxima da Europa, de modo a atrairmos investidores interessados em explorar os potenciais do nosso aeroporto. Mas o que vale para o ar, também vale para o mar, pois, nesta escala, a distância não varia significativamente em função do meio de deslocamento.

Então, qual o motivo das vozes que se levantam contra o engajamento do estado no roteiro dos badalados cruzeiros? Uma das respostas é que a oposição não é a todo e qualquer navio que queira aqui aportar, visto recebermos de braços abertos os provenientes do exterior. Os punhos se fecham apenas para a demanda interna.

Ocorre que esta posição entra em contradição com outro argumento lançado contra este meio de transporte. Dizem: o custo de adequação para possibilitar a vinda dos navios de grande porte não compensaria. Mas os investimentos feitos para atrair os cruzeiros internacionais não seriam aproveitados pelos cruzeiros nacionais? Aumentar a demanda não é a melhor forma de ter retorno do investimento?

Além disso, por mais que desejemos, Natal está longe de ser a principal porta de entrada do país, com destaques para Rio de Janeiro e Bahia, sem contar o grande fluxo de turistas estrangeiros para a Amazônia.

Não há entre eles interessados em fazer um cruzeiro para conhecer o litoral do Nordeste? E passear entre Natal e Fernando de Noronha de navio? Os amantes da natureza só querem conhecer a Amazônia? E a Mata Atlântica?

Responde-se: os turistas que chegam de avião ficam mais dias na cidade e consomem mais produtos e serviços locais. Porém, atraem-se ainda mais perguntas: Não há meios de estimular que o turista permaneça mais tempo no estado, convidando-o a conhecer as belezas de Pipa, Genipabu ou São Miguel do Gostoso? Quem conhece a cidade de navio, e gosta, não tende a ela retornar ou estimular que outros o façam?

E tudo isso calcado em uma lógica de difícil compreensão. Ela parte do pressuposto de que os turistas virão para cá, qualquer que seja a opção de deslocamento à sua disposição.

Certamente, há os que querem fazer um cruzeiro e escolhem o destino de acordo com as ofertas que se encaixam nesta vontade. E, até que se prove o contrário, este é o perfil majoritário de quem demanda tais serviços.

E assim poderíamos seguir em uma volta ao mundo a bordo de mais e mais perguntas, com respostas quase que evidentes. Para contrastá-las, só expondo minuciosamente todos os pontos presentes no radar, do contrário, acabaremos batendo em um iceberg criado por nós mesmos.

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