OS DOMINGOS DE HORÁCIO PAIVA
PÃO E LUZ
com lápis invisível
descrevo na escuridão
o que não vejo
e nada sei do pão
que está à mesa
à espera da luz
SEMPRE
DOMINGO
“Não
vos inquieteis pelo dia de amanhã”
- Mateus, 6:34
-
o domingo estende uma toalha branca
e põe a sua mesa
com flores vinho e frutos do mar
sem imaginar naufrágios
e já quase esquecido do tempo voraz
mas ao meio-dia
com olhos cegos e arma em punho
a segunda acorda e precipita seus
receios vãos
em nebulosas inquietudes
ao meio-dia do domingo precipita-se a
segunda-feira
entorna o vinho então sossegado
e o despede
mas
apenas por instantes
pois logo o domingo se refaz
e afeito a vencer desafios milenares
aos poucos afasta as ilusões daninhas
e restaura a paz
PÃO E MEL
a poesia está no simples
e no mistério transfigurado
lembro da emoção que me envolveu
ao ler o relato antigo do encontro
de dois povos:
o viajante extenuado que chegava à
terra
após a longa viagem oceânica
e o nativo que lhe oferecia
pão e mel
ELEGIA
A Carlos Freire, in memoriam
Serão estas árvores frondosas
aquelas pequenas mudas que
plantamos
enquanto a céu aberto conversávamos
e a luz invadia os nossos olhos?
Você já não se encontra aqui para
afirmá-lo
e a velocidade do tempo é tanta
que não surpreendem a saudade e o
cansaço
e esta paragem no passado.
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