terça-feira, 11 de fevereiro de 2014


CAMPO MINADO

 

Valério Mesquita*


 

O processo político sucessório estadual está com o meio de campo embolado. Quem disse que política é circunstância foi contraditado. Os memorialistas e imortais Ticiano Duarte e João Batista Machado já analisaram o atual cenário confrontando as alianças partidárias de noivado e casamento dos idos de mil novecentos e cinquenta com os de hoje. No momento em que a “modernidade” gerencial baixou no terreiro, a desnecessidade do perfil do líder carismático para ser governador e/ou senador, evidenciou o óbito dos manequins de antigamente: carisma, popularidade e densidade eleitoral.

O preenchimento das chapas deve ser casada no civil e na polícia. Província e Planalto tem que dormir no mesmo leito. É a teoria da sustentabilidade, a mesma que alimentou o mensalão.

Qual o líder partidário potiguar que não carrega no colo uma bomba de efeito retardado? O PMDB, se apoiar o PSB para o senado perde o apoio do PT, e para a reeleição da presidência da Câmara Federal. O PSB para o senado se unindo ao PMDB no Rio Grande do Norte não pode aceitar no palanque o senhor Eduardo Campos porque o palco é de Dilma Rousseff. O DEM se apoiar o PMDB para o governo do estado, fica impedido de subir à ribalta porque Dilma manda descer. O PT se conseguir emplacar a disputa para o senado com o apoio do PMDB, não atrairá o concurso do PSB nem do DEM. O PSD, com a estratégia de que “na natureza nada se perde, tudo se transforma”, coloca-se como o partido da esquina mais próxima, tanto para o governo, que já tem inquilino, como para o senado cuja cadeira continua vazia à espera de uma parceria. Podem parecer surrealistas as minhas palavras mas os fatos são verdadeiros e não destoam da matéria.

Às margens esquerda e direita desse mar morto, correm os prós e os contras. Bandeirantes ocasionais, sereias furtivas e estivais, à espera do último milagre. Eles não pisam em campo minado. A leveza não o permite porque o fardo é de plumas e paetês. Quando noventa por cento do legislativo, rompe com o governo, é porque este último é mesmo complexo e confuso.

Contudo, é indispensável dizer que existe uma multidão silenciosa que já não obedece como dantes, a voz dos políticos, por está cansada de tanto ver triunfar as nulidades, a insegurança, a falta de hospitais, a corrupção e a impunidade. De todos as minas que estão no campo sucessório potiguar, a do povo é a de maior teor explosivo. Porque não é vista. Mas existe. Está na hora de um novíssimo testamento.

 

(*) Escritor.

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