segunda-feira, 3 de novembro de 2014



O amargo sabor do preço da festa

Tomislav R. Femenick – Contador, Mestre em Economia e Historiador.

 
Não resta a menor dúvida, o Brasil deu uma maravilhosa demonstração de cidadania e comportamento democrático no domingo passado, com a finalização do processo eleitoral quando reelegeu Dilma Rousseff. Bonito, foi ou não foi? Concordem comigo, que nem nela votei. E tem mais: menos de quatro horas depois de encerradas as votações, já tínhamos o resultado. Tudo computadorizado, tudo on line. Mesmo com a ocorrência de alguns pormenores desagradáveis, foi bonito sim.
Embora sendo o melhor dos regimes – pois outro melhor não existe –, a democracia tem seus problemas e um deles é o custo oculto das eleições. Não estou falando das maracutaias, dos caixas dois, dos desvios de recursos públicos etc. e tal. Estou falando do represamento de medidas e noticias que foram gardadas para depois das eleições; o preço da festa.
O IBGE-Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e o IPEA-Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada há meses que deixaram de divulgar dados essenciais para os negócios e administração do país, porque eles apontavam para situações que poderiam influenciar nas eleições, contra o governo. Agora esses dados estão saindo e juntam-se a outros que saem de outras fontes. E que dados são esses? Qual o preço da festa da democracia verde e amarela? Vejamos alguns deles.
Em setembro passado a dívida do governo federal (a chamada dívida pública federal) atingiu o valor de R$ 2,183 trilhões. Foi uma alta de 0,65%, em relação ao mês anterior quando estava em R$ 2,169 trilhões. Considerando que no final de agosto o Brasil tinha uma população estimada em 202,7 milhões, temos que cada brasileiro deve R$ 9.922,73, sem contar suas dívidas pessoais e mais as dividas dos governos estaduais e municipais.
Outro problema é o fantasma da inflação, que em outubro marcou presença. Na terceira prévia do mês, um dos índices que mede a oscilação dos preços, o IPC-Fipe cresceu 0,34%, porém os alimentos, que atingem mais o bolso dos mais pobres, subiram 1,08%. Isso quer dizer que a meta da inflação controlada pelo Banco Central está indo para o brejo.
Um dos melhores indicadores do comportamento da economia é a forma como as empresas estão pagando suas contas. Se as empresas estão adimplentes (pagando em dia), quer dizer que tudo vai bem, pois elas estão vendendo e recebendo em dia, assim podendo também liquidar seus débitos no vencimento. O contrario também é verdadeiro. Se estiverem inadimplentes é porque não estão vendendo e/ou não estão recebendo seus creditos. Pois bem, o índice da Serasa-Experian de inadimplência das empresas subiu 13,4% em setembro, comparando-se com mesmo mês do ano passado. Foi a maior das altas recentes.
Mas o assunto mais intricado é a Petrobras. Não estou falando em desvios de recursos ou algo semelhante. Não é que a Moody's, uma agência de classificação de risco, rebaixou o rating da Petrobras e, bem pior ainda, manteve perspectiva negativa em relação a estatal, em função do seu alto endividamento. Tudo mundo sabe que o governo represou os preços dos derivados de petróleo como forma de tentar controlar a inflação. O resultado é que a Petrobras está descapitalizada e é dona de uma das maiores dívidas do mundo, se não a maior. Para amenizar esse estado de descontrole gerencial, nos próximos dias ou meses o governo fará um reajuste nos preços dos combustíveis em patamar não muito alto. Porém essa alta será seguida de outras, até que a situação se equaliza.
Dentro desse pacote de atos pós-eleição o Banco Central surpreende mercado e elevou taxa de juros para 11,25% ao ano.
Mas há notícias que podem ser boas: dizem que o governo pretende substituir os ministros da Fazenda, Desenvolvimento e Planejamento. Depende dos novos nomes.

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