O homem que queria ser preso
Elísio Augusto de Medeiros e Silva
Empresário,
escritor e membro da AEILIJ
elisio@mercomix.com.br
Tudo
começou com uma discussão besta de mesa de bar – por causa de times de futebol.
Por causa dos efeitos da bebida, aos poucos, os ânimos foram se alterando. Bem
que os amigos comuns tentaram apaziguar – em vão, eles não chegavam a um
acordo.
Quando
menos esperavam, Joãozinho deu um soco em Manuel, que, prontamente, reagiu à
agressão. A confusão estava formada, e logo os dois engalfinhavam-se no chão do
bar. Os amigos tentavam apartar a briga, mas sem sucesso. Para sorte ou azar dos
dois antagonistas, uma viatura da polícia ia passando na ocasião, e os levou
presos para a delegacia de plantão.
O
delegado, diante do flagrante, não via outra providência senão lavrar o auto e
os mandar recolher ao xadrez. Que vexame!
Os
amigos logo chegaram à delegacia e tentavam, junto ao delegado, evitar a
autuação, alegando que os dois eram pessoas de família, honestas,
trabalhadoras, etc.
Diante
dos argumentos, o delegado aquiesceu – afinal, tinha sido uma coisa boba, sem
ferimentos, e até os dois brigões já se mostravam arrependidos da besteira.
Então,
os dois foram colocados à frente da autoridade policial, que lhes comunicou da sua
intenção de liberá-los.
-
Atendendo aos pedidos de seus amigos, e como vocês tem bons antecedentes, vou
liberá-los com a condição de que façam as pazes e acabem com essa besteira.
-
Obrigado doutor, disse Joãozinho, estendendo a mão ao Manuel.
-
Eu também faço as pazes, disse o Manuel. Mas quero continuar preso,
complementou.
Todos
se olharam estupefatos, inclusive o delegado.
-
Você quer ficar preso, seu Manuel?
-
Quero sim, seu delegado.
Bem,
neste caso, terei que lavrar o auto que, naturalmente, envolve as duas partes.
-
Mas eu não quero ficar preso, disse Joãozinho.
-
Eu quero, disse Manuel. Devo pagar pelo mau comportamento na prisão.
Diante
disso, não houve mais acordo e o auto de prisão foi lavrado pelo escrivão da
delegacia.
Tentando
resolver a situação, os amigos se prontificaram a pagar a fiança dos dois. Joãozinho
ficou alegre, mas Manuel não aceitou, pois queria continuar preso e ficava
repetindo: Quero ser transferido para a detenção!
A
essa altura até o delegado, o escrivão, e outros policiais duvidavam das
faculdades mentais do Manuel. Onde já se viu isso?! Nunca tinha ocorrido nada
parecido antes na delegacia.
Depois
de conversarem entre si, os amigos acharam por bem chamar a esposa de Manuel
para tentar convencê-lo e fazê-lo mudar de ideia.
Ela
veio. Mas, mesmo com muita argumentação e lágrimas, Manuel não mudou sua
opinião. Pelo visto, ele queria mesmo era mofar alguns meses atrás das grades.
Aquela
tarde foi agitada na delegacia, com amigos, parentes, todos tentando convencer
Manuel a aceitar o pagamento da fiança. Até um psicólogo foi chamado pelos
familiares.
Somente
por volta das onze horas da noite, depois de ouvir conselhos e pedidos de uma
porção de parentes e amigos, é que ele consentiu que fosse prestada fiança e
liberado.
O
difícil mesmo foi se livrar dos repórteres do jornal que aguardavam ansiosos na
porta da delegacia. No dia seguinte, os jornais traziam na capa: “Homem se
recusa a ser solto”.
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