Dilema bipolar: candidata ou presidente
Uma pergunta que ultimamente me tenho feito é esta:
quem vai governar o
Brasil nos próximos meses? A Dilma que na campanha
política prometeu
mundos e fundos de bondades ou a presidente que herda
dela mesmo um
país com a economia em frangalhos? Sim, porque o
panorama não está
nada bom e desta vez a herança é maldita mesmo.
Teremos a doçura da
Branca de Neve ou a carga de maldades da bruxa, sua
madrasta? Vamos
começar pela trindade cujos preços foram represados no
período
pré-eleitoral: juros, derivados de petróleo e energia
elétrica. Os juros já
subiram, o aumento do preço da energia (em torno de
20%) já foi
autorizado para o Rio de Janeiro e outros Estados e
logo-logo atingirá
todo o país e, finalmente, o aumento do preço da
gasolina e do diesel já
foi autorizado. Tudo isso leva ao crescimento dos
custos de produção na agricultura, na indústria e no comércio que, fatalmente,
serão repassados
aos consumidores. O resultado será uma inflação muito
maior que a
anunciada pelo governo. E quem vai pagar o pato é o
povo. Mais há
outras nuvens negras no horizonte. As contas do
governo federal estão no vermelho. De janeiro a setembro a diferença acumulada
entre o total da arrecadação e os gastos ficou negativa em R$ 15,7 bilhões, o
pior rombo
da história recente da República. Para cobri-lo o
governo Dilma terá que
aumentar o endividamento público, tomando dinheiro no
mercado
financeiro, forçando novas altas dos juros, o que
provocará mais inflação.
A outras opção seria recorrer às reservas
internacionais. Mas ai também há problemas. Em outubro a balança comercial
(exportações menos
importações) apresentou o pior resultado desde 1998, o
que elevou o
saldo negativo acumulado no ano para US$ 1,871 bilhão.
Uma
característica do governo federal tem sido recorrer a
métodos não
ortodoxos para registrar suas contas, inventando uma
“contabilidade
criativa” que esconde os resultados que não lhes sejam
favoráveis. Mas,
contra a realidade, não há criatividade que resista
por muito tempo.
Fora dos palanques de reeleição, a presidente Dilma
terá que tomar medidas amargas se não quiser que sua gestão desande de vez.
Certamente não é por vontade própria da “gerente competente” que o retrato do
seu governo se
destaca por obras inacabadas, por promessas não
cumpridas: a construção
das hidroelétricas em passo de cágado, a transposição
do Rio São Francisco
e as construções de ferrovias desaceleradas, as
creches e as moradias
populares (ótimas iniciativas) em número bem menor do
que o prometido,
a revitalização da indústria naval abortada, por todo
o país há esqueletos
de obras inacabadas e o trem-bala morreu de morte
natural. Por essas e
outras é que o governo escondeu os dados do
IPEA-Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, órgão ligado à Secretaria de
Assuntos Estratégicos da Presidência da República, e só agora, passadas as
eleições, é que divulgou o aumento do numero de brasileiros em condições de
miséria. No ano passado existiam 10,08 milhões de miseráveis, 370 mil a mais
que no ano anterior.
Esses 10.080.000 de brasileiros são aqueles que ganham
até R$ 77,00 por mês. Divulgar esses fatos não é “canto de Cassandra”. É
alertar a sociedade para
o que pode acontecer. Leiam bem, “o que pode
acontecer”. Nós economistas
não temos bola de cristal e não tentamos fazer
adivinhações sobre o futuro.
Não acreditamos em leitura da sorte nas linhas das
mãos ou nas cartas de
tarô, não jogamos búzios e não somos profetas,
pitonisas ou adivinhos de
qualquer espécie. Nós apenas aprendemos a ler as
estatísticas e os indicadores
e a evidenciar vieses e tendências do comportamento
das organizações e da sociedade. Não temos culpa quando o céu está escuro e nem
temos o credito
pelas cores do arco-íris.
TOMISLAV R. FEMENICK – CONTADOR, MESTRE EM ECONOMIA E
HISTORIADOR.
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