A PRAÇA (AINDA) É DO POVO?
Geniberto Paiva Campos
Brasília, fevereiro / 2014
“Antes de
compreendermos que as coisas se
encontram em uma determinada situação, elas já mudaram várias vezes. Assim sempre percebemos os acontecimentos
tarde demais, e a política tem sempre a necessidade de prever, por assim dizer,
o presente”. *
1)
Vivemos tempos estranhos. A rapidez com que as
coisas acontecem não dá chance aos cientistas sociais, aos teóricos, aos livre
pensadores e aos palpiteiros em geral -
também chamados consultores, quando aparecem na TV - formularem as interpretações coerentes dos fatos.
A inteligência brasileira está diante de novos e instigantes
desafios. Mal refeita do susto das manifestações de junho de 2013, ainda
carente de análises e em processo de avaliação, surgem misturados aos manifestantes, aparentemente
mal percebidos por estes, grupos mascarados dispostos a destruírem, de forma
violenta e irracional, o que consideram símbolos do poder capitalista. São os
“black blocks”, em incontida fúria destruidora. O que tornou a interpretação
teórico-conceitual dos filósofos de plantão tremendamente difícil, senão
impossível.
Como se isso tudo não bastasse, mais recentemente, a TV
invadiu os lares brasileiros com outro estranho, inusitado movimento. Chamado
“rolêzinho”, constituído por adolescentes da periferia urbana que assumiram o
direito de compartilhar o espaço físico, quase sagrado, dos shoppings, consensualmente aceito como local restrito, embora público. Espaço legítimo,
reservado aos jovens de alto poder aquisitivo. Como ousam? A Justiça, nesse
caso, foi acionada e deu pronta resposta: os rolêzinhos devem procurar outras
paragens para o seu divertimento e lazer. As justificativas legais soaram um
pouco estranhas, talvez cínicas. Mas as ameaças de multas e outras punições,
parece, arrefeceram momentaneamente
ânimos dos novos frequentadores desses templos do consumo.
Tais manifestações democráticas, organizadas por meios
eletrônicos, não deveriam ser recebidas com júbilo pela sociedade brasileira?
Não seriam elas o equivalente tupiniquim dos movimentos de junho de 1968 –
embora com algumas décadas de atraso, admita-se - ocorridos na França e que balançaram as
estruturas do poder?
2)
Parece que o pensamento médio da sociedade brasileira tem dificuldades em
assimilar o novo. Sobretudo quando o novo surge em roupagens desconhecidas,
usando máscaras, sem uma pauta reivindicatória definida. Parafraseando
McLuhan: o movimento é a mensagem; a
mensagem é o movimento...
*Turgot – citado por Walter Benjamin . Passagens. Ed. UFMG/ 2006 .
pag.520
Talvez seja precipitado falar em tolerância
excessiva com o fenômeno. Mas há, sem dúvida, uma certa leniência, em mistura
com perplexidade, com as manifestações, por parte do estamento do Estado e dos
órgãos de comunicação. Ninguém quer atirar a primeira pedra e assumir o papel de repressor de manifestações livres, naturais
em um regime democrático. Lamentavelmente, tombou uma vítima fatal da
violência, aparentemente sem nexo e sem objetivos claros e definidos. Como
justificar a morte injustificada do repórter fotográfico Santiago, que apenas
cumpria a sua tarefa , no conflagrado espaço urbano, de forma estritamente
profissional? Uma das respostas, das que
sempre surgem, quase automática, no cenário político administrativo, desde os
primórdios do Brasil como Nação, é a retórica ardilosa que coloca a necessidade
de leis restritivas, como solução. Que possam enquadrar o crime e seus agentes,
cominando penas absurdas, satisfazendo, assim, os “clamores da opinião
pública”.
Parece que desta vez o caso requer
respostas mais inteligentes e criativas. Como lidar, vá lá o termo –
democraticamente – com a presente situação? Como garantir a livre manifestação
da cidadania e, ao mesmo tempo, conter a
boçalidade da violência exercida, de forma estúpida, agora contra pessoas?
3)
Este o desafio que está sendo colocado para o
país. E, desta vez, não basta, apenas, infantilizar o debate político,
colocando as torcidas em pé de guerra, na arquibancada. Pró governo e Anti
governo. O problema afeta a todos. É possível, bem provável até, que a
Democracia, o Processo Civilizatório estejam correndo sérios riscos. “Quid
Prodest”? A quem interessa a quebra da legalidade e das liberdades
democráticas? Com palavra a Nação Brasileira.
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