segunda-feira, 25 de novembro de 2013


A mulata dengosa do Arpege

 

Elísio Augusto de Medeiros e Silva


Empresário, escritor e membro da AEILIJ


Naquela noite chegamos ao “Arpege” pelas nove horas da noite. Como era uma sexta-feira, mesmo cedo, o salão do primeiro andar já estava cheio de fregueses costumazes como nós, todos ansiosos para conhecerem a novata recém-chegada do Rio de Janeiro.

A música alta se estendia da travessa até a Rua Chile. A dança dominava o salão. Sentamos em uma mesa da pista, onde fomos atendidos por Chico - um dos garçons da casa -, nosso conhecido.

Logo avistamos a mulata tão comentada – era mesmo de encher a boca d’água. Ao nos avistar, ela abriu os lábios carnudos em um sorriso sensual. O corpo bem-feito se movimentava cadenciado pelo swing da radiola de fichas que não parava.

Era uma mulatinha nova e bonita. Os pedaços de carne morena apareciam sob o decote generoso – os seios meio a mostra chamavam atenção de todos os presentes no cabaré.

Olhou ligeiramente para nossa mesa – um olhar de volúpia e oferecimento. Claro que todos nós sorrimos para ela.

A essa altura, dançava sozinha no salão – suas ancas largas mexiam de acordo com os requebros do seu corpo rebolante. A jovem sorria e gingava o corpo, remexendo suas avantajadas cadeiras. Sabendo ser alvo de todas as atenções do salão, também requebrava seus lindos olhos verdes penetrantes à procura de companhia.

A noite avançava, os copos esvaziavam-se rápidos sobre as mesas do salão vermelho esfumaçado. Outras inquilinas da casa dançavam no salão, tentando atrair atenção dos homens do local.

De repente, a cabrocha dengosa parou e sentou-se em uma mesa próxima da nossa. O corpo jovem e bem-feito brilhava sob a luz vermelha do salão do cabaré.

Pelo jeito, a noite iria se estender – uma verdadeira noitada de amor, bebida e música.

A mulata sabia ser o alvo das atenções – todos pareciam estar enfeitiçados por ela. Sentara-se à mesa de perna cruzada, mostrando um pedaço da coxa grossa, bem torneada.

- Mulata dengosa! Disse alto um dos homens da mesa mais próxima à nossa.

Ela ouviu o elogio e sorriu para o homem. Deve ter gostado. Sacudiu o cabelo e os seios mulatos, que balançavam livres no vestido preto curto. Levantou-se rebolante e dirigiu-se até a mesa de onde viera o elogio. Acho que ela se sentia irresistível aos olhares masculinos.

Não demorou muito na mesa dele. O homem agarrou-lhe pela cintura e encaminharam-se para o salão. Aí deu para vê-la mais de perto: ancas largas, cinturinha de pilão, peitos salientes. Os olhos dela tinham um certo brilho e a boca era pintada em vermelho-sangue, a cor da moda.

Eles dançaram agarrados por um bom tempo, roçando os seus corpos suados, ao ritmo das músicas que se sucediam. À medida que novas fichas eram introduzidas no Jukebox.

Quando passaram perto da nossa mesa, sentimos o cheiro dela – usava um perfume extravagante, “doce”, que diziam ser o cheiro das “raparigas” que frequentavam os cabarés da Ribeira.

Mas a dança não se estendeu muito. Ela era uma mulher da vida que se entregava por dinheiro, que fazia do amor o seu ofício. O homem entendeu a razão da impaciência, amassando os seus lábios de encontro aos dela – pois ele também tinha urgência... a pressa dos homens que não sabem onde estarão amanhã. Então, ele abraçou-lhe pela cintura e dirigiram-se a um dos quartos que ficava nos fundos da casa de amor.

A essa altura, o cheiro de beira de cais chegava até nossa mesa. Outros casais também se dirigiram aos quartos. A dança continuava no salão vermelho “cardeal” bem encerado.

A madrugada rompia e nos apressamos a sair. No dia seguinte, com certeza, estaríamos de volta. Quem sabe a mulata não estaria desacompanhada?!

Nenhum comentário:

Postar um comentário