CAMPO MINADO
Valério Mesquita*
O
processo político sucessório estadual está com o meio de campo embolado. Quem
disse que política é circunstância foi contraditado. Os memorialistas e
imortais Ticiano Duarte e João Batista Machado já analisaram o atual cenário
confrontando as alianças partidárias de noivado e casamento dos idos de mil
novecentos e cinquenta com os de hoje. No momento em que a “modernidade”
gerencial baixou no terreiro, a desnecessidade do perfil do líder carismático
para ser governador e/ou senador, evidenciou o óbito dos manequins de
antigamente: carisma, popularidade e densidade eleitoral.
O
preenchimento das chapas deve ser casada no civil e na polícia. Província e
Planalto tem que dormir no mesmo leito. É a teoria da sustentabilidade, a mesma
que alimentou o mensalão.
Qual
o líder partidário potiguar que não carrega no colo uma bomba de efeito
retardado? O PMDB, se apoiar o PSB para o senado perde o apoio do PT, e para a
reeleição da presidência da Câmara Federal. O PSB para o senado se unindo ao
PMDB no Rio Grande do Norte não pode aceitar no palanque o senhor Eduardo
Campos porque o palco é de Dilma Rousseff. O DEM se apoiar o PMDB para o
governo do estado, fica impedido de subir à ribalta porque Dilma manda descer.
O PT se conseguir emplacar a disputa para o senado com o apoio do PMDB, não
atrairá o concurso do PSB nem do DEM. O PSD, com a estratégia de que “na
natureza nada se perde, tudo se transforma”, coloca-se como o partido da
esquina mais próxima, tanto para o governo, que já tem inquilino, como para o
senado cuja cadeira continua vazia à espera de uma parceria. Podem parecer
surrealistas as minhas palavras mas os fatos são verdadeiros e não destoam da matéria.
Às
margens esquerda e direita desse mar morto, correm os prós e os contras.
Bandeirantes ocasionais, sereias furtivas e estivais, à espera do último
milagre. Eles não pisam em campo minado. A leveza não o permite porque o fardo
é de plumas e paetês. Quando noventa por cento do legislativo, rompe com o
governo, é porque este último é mesmo complexo e confuso.
Contudo,
é indispensável dizer que existe uma multidão silenciosa que já não obedece
como dantes, a voz dos políticos, por está cansada de tanto ver triunfar as
nulidades, a insegurança, a falta de hospitais, a corrupção e a impunidade. De
todos as minas que estão no campo sucessório potiguar, a do povo é a de maior
teor explosivo. Porque não é vista. Mas existe. Está na hora de um novíssimo testamento.
(*) Escritor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário