sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

GC



“CAMPOS DA  PAZ PARTIU”  -  Um Homem e seu Legado.
Geniberto Paiva Campos * - Brasília, janeiro, 2015


No final da tarde deste domingo, 25 de janeiro  de 2015, a voz amiga do Josué Fermon soa estranha ao telefone,  ao afirmar, pesaroso:   - “Campos da Paz partiu”.

Para todos nós, médicos, enfermeiras, fisioterapeutas, assistentes sociais, psicólogos, engenheiros, pessoal de apoio administrativo e outros profissionais que participaram do projeto SARAH  -  a marca na qual o Centro de Reabilitação Sarah Kubitschek se transformou -  foi uma perda sensível.

Talvez porque já estivéssemos acostumados aos dribles que o Campos, ou o Aloysio, dependendo do grau de aproximação com ele vinha dando  já há alguns anos, com êxito evidente, em sua doença.

E repito, foi uma perda sensível. Para os que o admiravam de forma incondicional. Ou criticamente. Ou que não guardavam sentimentos positivos pelo que ele representava. Como médico, administrador público ou colega de profissão.

E Aloysio Campos da Paz Júnior foi um grande homem. E é como tal deveria ser julgado. São entes que fazem parte de uma categoria especial. Obsessivos, intransigentes, injustos.  Por vezes paranoicos. Sempre obstinados.  Focados exclusivamente na construção de uma obra que ao longo do tempo vai se tornando a razão de ser da sua vida e do seu trabalho incansável. Uma missão.  A motivação da sua existência. Que nunca imagina efêmera. Como a de todos os humanos.

Não sabemos se exatamente a razão cínica afirmou definitiva : “ nenhum grande homem é um bom sujeito”. Campos foi uma prova eloquente desse aforisma.

E para estes, talvez o mais correto, o mais justo, seria julgar a Obra que construiu e não o Homem, este ser imperfeito, “uma mistura de argila e de sonho”, como falou o poeta.

Respeitando todos os controversos sentimentos despertados pela figura pública do Dr. Campos da Paz, talvez sejamos obrigados a reconhecer o que este médico ortopedista conseguiu construir – em meio a erros e acertos – numa área tão sensível e tão ingrata e desafiadora como a Saúde Pública brasileira.

Está aí a “REDE SARAH”, fruto do esforço de tantos de nós, dos mais importantes aos mais humildes e anônimos  colaboradores, guiados pela liderança obstinada desse médico diferente.

 O  qual bem cedo percebeu que somente obteria êxito em seu trabalho através da criação  de estruturas distantes da ortodoxia formal do Estado brasileiro.  Daí a Fundação das Pioneiras Sociais, depois Associação das Pioneiras Sociais. Talvez seja esta a grande lição que lega aos brasileiros que – ainda – sonham com instituições públicas funcionais, eficientes. Voltadas, primordialmente, para os que necessitam dos serviços públicos para atender às suas necessidade e carências  na  área da saúde. Cidadãos que, parece, somente existem nos textos constitucionais.

Este, sem dúvida o seu mais importante legado. E a sua obra.  A Rede Sarah. Testemunho de uma sagrada obstinação.

Descansa em Paz, Aloysio.


*Geniberto Paiva Campos é médico – trabalhou no Sarah na década de 1980.

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