quarta-feira, 24 de outubro de 2012


CHORO POR VOCÊ

Ciro Tavares

Choro por você que não conheceu, em Natal, os cinemas Rex e São Luiz, ambos hoje apagados da memória da cidade. Você que não participou das tardes alegres nem assistiu aos filmes de Tarzan, com johnny Weissmuller. Você que não nos acompanhou à Sorveteria Cruzeiro,não provou da cartola do Botijinha, do mineiro assado e do maltado do Dia e Noite. Que não conversou nas noites dos domingos na esquina da Avenida Deodoro com a Rua João Pessoa, quando moças bonitas passeavam embriagando de sonhos nossos olhares, tempo da Praça Pio X que se encantou na nova Catedral.Que não pode imaginar os momentos fantásticos do cinema Rio Grande e nem sabe quem foi o pequeno Manoel dos pirulitos,ali na porta, sustentando pesado tabuleiro, com balas, goma de mascar e chocolates. Hoje o jornal informou que chita, a chimpanzé de Tarzan morreu, aos 80 anos, na véspera do Natal. Deve ter escutado o grito do herói atravessando o espaço e e foi juntar-se a ele. Vivi essa época e vivi intensamente. E por chorar com saudades do animal acabo chorando por você.


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O GRANDE PONTO

Ciro Tavares

            O autêntico Grande Ponto que conheci e frequentei, era o espaço relativamente curto na Rua João Pessoa, entre a Rua Princesa Isabel e a Avenida Rio branco. Não conheci o Cova da Onça, na velha Ribeira, mas acredito que, a exemplo de boa parte da atividade comercial que veio para o que chamo Ribeira do Alto, denominada de Cidade Alta pela ignorância administrativa, o comentado café que fechou por excesso de conversas albergou-se, com os mesmos vícios, no Botijinha, esquina da Princesa Isabel, lado esquerdo da João Pessoa.
Diante dos meus olhos, deitados no tempo, sinto pulsar as edificações então existentes: o Salão Bom Jesus, com Antônio Guedes, seus companheiros e a manicure Rita,  a padaria do Sr. Teódulo Senna,a farmácia de Rafael Cabral, a Sorveteria Cruzeiro, As lojas Setas para Homens, o café São Luiz, do Sr. Luiz Veiga, a casa Vesúvio de Rômulo Maiorana, o estúdio fotográfico de Valdemir Germano, a Helvética e a Cisne, dos irmãos Miranda e o salão de sinuca, onde “Liliu” depenava os incautos.
Ao longo dos anos, aconteceram as modificações. O Botijinha, que nunca teve portas e no andar superior abrigava a sede do Santa Cruz Futebol Clube, consumiu-se diante do progresso, mas deixou a saudade das deliciosas “cartolas”, e do poético ambiente, porque humilde e acolhedor. O café Maia, de Rossini Azevedo, substituiu o São Luiz, Antonio Guedes e os seus ocuparam a sobreloja do edifício que Amaro Mesquita, finalmente, construiu, “depois de longo e tenebroso inverno”.
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                                  EXPRESSÕES DA TERRA NATAL

      Para compreender melhor o diálogo dos natalenses, as pessoas devem conhecer o significado de algumas palavras que são próprias dos potiguares e empregadas habitualmente nas conversações.
1.    O vocábulo maracatu, por exemplo, definido no dicionário Houaiss como dança em que um bloco fantasiado, bailando ao som de tambores, chocalhos e gonguê, segue uma mulher, que leva na mão um bastão em cuja extremidade tem uma boneca ricamente enfeitada (a calunga) e executa evoluções coreográficas” ou” música popular inspirada nessa dança” , na linguagem popular seria o próprio calunga, a pessoa desajeitada, desarrumada, sem modos e outros adjetivos que se equiparem;
2.    Temos, também: prejura, possivelmente uma corruptela de perjurar, aplicado ao indivíduo sem qualificação, falso, cretino, feioso, fedido;
3.    Reiera, de péssima qualidade, porcaria ou porqueira;
4.    Reado, talvez uma corruptela de relhar, ferrado, lascado, fodido;
5.    Excelência o “maracatu” metido a bacana, a ser o que não é;
6.    Breado o que, por medo, ou diarreia,  se suja nas próprias fezes. 

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