“CAMPOS DA PAZ
PARTIU” - Um Homem e seu Legado.
Geniberto Paiva Campos * - Brasília, janeiro, 2015
No final da tarde deste domingo, 25 de janeiro de 2015, a voz amiga do Josué Fermon soa
estranha ao telefone, ao afirmar,
pesaroso: - “Campos da Paz partiu”.
Para todos nós, médicos, enfermeiras, fisioterapeutas,
assistentes sociais, psicólogos, engenheiros, pessoal de apoio administrativo e
outros profissionais que participaram do projeto SARAH - a
marca na qual o Centro de Reabilitação Sarah Kubitschek se transformou - foi uma perda sensível.
Talvez porque já estivéssemos acostumados aos dribles que o
Campos, ou o Aloysio, dependendo do grau de aproximação com ele vinha dando já há alguns anos, com êxito evidente, em sua
doença.
E repito, foi uma perda sensível. Para os que o admiravam de
forma incondicional. Ou criticamente. Ou que não guardavam sentimentos
positivos pelo que ele representava. Como médico, administrador público ou
colega de profissão.
E Aloysio Campos da Paz Júnior foi um grande homem. E é como
tal deveria ser julgado. São entes que fazem parte de uma categoria especial.
Obsessivos, intransigentes, injustos. Por
vezes paranoicos. Sempre obstinados. Focados exclusivamente na construção de uma
obra que ao longo do tempo vai se tornando a razão de ser da sua vida e do seu
trabalho incansável. Uma missão. A
motivação da sua existência. Que nunca imagina efêmera. Como a de todos os humanos.
Não sabemos se exatamente a razão cínica afirmou definitiva
: “ nenhum grande homem é um bom sujeito”. Campos foi uma prova eloquente desse
aforisma.
E para estes, talvez o mais correto, o mais justo, seria
julgar a Obra que construiu e não o Homem, este ser imperfeito, “uma mistura de
argila e de sonho”, como falou o poeta.
Respeitando todos os controversos sentimentos despertados
pela figura pública do Dr. Campos da Paz, talvez sejamos obrigados a reconhecer
o que este médico ortopedista conseguiu construir – em meio a erros e acertos –
numa área tão sensível e tão ingrata e desafiadora como a Saúde Pública
brasileira.
Está aí a “REDE SARAH”, fruto do esforço de tantos de nós,
dos mais importantes aos mais humildes e anônimos colaboradores, guiados pela liderança
obstinada desse médico diferente.
O qual bem cedo percebeu que somente obteria
êxito em seu trabalho através da criação
de estruturas distantes da ortodoxia formal do Estado brasileiro. Daí a Fundação das Pioneiras Sociais, depois
Associação das Pioneiras Sociais. Talvez seja esta a grande lição que lega aos
brasileiros que – ainda – sonham com instituições públicas funcionais,
eficientes. Voltadas, primordialmente, para os que necessitam dos serviços
públicos para atender às suas necessidade e
carências na área da saúde. Cidadãos que, parece, somente
existem nos textos constitucionais.
Este, sem dúvida o seu mais importante legado. E a sua
obra. A Rede Sarah. Testemunho de uma
sagrada obstinação.
Descansa em Paz, Aloysio.
*Geniberto
Paiva Campos é médico – trabalhou no Sarah na década de 1980.
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