domingo, 18 de novembro de 2012


POEMAS DO SENTIMENTO COTIDIANO

(apropósito das declarações do Ministro daJustiça, José Eduardo)

BALADA DO CÁRCERE DE READING
                       
OSCAR WILDE
                        Parte 5, estrofes 1, 2, 3 e 4.

            Não sei se as leis são justas ou injustas,
            Nós que jazemos na prisão,
            Tudo quanto sabemos é que é forte
            Essa muralha que a circunda;
            E que igual a um ano é cada dia,
            Ano de dias infindáveis.
            Mas o que sei é que todas as leis,
            Pelo homem feitas para os homens
Dês que o primeiro seu irmão matou
E deu início ao triste mundo,
O trigo espalham e retêm a palha
Com seu crivo de malefícios.
Eu sei também – e quão sábio seria
Que o mesmo cada qual soubesse
Que é feita de tijolos de ignomínia
Toda prisão que os homens erguem,
Com grades para o Cristo não ver como
O homem mutila seu irmão.
Essas grades a lua amável mancham
E escurecem o sol bondoso;
Bem fazem no esconder o seu inferno
Pois nele coisas se praticam
Que nem Filho de Deus ou Filho de Homem
Jamais devia contemplar.  



BORBOLETA INFITETA

Natal já foi mais bela
em gestões passadas
haviam as ruas limpas
árvores iluminadas
dava gosto de sair
para curtir as noitadas

A lagarta se fez
borboleta tão má
maltratando o povo
todo dia sem pará
deixando faltar tudo
só lixo a aumentar

Agora tudo é feio
borboleta sujou
as praças e as ruas
nada lhe escapou
batendo suas asas
Natal desmoronou

São tantas as mentiras
que doem em nossa alma
até quem já morreu
tem medo da danada
de perturbar o sono
de forma desvairada

Nunca teve Natal
este cartão postal
sujo e fedorento
mísera capital
governada por mosca
vetor de funeral

Tá findando seu tempo
prefeita infernal
que fez do paraíso
uma desgraça total
atingindo o povo
que não lhe fez nenhum mal.

(Mané Beradeiro)



 FAZER OITENTA ANOS É FÀCIL
MilaRamos

Na verdade, não percebi diferença nenhuma de ontem, com 79, para hoje. As diferenças veem de longe.
Veem do tempo em que eu gostava sair – e tinha companhia para isso.
Veem do tempo em que, para ver um bom filme, eu precisava sair de casa.
Veem de quando eu gostava de comprar roupa nova, de fazer dieta e emagrecer, de arrumar o cabelo, de usar salto alto...
As diferenças veem chegando aos poucos e a gente nem se dá conta.
O primeiro choque chega com a aposentadoria, mas doeu pouco porque logo fui chamada por pessoas que confiavam em mim aos 60 anos, para um árduo trabalho cultural. Consegui realizá-lo.
E parei de jogar, segundas animadas com a Vada, a Mariza, a Hilda - depois a Iara.
Depois, assumi com prazer e orgulho, uma página semanal em a Notícias do Dia e fiz leitores a mil. Quando cansei, pedi pra sair, deixando, segundo a Direção do Jornal, as portas abertas. Às vezes, volto lá.
Depois disso, comecei a não sair de casa. E ainda pago para ficar aqui.
Sou dona da minha vida, não sei até quando. Cuido da minha saúde, vou aos médicos sozinha, ao banco, ao supermercado, à livraria. E só. À Igreja, quando posso ir à tarde, pois que minhas Igrejas de Nossa Senhora de Fátima e de Santo Antônio, às vezes, celebram Missa à tarde.
Aos domingos, minha fé fica ao encargo do Divino Pai Eterno e Ele vem aqui em casa.
Não vou mais a festas. Nem a enterros.
Não acho graça em nenhum dos dois.
Adoro que venham aqui as pessoas gostam de mim.
Minha casa me sustem, meu jardim me encanta, meu escritório é meu mundão. Ele preenche-me de quase tudo o que ainda necessito : zelar pela minha memória que é muito boa, graças a Deus. Não digo ótima porque, de repente, falta-me o nome de alguém ou de algo, uma palavra que tem o significado exato para o que quero dizer ou escrever. Aí, um sinônimo e salvai-me Santo Aurélio.
Minha leitura sempre me levantou a alma e hoje é meu passatempo maior. Vivo alimentada por excelentes autores, alguns atuais, outros mais antigos, mas todos muito, muito bons.
E o computador preenche-me todo o espaço livre ( benditos GBs) e leva-me para perto de quem está longe, mas vive no meu coração.
Fácil assim: ninguém muda por dentro, a gente é sempre a mesma, bonita ou feia, mesmos anseios, mesmos amores, aqueles defeitos de sempre, grandes ou pequenas alegrias.
Pessoas somem da nossa vida, outras chegam, sempre dando-nos motivos para que a vida siga igual, com alegrias, enxaquecas, gripes e dores. Mas passa: a gente sentia dores quando tinha 20 ou 50.
E revivemos surpreendentemente, mesmo aos 80 anos.
E envelhecer é um processo impercebível, graças a Deus.


BENDIZER

Odúlio Botelho Medeiros (madrugada do dia 05.09.12)

BENDIGO o dia que amanhece com os seus raios de vida e calor.
BENDIGO a fé nas alturas que alimenta e nutre o espírito
BENDIGO a virtude que educa e fomenta a paz
BENDIGO a amizade que semeia o bem e enaltece a gratidão
BENDIGO o perdão que dignifica os gestos e alcança a alma
BENDIGO a família que fortalece o ânimo e afasta a solidão
BENDIGO o amor que motiva e transborda as fibras do coração
BENDIGO a Deus que é a razão maior da existência

O MESMO SENTIMENTO

LEIO NO POEMA  AS POMBAS, de Raimundo Correia:

                “no azul da adolescência as  asas voltam,
                Fogem... Mas aos pombais  as pombas voltam,
                E eles aos corações não voltam mais..

LEIO NO POEMA INFÂNCIA, de Paulo Mendes Campos:

                “Tínhamos pombas que traziam tardes

                Meigas quando voltavam aos pombais;

                Voaram para a morte as pombas frágeis

                E as tardes não voltaram nunca mais.”


Comentário: Distantes no tempo e no espaço os dois poetas exploram o mesmo tema e o mesmo sentimento. Beleza pura. (Ciro José).






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