quinta-feira, 5 de junho de 2014


 
UMA TRAGÉDIA URBANA
Geniberto Paiva Campos   - DF , junho 2014
O  segundo dia do mês de junho ficará marcado por um evento ao mesmo tempo  trágico e simbólico. No  Rio de Janeiro, início da tarde deste dia, um Homem morreu dentro de um ônibus ,após um enfarte seguido de parada cardíaca.
 Dizem que a morte de um  homem é uma tragédia, a morte de centenas, uma estatística. Este Homem, premiado fotógrafo profissional, deixou esposa e filhos e  um legado artístico. Ele fotografava a Natureza.
O lado simbólico da notícia do jornal: este cidadão carioca começou a se sentir mal, com  intensas dores no peito, logo após entrar no coletivo, chamando atenção dos passageiros. Como estava próximo de um hospital público, o Instituto de Cardiologia de Laranjeiras, o  condutor do veículo parou em frente à portaria principal, na intenção de socorrer o  Homem, que mostrava os sinais da gravidade da sua situação. A porta do hospital, no entanto, não se abriu para socorrer o paciente enfartado. A instituição estava em greve e, ademais, não dispunha de serviço de emergência. Foi o que alegaram, negando o socorro.
Antes que o assunto caia no conveniente  esquecimento, afinal, quem ainda se lembra da morte estúpida do cinegrafista da TV Bandeirantes que documentava as manifestações no centro do Rio?   é necessário comentar algo sobre o simbologia desta nova tragédia urbana.
UM HOMEM MORREU, SEM SOCORRO MÉDICO ESPECIALIZADO, DIANTE DE UM HOSPITAL CARDIOLÓGICO, CUJA PORTA NÃO SE ABRIU PARA ACOLHER A SUA  DOR NO PEITO. Que expressa, clinicamente, a ocorrência de   que algo grave está acontecendo. Segundo registram  todos os manuais médicos.
 Esta ocorrência – omissão de socorro por um hospital público - sinaliza , ainda, algo muito grave. Do ponto de vista do Homem enfartado. E do ponto de vista de um sistema de saúde, no mínimo insensível à dor alheia. Que fecha suas portas, negando atendimento para um cidadão que tem os cuidados da sua saúde assegurados na Constituição.
O que ocorre com o nosso sistema de saúde? A tragédia da morte deste cidadão brasileiro é, talvez, emblemática. Uma metáfora do permanente descaso dos serviços públicos para com os “direitos de cidadania”. Talvez, hoje, uma banal construção retórica.  Ironicamente inserida na ““Constituição Cidadã”. Nada mais.
Quem sabe, esteja chegando a hora de, finalmente, trazer ao proscênio o cidadão usuário do sistema único de saúde. Fazê-lo acreditar nos seus direitos. E no respeito que lhe é devido pelos prestadores de serviços públicos. Que o seu adequado e competente atendimento –“integral”, conforme assegura os mandamentos do SUS - não é um favor, uma espécie de caridade atualizada, mas um DIREITO NATURAL, assegurado na Lei Maior do país.
Que a morte, talvez evitável, deste Homem  não tenha sido em vão.   

 

 

 

 

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