segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

POESIAS AMENAS DESTE DOMINGO


                        À TARDE VAMOS À PRAIA

nunca sabemos quando o mar nos quer


à tarde vamos à praia
e desafiamos as ondas
que bebem nossos planos de conquista


também procuramos encontrar
o rosto do sol
mas este segue o poente
e se esconde aos não iniciados


assim jamais obtemos resposta
e à nossa revelia o destino
vagos enigmas planta na areia


o vento os confunde e os refaz
e de novo indecifráveis
aos sonhos do coração agonizante

                                               (Horácio Paiva)

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PARADOXO
David de Medeiros Leite
(Incerto Caminhar)

Fotografias amareladas
nunca (re)vistas
Guardadas na caixa do sapato
que n
ao é mais usado.
Aquela cena atormenta.
E vem a vontade de
prosseguir o momento vivido ...
A saudade acalenta.
Será melhor rasgá-las?
Ou emoldurá-las?


CLÁSSICO BALÉ

David de Medeiros Leite
(Incerto Caminhar)

Para Alice

A bailarina faz plié
ao som de Chopin.

Rond de jambe à terre
ao som de Schumann.

Riimados saltos e piruetas
sempre arrimada na arte delicada.

E quando ao público
reverência fazia,
uma emocionada
e quase imperceptível lágrima
suavemente tocou o verniz do tablado.


                        ALDEBARÃ
                   Ciro José Tavares
“The keen stars were twinkling
And the fair moon was rising among Them.”
Percy bisshe Shelley
Época das sementes acontecida um dia,
época de seguir as Plêiades sem saber.
Na rede branca, à tarde, contemplando ocasos,
era o dia queimando olhos e horizonte.
A Ponta do Giz, na chegada, Bojador da infância
ao contorná-la esquecidos da fadiga,
a visão da gameleira vigiando dunas,
idade irrevelada, nunca ninguém soube
da resistência nem mesmo de mentira.
Não fossem os candeiros, empregados conversando,
barulho de pratos e talheres nas bacias de ágata,
seríamos isolados e solitários peregrinos.
Concluída a mesa, a casa toda alumiada,

tínhamos os alpendres, a roda de toscos tamboretes
partida pela régia rede branca balançando.

No lado levante sentava-se a rendeira,
feições de Átropos chamada de Constança.
Eu adormecia no colo da pastora ouvindo os bilros,
a tosse seca interrompendo estórias,
 o forte ruído da maré cheia ao quebrar nos arrecifes.
O tempo interligado aos padrões convencionais,
galos anunciavam e os cães acordavam madrugadas,
mas apenas o sol marcava o princípio e o fim.
Um dia, no breu da noite, o contemplador
pegou-me pela mão e no caminho da Ponta do Giz
vestiu lembranças nos sussurro  inaudíveis.
Sentou-se na proa da jangada de velas arriadas
e diante dos meus olhos a cena inesquecível:
Mãos em concha, pulsos ancorados nos joelhos,
chocavam-se os dedos num vaivém de ondas inquebráveis.
Cabeça pendida mergulhada em sonhos
que não deviam ser interrompidos quando de repente
emergiu colossal, olhos marejados,
 cálices de Parsifal transbordando  antigas aflições.
Como shanachie falou de Berlim,
de Viena, de Paris, de Calais na Normandia,
dos ventos gelados de Boulogne –sur-Mer,
calças de flanela, abrigo de tweed cerzidos pela pressa,
trens,navios, porto, do despachante Huet,
do mar aberto depois do enrocamento única saída.
Miríades de estrelas derramavam
tênue claridade sobre os arrecifes
que conosco dividiam enorme solidão.
O búzio da praieira rompeu a quietude num instante,
um som plangente que saudoso posso ouvir.
No regresso a casa, apagados os lampiões,

cegos prometemos seguir as Plêiades outra vez.
Não aconteceu. Vencidos pelo tempo nunca mais voltamos.

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