As sessões de cinema mudo do tio Aldo
Elísio
Augusto de Medeiros e Silva
Empresário,
escritor e membro da AEILIJ
elisio@mercomix.com.br
Em
meados da década de 1960, nas noites de quartas-feiras, logo após o jantar, na companhia
do meu avô materno costumava ir à casa do seu irmão, meu tio Aldo Medeiros, para
assistirmos filmes, que ele tinha prazer em projetar na tela pintada no muro do
jardim da casa da Rua Açu. Claro que para isso a primeira condição era ser uma
noite não chuvosa.
Após
uma conversa rápida, os adultos se dirigiam a lugares previamente estabelecidos,
sentando-se com cuidado para que ninguém tivesse a visão obstruída e pudesse
perder alguma das imagens a serem projetadas.
Eram
tomadas as devidas providências, como por exemplo: apagar as luzes do terraço e
sala, para evitar que a luz viesse contaminar as imagens. Após isso, a sessão
se iniciava e um mundo de luz e esplendor inundava os meus olhos infantis. Normalmente,
eu era a única criança presente, em meio aos espectadores casais.
Todos
assistiam em silêncio, interrompido vez ou outra por um esclarecimento de tio
Aldo ou tia Mili, que tinham como fundo sonoro o zumbido do projetor de cinema.
Lembro-me
claramente do projetor alemão 8 mm e seu ruído insistente na sala, instalado
sobre uma mesa de madeira escura, onde na parte inferior ficavam os carretéis
dos filmes a serem exibidos no dia.
Um
mundo novo e iluminado surgia aos meus olhos. Às vezes, as películas em preto e
branco registravam o casamento de algum membro da família, ou um acontecimento
importante. Porém, na maioria das vezes eram projetadas imagens de viagens de
tio Aldo e tia Mili pela Europa: as ruas de Londres, a Torre Eiffel, as ruas de
Zurique, as estações de trem da França...
Tio
Aldo tinha prazer de mostrar à família e aos amigos tudo que conhecera em suas
viagens no Exterior. As projeções eram acompanhadas de seus comentários e
explicações.
Contudo,
os filmes preferidos por todos eram os de Charlie Chaplin “Carlitos” (O Garoto;
O Circo; Tempos Modernos; O Grande Ditador; Luzes da Cidade, etc), com quem tio
Aldo se correspondia e tivera oportunidade de conhecer pessoalmente em uma de
suas viagens à Suíça.
Vez
por outra, as exclamações diante das cenas, risadas ou algum comentário vindo
das pessoas que ali se encontravam. Às vezes, a projeção era interrompida para
que o projetor esfriasse ou, em raras ocasiões, quando a película de celuloide
quebrava por alguma razão.
Às
20:30 horas, após um breve intervalo para um lanche e cafezinho servido por
Silvina, a sessão reiniciava. Eram instantâneos de outros Países que contemplávamos
em silêncio: ruas e edifícios, praças, automóveis e pessoas desconhecidas em
gestos apressados. Como os filmes eram mudos (alguns eram legendados), apenas
se ouvia o ruído do projetor que ficava às nossas costas.
Porém,
à medida que as fitas iam se sucedendo, o sono ia chegando para mim. Nessa
hora, eu procurava o enorme sofá da sala de visitas, e logo via nos sonhos os
fragmentos de imagens que, até pouco tempo, estava assistindo na tela.
Às
21:30 horas, meus sonhos eram interrompidos – estava na hora de voltarmos para
casa.
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