segunda-feira, 22 de outubro de 2012


Cinema em Londres (II)

TN, 21 de Outubro de 2012




Marcelo Alves Dias de Souza - procurador da República 

Disse aqui, semana passada, que é à margem sul do Tâmisa, na região denominada de Southbank (e mais precisamente abaixo da Waterloo Bridge), que, para mim, está a joia da coroa em Londres, quando se trata de cinema: o British Film Institute – BFI.
Posso dizer que se trata de um complexo dedicado ao cinema. Se não estou enganado, ao todo são quatro salas de exibição. Certamente voltadas ao cinema britânico, não deixam de passar os lançamentos da época (como por exemplo, “On the Road”, do nosso Walter Sales, que estava em cartaz quando estive lá pela última vez). Junte a isso restaurantes e cafés, para bate-papos antes e depois das sessões. “The Riverfront”, por exemplo, fica à beira do Tâmisa, com uma parte interna e outra externa (para quem quer curtir a paisagem e as passantes). Mas eu recomendo o “Benugo Bar & Kitchen”, já bem para dentro do prédio, no qual, para minha surpresa, um dia fui servido, sentado em uma aconchegante poltrona, por uma belíssima e sorridente garçonete italiana.

Acrescente, ainda, a “Filmstore” do British Film Institute, uma mistura de loja de DVDs e livraria, que é excelente. Para qualquer cinéfilo, é um achado em termos de variedade, qualidade e, levando em consideração as frequentes promoções, preço.
Melhor ainda, até porque de graça, é a “Mediatheque”, onde se pode explorar boa parte do rico acervo do British Film Institute. São mais de 2000 vídeos, incluindo produções para cinema e para TV, que podemos ver sentados em uma confortável poltrona e com uma telona só para nós. Pode-se reservar um horário ou, como sempre fiz sem nenhuma dificuldade, aparecer lá e já ir assistindo.
Recentemente, acho que não faz três meses, foi inaugurada a “BFI Library”, com uma das maiores coleções de livros, periódicos etc., sobre cinema e televisão, do mundo. Gratuitamente aberta tanto para os especialistas como para o público em geral, além da agradável sala de leitura, está aparelhada com aquilo que a moderna tecnologia pode nos oferecer (como, por exemplo, scanners que nos permitem salvar eletronicamente o resultado de nossas pesquisas). 

E para além dos filmes de estilo e do seu acervo permanente, praticamente a cada mês, o British Film Institute nos presenteia com uma diferente mostra (ou festival) baseada em um tema específico. Por exemplo, quando estive por lá em agosto deste ano, a mostra/festival era “The Genius of Hitchcock”, em homenagem ao grande cineasta que, nascido em 1899 no populoso bairro de Leytonstone, em família de classe média baixa (de ascendência irlandesa e católica), é um dos filhos mais ilustres de Londres.
A mostra “The Genius of Hitchcock”, que teve início em junho e iria até outubro, tinha de tudo daquele que foi considerado, em 2009, pelo “The Telegraph” (a partir de opiniões de críticos especializados), como o mais importante diretor de cinema britânico de todos os tempos, à frente de outros gênios como Charles Chaplin (1889-1977) e David Lean (1908-1991). Além de vários estudos e documentários sobre a vida e a obra de Alfred Hitchcock (1899-1980), filmecos como “Rebecca” (1940), “Correspondente estrangeiro” (“Foreign Correspondent”, 1940)  “Interlúdio” (“Notorious”, 1946) “Festim Diabólico” (“Rope”, 1948), “Pacto Sinistro” (“Strangers in a Train”, 1951), “Janela Indiscreta” (“Rear Window”, 1954), “Disque M para Matar” (“Dial M for Murder”, 1954), “Ladrão de Casaca” (“To Catch a Thief”, 1955), “Um Corpo Que Cai” (“Vertigo”, 1958), “Intriga Internacional” (“North by northwest”, 1959), “Psicose” (“Psycho”, 1960), “Os Pássaros” (“The Birds”, 1963) e por aí vai.

A mostra/festival ainda deu ensejo à publicação de um volume apresentando os “39 passos essenciais” para se apreciar o gênio de Hitchcock, em uma referência direta ao filme “The 39 Steps” (1935), por muitos considerada a melhor obra do período “inglês” do diretor (e sobre a qual já tratei na crônica “Ao imenso Hitchcock”). 

De minha parte, nesses dias de verão em Londres, sempre que pude, visitei o British Film Institute, para curtir a mostra e, como recomendado, “xeretar” os conhecimentos e o acervo da BFI sobre Hitchcock. E aprendi bastante. Ao ponto de descobrir “Murder”, um Hitchcock de 1930 que é uma mistura de suspense com filme de tribunal, sobre o qual, um dia, falarei aqui. 

Quanto a você, caro leitor, que não pôde ver “The Genius of Hitchcock”, não se preocupe. Quando você for a Londres haverá, no British Film Institute, algo tão bom quanto. Ou, quem sabe, uma surpresa com um sorriso ainda melhor...

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