D’ONT CRY FOR
ME,HABANERO
(Para Maria Thereza – do
GRES “QUIABO COM JERIMUM”)
Geniberto Paiva Campos – Brasília – Carnaval de 2014
Foi um curto momento na festa de domingo de Carnaval do
Carpe Diem.
O baile, ou a roda de samba, corria solta nos salões do bar.
Cantos carnavalescos nostálgicos, puxados pelo Oscarzinho. Todo mundo canta
junto, afinados, uníssono. São quase todos coroas. Estão ali para celebrar a
tradição da festa. Paquerar um pouco. Celebrar a vida. Afinal, ainda estamos
vivos. Alguns comparecem fantasiados, isso aumenta a alegria. Hoje, em
Brasília, não mais importa a origem dos foliões. Se cariocas, pernambucanos,
paulistas. Agora, somos todos brasilienses. Ou candangos.
A festa tem um componente nostálgico inevitável. Há,
subjacente, um clima de paz e confraternização. O ritmo é quente. O samba bem
marcado. Geme uma cuíca . Os tamborins
ajudam na cadência, em contraponto com o surdo. Tudo transcorre sem exagero. Oscarzinho puxa
Zé Ketty, “quanto riso, oh, quanta alegria!” Uma alegre
nostalgia toma conta da festa. Dançamos, felizes, os braços para o alto.
Talvez, na esperança de estarmos aqui presentes, inteiros, no próximo Carnaval.
Ninguém atravessa o
ritmo. Estamos fazendo bonito. “Foi bom te ver outra vez/ está fazendo um ano/
foi no Carnaval que passou/ eu sou aquele pierrô”, clamam os belos versos da
marchinha do Zé Ketty. Uma pausa para os músicos e para os foliões. A festa
corre solta. Bonita. Alegre. O som do
Carpe Diem não deixa o samba morrer.
Após o intervalo, volta a música ao vivo. Um negro jovial
assume o microfone e canta. Apenas duas músicas. Não carnavalescas, como pede o
roteiro. É um ritmo diferente. A plateia se espanta. É um canto bonito, doído.
Parece arrancado das entranhas. A forma do rapaz “puxar”
a música, num espanhol perfeito, leva os foliões ao êxtase. É tudo uma emoção
só. Os carnavalescos ouvem com respeito e curiosidade o canto triste, melódico,
bonito, falando de “Yolanda/Yolanda”. Alguns, talvez, lembram-se da versão do
Chico Buarque para a música do cubano Pablo Milanês. A maioria apenas ouve a
música, belíssima. Aderem ao seu encanto. Sabem que tem uma mensagem
subjacente. Há todo um povo que fala, através daquele jovem vestido de branco,
para os foliões que brincam o seu Carnaval. Ele
encerra a sua performance com “Guantanamera”. A emoção atinge o seu
auge. Todos nós sabemos o refrão. Cantamos
com mais força ainda, “Guajira/Guantanamera”. O rapaz de branco, cubano,
sai ovacionado. Tranquilo, sutil, da mesma forma que chegou. Deixou o seu
recado. A sua mensagem. Sem fazer discursos.
-“Quem era? Um cubano do “Mais Médicos”? perguntam alguns. –
Não. Apenas um cubano do “Mais Música”, responde um folião, gozador. Um outro
volta até a mesa, e fala para os que estão ainda sob o impacto – impossível de
disfarçar - da música do Caribe: -
“Essa Cuba eu gosto. O que veio a se tornar depois, não”. Mas a música havia
diluído o preconceito. E assegurava: somos todos latinos, somos alegres,
nascemos para ser felizes. Somos tolerantes. Aprendemos a respeitar o direito
de cada um seguir o seu caminho. Enfim, voltando ao Zé Ketty, “não me leve a
mal. Hoje é Carnaval”.
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