UMA SAUDADE MENOS DOÍDA
Carlos Roberto de Miranda Gomes, advogado e escritor
Leitor diário da Cena
Urbana, não pude resistir de fazer um breve comentário da coluna tradicional de
Vicente Serejo, publicada no JH deste dia da consciência negra.
Não sei qualificar se “Luiz,
lua, luar” é uma prosa romanceada ou poética. Possivelmente as duas coisas.
Bem, isso não interessa, pois o importante é a narrativa das emoções causadas
numa sala de cinema, trazendo a lume um registro do repórter da província feita
com o imortal Luiz Lua Gonzaga em tempos bem passados e a saudade de um pai
apreciador dos discos de vinil do consagrado “sociólogo” popular, que retratou,
como ninguém, o chão de terra bruta de um nordeste sofredor, seus personagens
maiores, sua flora e fauna, os costumes e o cotidiano puro do sertanejo “arretado”
deste Brasil diferente.
Assisti também o filme e
nele vi o conflito de pai para filho, os contrastes ambientais de um puro
sangue dos sertões bravios e o menino carioca da gema, que se afinam num tempo
de vivência sofrida, onde nunca faltou o amparo financeiro, mas careceu da
presença amorosa do pai, deixando marcas profundas.
Não existem culpados,senão a
própria sobrevivência e o choque de gerações, enriquecidas por pai e filho,
cada um no seu pedaço original, que despejaram na música cada sofrer pessoal
Copio o autor do texto ao
confirmar que a mesma experiência sentida teve albergue em mim, uma vez que
senti próximo duas ausências – do meu pai, que foi um homem de anel no dedo e o
meu avô, um sertanejo das bandas de Pitombeira de Taipu, que ouvia o filho de
Januário, ainda em 78 rotações, cheirando uma pitada de rapé (também chamado de
torrado), no momento exato em que Luiz dizia com voz rasgada –“ei o
torrado!!!!!
Luiz Gonzaga era tão bom,
que permitiu esses reencontros emocionais, mantendo uma saudade menos doída,
porque tocada da alegria registrada em momentos dos nossos entes queridos que
já estão em outra dimensão da existência.
“As luzes acesas e as
pessoas saindo, como se tudo fizesse parte de uma história pessoal.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário