O AMOR E A DOR
PADRE JOÃO MEDEIROS FILHO
(pe.medeiros@hotmail.com)
O amor e a dor são inseparáveis na vida
humana. Na dinâmica da existência desejamos ser compreendidos, perdoados e
amados, mas isto não exclui o sofrimento. Porque amamos, podemos sentir a dor
da traição, desconfiança, indiferença, solidão, distância, ingratidão e da
própria morte. A perda ou partida de uma pessoa querida faz-nos sofrer. A dor é
intrínseca à vida de quem ama. A cruz de Cristo é o resultado de seu afeto sem
limites, seu perdão incomensurável, sua ternura e misericórdia infinitas e sem
precedentes.
Nenhum ser humano ama verdadeiramente
sem passar pela dor. Mas, na medida em que ela é aceita e compreendida, poderá
ser suportada. “Só quem passa pelo fogo
da dor, chega ao incêndio do amor e
só quem se deixa queimar por este, saberá o que nos faz sofrer”, dissera
Santo Agostinho. Quem ama, supera
pequenos e grandes desencontros, com a força de recomeçar. A grande preocupação
está em condenar quem errou e não em tentar compreender. E isto aumenta em
muitos a tristeza e a decepção. “O que
importa é a solução, e não o culpado”, afirmou o Papa Francisco. Jesus não
procurava saber por que alguém pecou ou errou. Com gestos e palavras, ensinou a
todos que o amor é inconsistente sem misericórdia e perdão.
Falando recentemente aos fiéis, na
Praça de São Pedro, o Sumo Pontífice comentou: “Supomos ser justos e julgamos os outros. Julgamos até Deus, porque
pensamos que deveria punir os pecadores, condenando-os à morte em vez de
perdoar”. Agimos como o primogênito da parábola do filho pródigo. Em vez de
se alegrar com a volta do irmão, foi atingido pela flecha do ciúme diante da acolhida
do pai. Ali, Cristo quis nos dizer que o amor não é egoísta. E se assim o for,
far-nos-á sofrer ainda mais.
O amor mais sincero, profundo, leal e
desinteressado, não está isento de tristezas, lágrimas, angústias, decepções e
até separações. Pode parecer paradoxal, mas a plenitude do amor de Cristo
realizou-se na cruz. Na verdade, devemos nos conscientizar de que a dor, na sua
essência, coroa o gesto de amar.
Cabe-nos refletir. O que aconteceu com
aquele que amou sem medidas, acolheu os pecadores e fez refeição com eles? O
que ocorreu com quem curou os doentes e restabeleceu os paralíticos, fez os
surdos ouvirem e os cegos enxergarem? Como terminou a vida daquele que realizou
tantos milagres, multiplicando pães para matar a fome da multidão? Como
acabaram os dias de quem perdoou sempre, escutou, acolheu, incluiu,
compreendeu, enxugou lágrimas e amainou a angústia de tantos? O seu fim foi a
solidão, o abandono, a condenação e a morte. Quem ama verdadeiramente, sabe
disso e tem consciência de que o sofrimento também é redentor. Foi o exemplo de
Jesus de Nazaré, entregando-se totalmente, numa prova de afeição pelos homens, que
hoje nos capacita a compreender que o amor exige renúncia e talvez nos traga provações
e dores.
Amar consiste unicamente em doar-se.
Poderá tornar-se frustrante, se não entendermos que tem como objetivo fazer o
outro feliz. Se assim não for, sofreremos intensamente, pois o amor autêntico
tem apenas o caminho de ida. Cristo deu-se todo, por inteiro, sem esperar nada
em troca. Não raro, padecemos muito, quando esperamos e até exigimos retorno ou
recompensa pelo amor. Ele é dádiva total, gratuito. Deus é amor (1Jo 4, 8), por isso entregou-nos seu Filho Unigênito,
de forma absoluta e incondicional, sabendo que somos frágeis, ingratos,
pecadores e incapazes de retribuir!
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