NOSSO SAL DE CADA DIA
Ailton
Salviano – Geólogo/Jornalista
Há muito tempo, na escola secundária,
aprendi e nunca mais esqueci, por quais motivos o Rio Grande do Norte é o maior
produtor de sal marinho do Brasil. Os sábios mestres de antanho citavam três principais
fatores e todos, por coincidência, associados à mãe Natureza: 1) a excepcional
salinidade do Atlântico na costa potiguar; 2) o nosso regime de ventos e 3) a
constante insolação do nosso litoral.
Com essas
dádivas naturais, o potiguar não encontrou grandes dificuldades para conceber a
ideia de concentrar, a partir da água do mar, o cloreto de sódio, o nosso
tradicional sal de cozinha. Quantas histórias envolveram e ainda envolvem o
produto e a palavra sal! Desde a importância e sua valorização como o melhor
conservador natural de alimentos até a curiosidade etimológica de derivar a
palavra “salário”.
Pela condição
que ostenta, o Rio Grande do Norte seria também, a antítese de um pequeno
trecho na mensagem do Senhor no Sermão da Montanha. Naquele longo discurso com
ensinamentos morais e de conduta, parte do Evangelho de Mateus, dirigindo-se
aos seus seguidores, Cristo diz: “Vós sois o sal da Terra”. Por mera coincidência, nosso Estado, com suas
cidades da denominada “costa branca”, é conhecido como “a terra do sal”. Somos, portanto, a terra do sal e do sol!
Por sua
capacidade de contrair veias e artérias e por conseguinte, aumentar a pressão
do fluxo sanguíneo, o sal tornou-se o principal inimigo dos hipertensos (meu
caso) e sua ingestão em excesso passou a ser condenada pelos cardiologistas.
Associadas ao sal, há ainda, diversas crendices populares, todas apelam para
seus poderes de purificação. Quem nunca ouviu falar em banho de sal grosso ou
espalhar a substância por determinados locais dos ambientes para afastar as
mandingas?
Para concluir,
um fato histórico pouco conhecido e explorado, porém de enorme significado para
os povos indianos. Trata-se da “Grande
Marcha do Sal” realizada em 1930 e protagonizada por Mahatma Gandhi, numa
importante ação na busca da independência da Índia colonial. Está nos registros
históricos, a mais fantástica e pacífica caminhada feita pelo líder indiano
Gandhi para chamar a atenção da humanidade para a sua campanha de tornar o seu
país, a Índia, independente do Império Britânico.
Para o professor
de Havard, Geoffrey Blainey, “a Marcha do
Sal configurou-se como uma reveladora aventura espiritual e política. A escolha
foi inteligente e criou um grande impacto na Inglaterra. Alguns jornais
britânicos consideraram tremendamente injusto taxar um produto de primeira
necessidade”. A caminhada de protesto, também conhecida como Satyagraha do
Sal, começou no dia 12 de março de 1930, durou 25 dias, terminando em 6 de
abril (há exatos 84 anos) e percorreu aproximadamente 400 quilômetros ou a
distância aproximada entre as cidades de Rio de Janeiro e São Paulo.
No final da
jornada, Gandhi e milhares de seguidores foram presos por soldados britânicos
que guardavam as salinas ao norte do país. Posteriormente, o grande líder hindu
foi libertado. A marcha, que teve caráter pacífico, foi considerada um dos mais
importantes desafios à autoridade britânica. Numa época em que eram bastante
escassos os recursos dos meios de comunicação, Gandhi conseguiu atrair a
atenção do mundo para o seu gesto, inclusive dos algozes britânicos.
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