O amargo sabor do preço da festa
Tomislav R. Femenick – Contador, Mestre em Economia e
Historiador.
Não resta a menor dúvida, o
Brasil deu uma maravilhosa demonstração de cidadania e comportamento
democrático no domingo passado, com a finalização do processo eleitoral quando
reelegeu Dilma Rousseff. Bonito, foi ou
não foi? Concordem comigo, que nem nela votei. E tem mais: menos de quatro
horas depois de encerradas as votações, já tínhamos o resultado. Tudo
computadorizado, tudo on line. Mesmo com a ocorrência de alguns pormenores
desagradáveis, foi bonito sim.
Embora sendo o melhor dos
regimes – pois outro melhor não existe –, a democracia tem seus problemas e um
deles é o custo oculto das eleições. Não estou falando das maracutaias, dos
caixas dois, dos desvios de recursos públicos etc. e tal. Estou falando do
represamento de medidas e noticias que foram gardadas para depois das eleições;
o preço da festa.
O IBGE-Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística e o IPEA-Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada há
meses que deixaram de divulgar dados essenciais para os negócios e
administração do país, porque eles apontavam para situações que poderiam
influenciar nas eleições, contra o governo. Agora esses dados estão saindo e
juntam-se a outros que saem de outras fontes. E que dados são esses? Qual o
preço da festa da democracia verde e amarela? Vejamos alguns deles.
Em setembro passado a dívida do
governo federal (a chamada dívida pública federal) atingiu o valor de R$ 2,183
trilhões. Foi uma alta de 0,65%, em relação ao mês anterior quando estava em R$
2,169 trilhões. Considerando que no final de agosto o Brasil tinha uma
população estimada em 202,7 milhões, temos que cada brasileiro deve R$
9.922,73, sem contar suas dívidas pessoais e mais as dividas dos governos
estaduais e municipais.
Outro problema é o fantasma da
inflação, que em outubro marcou presença. Na terceira prévia do mês, um dos
índices que mede a oscilação dos preços, o IPC-Fipe cresceu 0,34%, porém os
alimentos, que atingem mais o bolso dos mais pobres, subiram 1,08%. Isso quer
dizer que a meta da inflação controlada pelo Banco Central está indo para o
brejo.
Um dos melhores indicadores do
comportamento da economia é a forma como as empresas estão pagando suas contas.
Se as empresas estão adimplentes (pagando em dia), quer dizer que tudo vai bem,
pois elas estão vendendo e recebendo em dia, assim podendo também liquidar seus
débitos no vencimento. O contrario também é verdadeiro. Se estiverem
inadimplentes é porque não estão vendendo e/ou não estão recebendo seus
creditos. Pois bem, o índice da Serasa-Experian de inadimplência das empresas
subiu 13,4% em setembro, comparando-se com mesmo mês do ano passado. Foi a maior
das altas recentes.
Mas o assunto mais intricado é a
Petrobras. Não estou falando em desvios de recursos ou algo semelhante. Não é
que a Moody's, uma agência de classificação de risco, rebaixou o rating da
Petrobras e, bem pior ainda, manteve perspectiva negativa em relação a
estatal, em função do seu alto endividamento. Tudo mundo sabe que o governo
represou os preços dos derivados de petróleo como forma de tentar controlar a
inflação. O resultado é que a Petrobras está descapitalizada e é dona de uma
das maiores dívidas do mundo, se não a maior. Para amenizar esse estado de
descontrole gerencial, nos próximos dias ou meses o governo fará um reajuste
nos preços dos combustíveis em patamar não muito alto. Porém essa alta será
seguida de outras, até que a situação se equaliza.
Dentro desse
pacote de atos pós-eleição o Banco Central surpreende
mercado e elevou taxa de juros para 11,25% ao ano.
Mas há notícias que podem ser
boas: dizem que o governo pretende substituir os ministros da Fazenda,
Desenvolvimento e Planejamento. Depende dos novos nomes.
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