A Petrobras em uns poucos atos e fatos
Tomislav R. Femenick – Mestre em economia, auditor e consultor
Minha
primeira participação em atos públicos deu-se em Maceió, no início dos anos
cinquenta do século passado. Nós, os estudantes do Colégio Guido de Fontgalan,
nos juntamos aos operários, intelectuais e aos militantes de esquerda e saímos
pelas ruas do centro da cidade gritando em defesa da nacionalização do
petróleo. Na época eu não via a jabuticaba que isso ia dá: o Brasil foi o único
país do mundo a nacionalizar o que não existia, pois nós não tínhamos petróleo
nenhum. Nos países árabes, no México e na Venezuela o custo de descobrir o ouro
negro foi bancado pelas multinacionais; depois foi nacionalizado.
Na
década seguinte, assisti e divulguei na imprensa nacional o surgimento do óleo
mossoroense em perfurações de poços de água na Praça Padre Mota, na localidade
Saco, na Salina Guanabara, na Gangorra e outro mais. Os poços foram vedados e ficaram
inativos.
Já
no inicio deste século, minha sobrinha Renata, que mora no Texas, foi indicada
por uma empresa de colocação de executivos para trabalhar em uma empresa em Passadena;
a tal refinaria da Petrobras. A politicalha, as panelinhas, o favoritismo aos
ligados a determinadas correntes de esquerda era de tal magnitude que minha
sobrinha pediu demissão. Nos últimos meses despontou na imprensa o escândalo: a
Passadena Refining System foi comprada por um grupo belga por US$ 45 milhões e
poucos anos depois foi vendida à Petrobras por mais de US$ 1,200 bilhão. Nada
mau, um lucro de cerca de US$ 1,150 bilhão; bom para os belgas, péssimo para
nós.
O fato é que o
uso político da Petrobras e as nomeações de apadrinhados políticos tecnicamente
despreparados se refletiram no desempenho da empresa. O lucro líquido da
empresa desabou no ano passado, chegando a ser menor do que em 2004, o que
provocou a desvalorização de suas ações na BM&FBovespa e nas bolsas
estrangeiras onde são negociadas. Em janeiro passado, a empresa já tinha
perdido 40% do seu valor de mercado, em apenas três anos; valia US$ 199,3
bilhões no dia 1º de janeiro de 2010, e despencou para US$ 119,9 bilhões, uma
diferença de quase US$ 80 bilhões. Em fevereiro, a Petrobras valia menos que a
colombiana Ecopetrol. Tudo isso atingiu quem aplicou o FGTS em ações da
estatal, pois nos últimos meses perdeu quase 20% do valor da aplicação.
No
Rio Grande do Norte o mundo petrolífero também está desabando. A produção anual
de óleo caiu de 31,7 milhões de barris em 2000, para 21,7 milhões em 2012; a de
gás foi reduzida de 1,26 milhões de m3 para 563 mil. Na região de
Mossoró, a Petrobras, as empresas que lhe prestam serviços e outras ligadas à
indústria petroleira já demitiram quase dois mil empregados. A retração dos
investimentos, dos negócios e do número de empregos está se refletindo
diretamente nas outras atividades: retração nas vendas do comércio, na
construção civil (1.500 demissões), na ocupação dos hotéis (55% a menos) e nas
vendas dos restaurantes, no setor de transporte (258 demissões), nas receitas
do Estado e dos Municípios da região.
Isso
quer dizer que a Petrobras abandonou ou vai sair do Rio Grande do Norte? Não,
nada é nada disso. A nova presidente da empresa, a engenheira Graça Foster,
está tentando arrumar a casa. A bacia Potiguar tem 7.913,99km2 de
área ofertada à exploração, grande de mais para ser desprezada, até porque no
horizonte desponta o quase ocaso do pré-sal, cantado em prosa e verso, mas que
para acontecer precisa de muito investimento, muita tecnologia e muito tempo.
Tecnologia a Petrobras tem ou seus técnicos são
capacitados a desenvolvê-la. O problema é o tempo e o dinheiro. O tempo é
apertado, pois a nossa tão propalada autossuficiência do petróleo foi balela e
propaganda eleitoral. Quando mais o tempo passa, mais gastamos com a importação
de petróleo, o que afeta a balança de pagamento. O caso dos recursos para
investimento poderia ser resolvido com lançamento de ações primárias em bolsas
de valores, mas a desvalorização dos títulos da empresa não recomenda isso
agora.
Dona Graça há de dar o ar de sua graça resolvendo essas
questões. Pode fazer de tudo, menos privatizar a Petrobras, um patrimônio do
povo brasileiro, construído inclusive com os meus tênues e ingênuos gritos
juvenis.
Tribuna do Norte. Natal, 03 mar
2013.
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