quarta-feira, 15 de junho de 2011


O LIVRO DE LAURENCE BITTENCOURT LEITE
Por Franklin Jorge


Uma reflexão lúcida sobre a cultura que nos caracteriza e que se apresenta através de valores isolados, teimosos, que insistem em sobreviver num ambiente áspero e inóspito para as pessoas sérias e cultas. E o “sério” aqui não é sinônimo de sisudez, mas de respeito à alta cultura e à busca da qualidade que, segundo Lênin, devia estar presente em tudo.

Aqui, o professor bem provido de leitura e conhecimento, questiona a cultura do isolamento e da dispersão que fomenta o oficialismo em sua farsa que seria inconsequente se não atrasasse um processo cultural que se estiola em confronto com o marasmo e a falta de projeto e planejamento capazes de nos inserir num contexto geral, não mais reduzido ao popularesco e ao popular demagógico que caracterizam o discurso de “socialistas” providos de sinecuras e sem nenhum compromisso efetivo com a socialização do conhecimento; meros e vulgares gozadores de um dolce far niente que agrava o marasmo e a falta de ter o que fazer das instituições oficiais criadas para preservar e difundir a cultura.

Laurence Bittencourt Leite se mostra um crítico perspicaz da cultura local. Bem-intencionado e corajoso em seus conceitos, na medida em que se mostra apto e disposto a nos chamar a atenção para uma realidade ingrata e pertinaz que se disfarça em palavras desprovidas de pensamento. Laurence leva-nos através de seus escritos a pensar nas distorções que dominam o anúncio improvisado de alguma coisa futura que nunca se concretiza e que em nenhum momento tem dado o ar de sua graça.

Coloca Laurence com elegância que lhe é própria as coisas que vivenciamos aqui, governo após governo, tendo em comum a todos os partidos a vocação para a inércia e o desperdício; enfim, uma cultura da incúria já sedimentada e que não resulta em ação concreta e regular, em seu infecundo processo de expressão e interação cultural.

Seu livro é um marco bibliográfico pioneiro. Exprime, em sua retórica boa, o contingente e o plural, ao trazer à discussão os problemas que nos afetam, dissecando-os, de maneira despretensiosa e eficaz; mostrando-nos o que é relevante e o que nos fere a autoestima. “Por Que Não o Que é Nosso?” é, desde já, uma obra de referência para estudiosos e pesquisadores da produção cultural no Rio Grande do Norte. O momento em que um crítico sem preconceito inaugura um diálogo inovador com linguagens distintas, como a prosa de ficção, o jornalismo dito cultural, a poesia e o teatro, uma das grandes e insatisfeitas paixões desse autor em permanente processo de realização.

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