domingo, 18 de setembro de 2011


ESTE DOMINGO É SÓ DA POETISA DA TERRA DAS MACAIBEIRAS, NOS SEUS 135 ANOS DE NASCIMENTO


AUTA DE SOUZA

(1876 — 1901)
Nasceu em Macaíba, em 12 de setembro de 1876, na rua do Comércio. A cidade era o principal centro político do Rio Grande do Norte naquela época. Órfã de pai e mãe já com pouca idade, cresceu em internato. Tuberculosa desde os quatorze anos, terminou seus estudos antes de retirar-se para o sertão, buscando melhores ares. Em 7 de fevereiro de 1901, sobrevém a morte, em Natal.
A enfermidade, apesar de reduzir a sua capacidade física de trabalho, ampliou a sua inclinação para a poesia, legando-nos as páginas mais belas de elevação espiritual e lirismo, marcando a poética brasileira e universal. Aqui um legítimo exemplo:

HORTO

“ Oro de joelhos, Senhor, na terra

Purificada pelo teu pranto ...

Minh’alma triste que a dor aterra

Beija os teus passos, Cordeiro Santo!


Eu tenho medo de tanto horror ...

Reza comigo, doce Senhor!

Que noite negra, cheia de sombras.

Não foi a noite que aqui passaste?


Ó noite imensa ... porque me assombras.

Tu que nas trevas me sepultaste?

Jesus amado, reza comigo ...

Afasta a noite, divino amigo! ”


Eu disse ... e as sombras se dissiparam.

Jesus descia sobre o meu Horto ...

Estrelas lindas no céu brilharam,

Voltou-me o riso, já quase morto.


E a sua boca falou tão doce,

Como se a corda de um’harpa fosse:

“Filha adorava que o teu gemido

Ergueste n’asa de uma oração,


Na treva escura sempre envolvido,

Por que soluça teu coração?

Levanta os olhos para o meu rosto,

Que a vista d’ele foge o desgosto.


Não tenhas medo do sofrimento,

Ele é a escada do paraíso ...

Contempla os astros do firmamento,

Doces reflexos de meu sorriso.


Não pensa em dores nem canta magoas,

A garça nívea fitando as águas.

Sigo-te os passos por toda parte,

Vivo contigo como um irmão.


Acaso posso desamparar-te

quando me trazes no coração?

Nas oliveiras nos mesmos Horto,

Enquanto orares, terás conforto.


Olha as estrelas ... no céu escuro

Parecem sonhos amortalhados ...

Assim, nas trevas do mundo impuro,

Brilham as almas dos desolados.


Mesmo das noites a mais sombria

Sempre conduz-nos á luz do dia.”

Ergui os olhos para o céu lindo:

Vi-o boiando num mar de luz ...


E, então, minh’alma, n’um gozo infindo,

Chorando e rindo, disse a Jesus:

“Guia o meu passo, nos bons caminhos,

Na longa estrada cheia de espinhos.


Dá-me nas noites, negras de dores,

Uma cruz santa para adorar,

E em dias claros, cheios de flores,

Uma criança para beijar.


Junta os meus sonhos, no azul dispersos,

Desce os teus olhos sobre os meus versos ...

E vós, amigos tão carinhosos,

Irmãos queridos que me adorais


E nos espinhos tão dolorosos

De minha estrada também pisais ...

Velai comigo. longe da luz,

Que já levantam a minha cruz.


A hora triste já vem chegando

De nossa longa separação ...

Que lança aguda vai traspassando

De lado a lado meu coração!


Não adormeçam, meus bem amados,

Já vejo os cravos ensangüentados.

Longe, bem longe, naquele monte,

Não brilha um astro de luz divina ?


É o diadema da minha fronte,

É a esperança que me ilumina!

A cruz bendita, que aterra o vício,

Fogueira ardente do sacrifício.


Adeus, da vida sagrados laços ...

Adeus, ó lírios de meu sacrário!

A cruz, no monte, mostra-me os braços ...

Eu vou subindo para o calvário.


Ficai no vale, pobres irmãos,

Da. vovozinha beijando as mãos.

E, se ela, inquieta, com a voz tremente,

Ouvindo as aves pela manhã,


Interrogar-vos ansiosamente:

“Que é do sorriso de vossa irmã?”

Dizei, alegres: foi passear ...

Foi colher flores para o altar.”


E, quando a tarde vier deixando

Nos lábios todos saudosos ais,

E a pobre santa falar chorando:

“A minha neta não volta mais?”


Dizei, sem prantos: “A tarde é linda ...

Anda nos campos, brincando ainda.”

Livrai su’alma do frio açoite

Das ventanias que traz o inverno ...


Cerrai-lhe os olhos na grande noite,

Na noite imensa do sono eterno.

Anjo da guarda, de rosto ameno,

Mostra-me o trilho do Nazareno ...

..................................................

E ... adeus, ó lírios, do meu sacrário,

Que eu vou subindo para o calvário!




















































































































































































































































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