UMA TRAGÉDIA URBANA
Geniberto Paiva
Campos - DF , junho 2014
O segundo dia do mês
de junho ficará marcado por um evento ao mesmo tempo trágico e simbólico. No Rio de Janeiro, início da tarde deste dia, um
Homem morreu dentro de um ônibus ,após um enfarte seguido de parada cardíaca.
Dizem que a morte de
um homem é uma tragédia, a morte de
centenas, uma estatística. Este Homem, premiado fotógrafo profissional, deixou
esposa e filhos e um legado artístico.
Ele fotografava a Natureza.
O lado simbólico da notícia do jornal: este cidadão carioca
começou a se sentir mal, com intensas
dores no peito, logo após entrar no coletivo, chamando atenção dos passageiros.
Como estava próximo de um hospital público, o Instituto de Cardiologia de
Laranjeiras, o condutor do veículo parou
em frente à portaria principal, na intenção de socorrer o Homem, que mostrava os sinais da gravidade da
sua situação. A porta do hospital, no entanto, não se abriu para socorrer o
paciente enfartado. A instituição estava em greve e, ademais, não dispunha de
serviço de emergência. Foi o que alegaram, negando o socorro.
Antes que o assunto caia no conveniente esquecimento, afinal, quem ainda se lembra da
morte estúpida do cinegrafista da TV Bandeirantes que documentava as manifestações
no centro do Rio? é necessário comentar
algo sobre o simbologia desta nova tragédia urbana.
UM HOMEM MORREU, SEM SOCORRO MÉDICO ESPECIALIZADO, DIANTE DE
UM HOSPITAL CARDIOLÓGICO, CUJA PORTA NÃO SE ABRIU PARA ACOLHER A SUA DOR NO PEITO. Que expressa, clinicamente, a
ocorrência de que algo
grave está acontecendo. Segundo registram
todos os manuais médicos.
Esta ocorrência –
omissão de socorro por um hospital público - sinaliza , ainda, algo muito
grave. Do ponto de vista do Homem enfartado. E do ponto de vista de um sistema
de saúde, no mínimo insensível à dor alheia. Que fecha suas portas, negando
atendimento para um cidadão que tem os cuidados da sua saúde assegurados na
Constituição.
O que ocorre com o nosso sistema de saúde? A tragédia da
morte deste cidadão brasileiro é, talvez, emblemática. Uma metáfora do
permanente descaso dos serviços públicos para com os “direitos de cidadania”.
Talvez, hoje, uma banal construção retórica. Ironicamente inserida na ““Constituição
Cidadã”. Nada mais.
Quem sabe, esteja chegando a hora de, finalmente, trazer ao
proscênio o cidadão usuário do sistema único de saúde. Fazê-lo acreditar nos
seus direitos. E no respeito que lhe é devido pelos prestadores de serviços
públicos. Que o seu adequado e competente atendimento –“integral”, conforme
assegura os mandamentos do SUS - não é um favor, uma espécie de caridade
atualizada, mas um DIREITO NATURAL, assegurado na Lei Maior do país.
Que a morte, talvez evitável, deste Homem não tenha sido em vão.
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