POEMAS DO SENTIMENTO COTIDIANO
(apropósito
das declarações do Ministro daJustiça, José Eduardo)
BALADA
DO CÁRCERE DE READING
OSCAR WILDE
Parte 5, estrofes 1, 2, 3
e 4.
Não sei
se as leis são justas ou injustas,
Nós que
jazemos na prisão,
Tudo
quanto sabemos é que é forte
Essa
muralha que a circunda;
E que
igual a um ano é cada dia,
Ano de
dias infindáveis.
Mas o
que sei é que todas as leis,
Pelo
homem feitas para os homens
Dês que o primeiro seu irmão
matou
E deu início ao triste
mundo,
O trigo espalham e retêm a
palha
Com seu crivo de malefícios.
Eu sei também – e quão sábio
seria
Que o mesmo cada qual
soubesse
Que é feita de tijolos de
ignomínia
Toda prisão que os homens
erguem,
Com grades para o Cristo não
ver como
O homem mutila seu irmão.
Essas grades a lua amável mancham
E escurecem o sol bondoso;
Bem fazem no esconder o seu
inferno
Pois nele coisas se praticam
Que nem Filho de Deus ou
Filho de Homem
Jamais devia contemplar.
BORBOLETA INFITETA
Natal já foi mais bela em gestões passadas haviam as ruas limpas árvores iluminadas dava gosto de sair para curtir as noitadas A lagarta se fez borboleta tão má maltratando o povo todo dia sem pará deixando faltar tudo só lixo a aumentar Agora tudo é feio borboleta sujou as praças e as ruas nada lhe escapou batendo suas asas Natal desmoronou São tantas as mentiras que doem em nossa alma até quem já morreu tem medo da danada de perturbar o sono de forma desvairada Nunca teve Natal este cartão postal sujo e fedorento mísera capital governada por mosca vetor de funeral Tá findando seu tempo prefeita infernal que fez do paraíso uma desgraça total atingindo o povo que não lhe fez nenhum mal. (Mané Beradeiro) |
FAZER OITENTA ANOS É FÀCIL
MilaRamos
Na verdade, não percebi diferença
nenhuma de ontem, com 79, para hoje. As diferenças veem de longe.
Veem do tempo em que eu gostava sair
– e tinha companhia para isso.
Veem do tempo em que, para ver um bom
filme, eu precisava sair de casa.
Veem de quando eu gostava de comprar
roupa nova, de fazer dieta e emagrecer, de arrumar o cabelo, de usar salto alto...
As diferenças veem chegando aos
poucos e a gente nem se dá conta.
O primeiro choque chega com a
aposentadoria, mas doeu pouco porque logo fui chamada por pessoas que confiavam
em mim aos 60 anos, para um árduo trabalho cultural. Consegui realizá-lo.
E parei de jogar, segundas animadas
com a Vada, a Mariza, a Hilda - depois a Iara.
Depois, assumi com prazer e orgulho,
uma página semanal em a Notícias do Dia e fiz leitores a mil. Quando cansei,
pedi pra sair, deixando, segundo a Direção do Jornal, as portas abertas. Às
vezes, volto lá.
Depois disso, comecei a não sair de
casa. E ainda pago para ficar aqui.
Sou dona da minha vida, não sei até
quando. Cuido da minha saúde, vou aos médicos sozinha, ao banco, ao
supermercado, à livraria. E só. À Igreja, quando posso ir à tarde, pois que
minhas Igrejas de Nossa Senhora de Fátima e de Santo Antônio, às vezes,
celebram Missa à tarde.
Aos domingos, minha fé fica ao
encargo do Divino Pai Eterno e Ele vem aqui em casa.
Não vou mais a festas. Nem a
enterros.
Não acho graça em nenhum dos dois.
Adoro que venham aqui as pessoas
gostam de mim.
Minha casa me sustem, meu jardim me
encanta, meu escritório é meu mundão. Ele preenche-me de quase tudo o que ainda
necessito : zelar pela minha memória que é muito boa, graças a Deus. Não digo
ótima porque, de repente, falta-me o nome de alguém ou de algo, uma palavra que
tem o significado exato para o que quero dizer ou escrever. Aí, um sinônimo e
salvai-me Santo Aurélio.
Minha
leitura sempre me levantou a alma e hoje é meu passatempo maior. Vivo
alimentada por excelentes autores, alguns atuais, outros mais antigos, mas
todos muito, muito bons.
E o computador preenche-me todo o
espaço livre ( benditos GBs) e leva-me para perto de quem está longe, mas vive
no meu coração.
Fácil assim: ninguém muda por dentro,
a gente é sempre a mesma, bonita ou feia, mesmos anseios, mesmos amores,
aqueles defeitos de sempre, grandes ou pequenas alegrias.
Pessoas somem da nossa vida, outras
chegam, sempre dando-nos motivos para que a vida siga igual, com alegrias,
enxaquecas, gripes e dores. Mas passa: a gente sentia dores quando tinha 20 ou
50.
E revivemos surpreendentemente, mesmo
aos 80 anos.
E envelhecer é um processo
impercebível, graças a Deus.
BENDIZER
Odúlio Botelho Medeiros
(madrugada do dia 05.09.12)
BENDIGO o dia que amanhece com os seus raios de vida e calor.
BENDIGO a fé nas alturas que alimenta e nutre o espírito
BENDIGO a virtude que educa e fomenta a paz
BENDIGO a amizade que semeia o bem e enaltece a gratidão
BENDIGO o perdão que dignifica os gestos e alcança a alma
BENDIGO a família que fortalece o ânimo e afasta a solidão
BENDIGO o amor que motiva e transborda as fibras do coração
BENDIGO a Deus que é a razão maior da existência
O MESMO SENTIMENTO
LEIO NO POEMA AS POMBAS, de Raimundo Correia:
“no azul da adolescência as asas voltam,
Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam,
E eles aos corações não voltam mais..”
LEIO NO POEMA INFÂNCIA, de Paulo Mendes Campos:
“Tínhamos pombas que traziam tardes
Meigas quando voltavam aos pombais;
Voaram para a morte as pombas frágeis
E as tardes não voltaram nunca mais.”
Comentário: Distantes no tempo e no espaço os dois poetas exploram o mesmo tema e o mesmo
sentimento. Beleza pura. (Ciro José).
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