Administração não rima com emoção
Tomislav R. Femenick – Contador, Mestre em Economia e sócio do IHGRN.
No início dos
anos 1970 tomei conhecimento de um dos grandes livros escritos no século XX e
que bem retrata a alma do povo brasileiro. Trata-se de “Tristes Trópicos”, do
pesquisador francês Claude Lévi-Strauss, que é considerado
o pai da antropologia moderna. É um relato de suas viagens pelo
interior do Brasil, realizadas nos anos 1930, quando o jovem professor veio ao
nosso país para lecionar na recém-criada Universidade de São Paulo. O livro, em
edição francesa, estava sendo lido pelo meu padrasto, Xavier Vieira, um poliglota,
jurista, matemático, filósofo, teólogo e poeta, uma das maiores culturas que conheci,
porém acomodado em um alto cargo do Banco do Brasil, na capital paulista.
Mas
o que importa é o livro e voltemos a ele. Na sua obra, por vias indiretas Lévi-Strauss
descreve a alma do nosso povo. Seriamos uma nação ciclotímica, ao mesmo tempo
triste e alegre, cordata e que se envolver em disputa; um padrão de
personalidade caracterizado por períodos de excitação e euforia, que se alternam
com tristeza e inatividade.
Esse
grande livro veio-me a mente quando recentemente me detive sobre a maneira como
os homens públicos e os executivos da iniciativa privada dirigem o país: com a emoção
e não com a razão. Essa maneira de ser de nós brasileiros nos mais das vezes
nos leva a situações de desconforto, se não desastradas. A nossa história
recente está cheia de exemplos: o golpe de 1964 foi consequência de um
movimento para garantir a democracia e terminou em uma ditadura, a eleição de
Collor foi contra os marajás e derivou para o esquema de P. C. Farias, a CPI da
Petrobras foi instituída para evidenciar os escândalos na estatal e culminou na
inocência de todo mundo, o iluminado Eike Batista era na verdade um tremendo
apagão, a presidente da República trata seus ministros e outros altos escalões
do governo como se fossem seus capatazes – e elegem os que ela gosta e os que deles
desgosta. Exemplos desse nosso procedimento errático há muitos.
O
pior de tudo é quando esse estado de coisa impera na iniciativa privada. Muitos
dirigentes de empresas tratam suas organizações como se fossem feudos. Sua
maneira de se relacionar com os outros executivos e empregados são como se eles
fossem simples agregados à sua Casa Grande, numa atitudes de prepotência, desrespeito
e arrogância que espalha clima de medo e receio de perda de cargo ou de
emprego. Esse tipo de liderança é o mais deletério que se pode ter no cenário empresarial,
pois inibe o poder criativo que todas as pessoas têm e, sem criatividade, a
empresa estagna no tempo, na sua qualidade e no seu poder de competitividade,
dando vez a que os concorrentes ocupem todo o mercado.
Porém
não se deve confundir as coisas. Os dirigentes empresariais devem sim tomar
atitudes firmes na condução de seus negócios. Cobrar desempenho, cumprimento de
metas em prazos certo; cobrar resultados. Ai é que está o problema: a maneira
de agir é que faz a diferença. Como fazer as cobranças, como impor os
procedimentos corretos sem incorrer no erro da impropriedade?
A
meta principal de toda organização mercantil é ser economicamente produtiva,
moderna e socialmente viável. As pressões são necessárias para se atingir esse
alvo, porém as empresas “são construídas com base na confiança, que, por sua
vez, é construída com base na comunicação e na compreensão mútua”, como diz Peter
Drucker, um dos papas da moderna administração de empresas.
Como
compreensão mútua não se consegue na base do grito, há que se administrar com a
razão e não com a emoção.
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