quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Há perigo de retrocesso?
“O sono da razão gera monstros” (Antonio Gramsci)
 
(*) Rinaldo Barros
 
Logo após o reinado de momo, serão abertas campanhas eleitorais em todos os Estados ao longo do patropi e, também, no Congresso Nacional. Não será apenas mais uma legislatura, dezenas de senadores estão com seus mandatos em risco.
Estamos assistindo aos primeiros clarões da alvorada de uma nova era política em terras crioulas.
Com a mundialização da economia, com o advento do Mercosul, com a nova geopolítica internacional (o mundo multipolar), com eleições em todos os Estados brasileiros, com a crise na economia estadunidense ainda renitente, necessariamente teremos uma nova realidade política no Brasil, em toda América Latina e Caribe, como de resto em todo o planeta.
É palpável a evanescência de muitos outrora importantes movimentos sociais (como o de mulheres, por exemplo). É visível o declínio da força do sindicalismo, como conseqüência do novo padrão de acumulação do sistema e do desaparecimento de postos de trabalho e profissões, por força da automação.  
Preocupa-me também a tentativa governamental de censurar ou desqualificar o papel da imprensa e da internet enquanto pilares da Democracia, em meio a generalizada sensação de impunidade.
É igualmente muito preocupante a despolitização das novas gerações, às voltas com um individualismo estéril, terreno fértil e perigoso para as manipulações de todos os tipos.
Nosso sistema educacional nem de longe está preparado para orientar nossa juventude nos caminhos da vida, nossos professores estão ainda em busca da compreensão acerca dessa novíssima realidade e, lamentavelmente, ainda sem o indispensável apoio conceitual.
Nossos mestres estão desarmados em pleno campo de batalha, uma loucura sem igual.
Ninguém está preparado ainda para lidar com essa novíssima realidade. Trata-se de uma série de especificidades, eivada de ambigüidades, tecendo uma rede complexa e fragmentada de novos conceitos e novos paradigmas, a qual vai se redefinindo junto a cada movimento do real, a uma velocidade alucinante.
No contexto local, o lulodilmismo levou o País ao retrocesso político e moral ao não punir e até defender e incentivar a corrupção com o dinheiro público, ao lotear cargos técnicos com apadrinhados despreparados e mal-intencionados, ao interferir politicamente em funções do Estado que existem para servir ao cidadão, e não aos interesses do governo.
Além de não fazer nenhuma das reformas fundamentais para a modernização da nossa sociedade.
Todavia, é forçoso reconhecer os méritos do governo atual: a economia cresceu e milhares de novos empregos foram criados, a área social ganhou impulso, e surpreendentemente o País saiu (?) da crise antes do esperado. Em que pese a desigualdade social ainda inaceitável e o câmbio atrapalhar as exportações, o futuro econômico do Brasil é promissor e o PT governo ajudou a construí-lo; a partir da sábia manutenção da política econômica do governo anterior e da preservação do Plano Real, criado em 1994.
Entretanto, tudo se passa como se o PT governo houvesse descoberto uma forma de agir como ditador fingindo estar numa Democracia. Com a “aprovação” da maioria desinformada da população.
Por falar nisso, acho muito estranho quando vejo a quantidade de "medidas provisórias" editadas, melhor, ditadas pelo governo federal; temos a impressão de que o nosso sistema democrático é uma fraude.
Que democracia é esta em que a maioria das leis é feita pelo Executivo e não pelo Legislativo?
É assustador o crescimento da violência urbana, ao lado do consumo endêmico de drogas e, talvez um claro indício de que estamos na barbárie: parte da população – cansada de esperar – começa a fazer justiça com as próprias mãos, promovendo linchamentos de assaltantes em via pública.
É preocupante também a omissão em relação à formação dos militares brasileiros; o que tem garantido a perpetuação, quase intacta, da doutrina de segurança nacional dentro dos quartéis. É mesmo muito estranho.
E, agora, o PT governo anuncia “Estado de Exceção” na Bahia e que vai colocar o Exército nas ruas para reprimir manifestações durante a Copa; quando se sabe que as Forças Armadas não são treinadas para conter multidões, mas estão preparadas para matar e destruir.
Será que estão querendo jogar a opinião pública contra as forças armadas?
Será mais uma pedra no quebra-cabeça da “revolução bolivariana”, novo cenário político para a América Latina? Será o início da fórmula da “pós-democracia” (superação da democracia representativa)?
Será que a frágil Democracia verde-amarela está correndo perigo de novo retrocesso?
A dedução é privilégio do caro leitor.
 
 (*) Rinaldo Barros é professor – rb@opiniaopolitica.com

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