Adiós, Gabito.
Paulo Benz.
Poeta.
Partiu, aos 87 anos, Gabriel Garcia Márquez,
o Gabo. Gabito na infância e na referência carinhosa do diminutivo.
Garcia Márquez está para a minha
estante de livros como Eric Clapton esta para a coleção de CDs. Em destaque. O que mais prezo, o que mais
valor para mim representa.
Não que eu tenha lido toda a sua
obra, ou que possa me postar como especialista dos seus dizeres. Apenas
consigno o meu gostar. Para mim, seus livros são tocantes, vivos. Humanos,
acima de tudo.
Sobre Cem anos de Solidão, há uma
curiosidade pessoal. Comecei a ler o livro na década de 80 e não consegui
prosseguir. Algo bateu tão forte na minha própria solidão que não conseguia
avançar. Era como se fosse ser tragado pelo livro e pela solidão de seus
personagens, que fosse ficar preso ali, naqueles vilarejos poeirentos, sem
saber mais o nome das coisas e precisando escrever bilhetes para lembrar. Levei perto de vinte anos para tentar de novo.
Reiniciada, novamente interrompi a
leitura. Isso após descobrir uma preciosidade, que é o livro Viagem à Semente,
de Dasso Saldívar. Trata-se de uma biografia de Gabo, voltada à compreensão de
como nasceu Cem Anos de Solidão. Lida a biografia, retomei “Cem anos” desde o
início, para finalmente, décadas depois, terminar. Maravilhado, encerrei a
primeira das leituras (voltei a ele outras vezes, como agora, ao escrever estas
linhas, já reacende a vontade de outra releitura).
Por hora, ando mordiscando as
crônicas de um volume compilado, parte da coleção da obra jornalística de
Márquez.
Mas, o sentimento especial que tenho
por “Amor nos tempos do Cólera”, é fato.
Embora goste imensamente de ler, não
sou sistemático. Minhas leituras são variadas e sem objetivo próprio que não o
de ler o que estou com vontade.
Contudo, já me foi perguntado mais de
uma vez qual o melhor livro que já li. Nisso, não tenho dúvidas: Amor nos Tempos
do Cólera. O livro é de uma humanidade imensa, sem pieguices e com um vento de
esperança comovente que avança por suas páginas. As suas linhas finais, que
obviamente não vou transcrever aqui, vez por outra me assaltam e retornam ao
pensamento. Coerente com o livro, não
conheço outro final igual.
O próprio autor o tratava com sua
melhor obra. Uma vez vi uma entrevista na qual ele contava que Cem Anos de Solidão
foi seu livro mais vendido e mais premiado; o Outono do Patriarca, o mais
estudado; mas que, para ele, o que iria ficar, da sua obra, era Amor nos Tempos
do Cólera, através do qual revisitou a história dos seus pais.
Sua autobiografia, Viver para Contar,
deixou a todos seus leitores na vontade de mais, pois o segundo volume não foi
escrito, em razão da perda de memória que o alcançou.
Inúmeras frases de efeito foram
pinçadas das suas obras e entrevistas, desnudando a alma humana e a acuidade do
seu pensamento, sua veia de jornalista e, mais que tudo, o ser humano atento ao
mundo ao seu redor.
Para falar deste momento, mais do que
lamentar a sua ida, é lembrar com prazer o legado que deixou com seus
textos. E, com uma frase sua, encerro
este relato das minhas saudades...
"Não chore porque acabou, sorria
porque aconteceu".
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