CHORO
POR VOCÊ
Ciro
Tavares
Choro
por você que não conheceu, em Natal, os cinemas Rex e São Luiz, ambos hoje
apagados da memória da cidade. Você que não participou das tardes alegres nem
assistiu aos filmes de Tarzan, com johnny Weissmuller. Você que não nos
acompanhou à Sorveteria Cruzeiro,não provou da cartola do Botijinha, do mineiro
assado e do maltado do Dia e Noite. Que não conversou nas noites dos domingos
na esquina da Avenida Deodoro com a Rua João Pessoa, quando moças bonitas
passeavam embriagando de sonhos nossos olhares, tempo da Praça Pio X que se
encantou na nova Catedral.Que não pode imaginar os momentos fantásticos do
cinema Rio Grande e nem sabe quem foi o pequeno Manoel dos pirulitos,ali na
porta, sustentando pesado tabuleiro, com balas, goma de mascar e chocolates. Hoje
o jornal informou que chita, a chimpanzé de Tarzan morreu, aos 80 anos, na
véspera do Natal. Deve ter escutado o grito do herói atravessando o espaço e e
foi juntar-se a ele. Vivi essa época e vivi intensamente. E por chorar com
saudades do animal acabo chorando por você.
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O GRANDE PONTO
Ciro Tavares
Ciro Tavares
O autêntico Grande Ponto que conheci
e frequentei, era o espaço relativamente curto na Rua João Pessoa, entre a Rua
Princesa Isabel e a Avenida Rio branco. Não conheci o Cova da Onça, na velha
Ribeira, mas acredito que, a exemplo de boa parte da atividade comercial que
veio para o que chamo Ribeira do Alto, denominada de Cidade Alta pela
ignorância administrativa, o comentado café que fechou por excesso de conversas
albergou-se, com os mesmos vícios, no Botijinha, esquina da Princesa Isabel,
lado esquerdo da João Pessoa.
Diante
dos meus olhos, deitados no tempo, sinto pulsar as edificações então existentes:
o Salão Bom Jesus, com Antônio Guedes, seus companheiros e a manicure Rita, a padaria do Sr. Teódulo Senna,a farmácia de
Rafael Cabral, a Sorveteria Cruzeiro, As lojas Setas para Homens, o café São
Luiz, do Sr. Luiz Veiga, a casa Vesúvio de Rômulo Maiorana, o estúdio
fotográfico de Valdemir Germano, a Helvética e a Cisne, dos irmãos Miranda e o
salão de sinuca, onde “Liliu” depenava os incautos.
Ao
longo dos anos, aconteceram as modificações. O Botijinha, que nunca teve portas
e no andar superior abrigava a sede do Santa Cruz Futebol Clube, consumiu-se
diante do progresso, mas deixou a saudade das deliciosas “cartolas”, e do
poético ambiente, porque humilde e acolhedor. O café Maia, de Rossini Azevedo,
substituiu o São Luiz, Antonio Guedes e os seus ocuparam a sobreloja do
edifício que Amaro Mesquita, finalmente, construiu, “depois de longo e
tenebroso inverno”.
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EXPRESSÕES DA TERRA NATAL
Para compreender melhor o diálogo dos natalenses, as pessoas
devem conhecer o significado de algumas palavras que são próprias dos
potiguares e empregadas habitualmente nas conversações.
1.
O
vocábulo maracatu, por exemplo, definido no dicionário Houaiss como “dança em que um bloco
fantasiado, bailando ao som de tambores, chocalhos e gonguê, segue uma mulher,
que leva na mão um bastão em cuja extremidade tem uma boneca ricamente
enfeitada (a calunga) e executa evoluções coreográficas” ou” música popular
inspirada nessa dança” , na linguagem popular seria o próprio calunga, a
pessoa desajeitada, desarrumada, sem modos e outros adjetivos que se equiparem;
2.
Temos,
também: prejura, possivelmente uma corruptela de perjurar, aplicado ao
indivíduo sem qualificação, falso, cretino, feioso, fedido;
3.
Reiera,
de péssima qualidade, porcaria ou porqueira;
4.
Reado,
talvez uma corruptela de relhar, ferrado, lascado, fodido;
5.
Excelência
o “maracatu” metido a bacana, a ser o que não é;
6.
Breado
o que, por medo, ou diarreia, se suja
nas próprias fezes.
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