sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

Cartas de Cotovelo – Verão de 2025 – 05 Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes PASÁRGADA E SUAS MUTAÇÕES Sempre fui um praiano inveterado, mercê da vontade paterna de procurar descanso em todos os períodos de férias. Assim aconteceu em Barra de Cunhaú (começo dos anos 40), Redinha (anos 40, 50 e 60) e nas praias de Natal, até os encantamentos dos velhos Desembargador José Gomes e Dona Lígia, quando procurei fazer voo solo, visitando minha irmã Elza em Pirangi, alugando casas em solidariedade com Dr. Almir e, almoçando no Recanto do Garcia e, no final de 1989 alugando a casa de Zequinha (José Correia de Azevedo), em Cotovelo, na Rua Parnaíba. Nesse último veraneio tive a impressão de haver conquistado a minha Pasárgada e adquiri um terreno ao Dr. Ronald Gurgel, na mesma rua e lá construí a minha casa, pausadamente em função das dificuldades financeiras, até o seu término uns três anos depois, sendo anualmente complementada com reparos e melhorias. Desse recanto, acostumei-me a receber inspirações na varanda do primeiro andar e a viver o encantamento da noção de Pasárgada – aquela cidade da antiga Pérsia, hoje um sítio arqueológico na província de Fars, no Irã, concebida no tempo de Ciro II do Império Aquemênida, que ganhou na história e na literatura a concepção de lugar de liberdade, refúgio, de amor e harmonia. A propósito desse mundo encantado, ficou notabilizado por Manuel Bandeira no poema “Vou-me embora pra Pasárgada”...E quando estiver mais triste, mais triste de não ter jeito. Quando de noite me der vontade de me matar, lá sou amigo do rei, terei a mulher que eu quero na cama que escolherei. Vou-me embora pra Pasárgada. (Esclareço a mulher que escolhi até a sua viagem final foi Therezinha, que partiu coincidentemente num veraneio no trágico, para mim, ano de 2019. Pois bem, vivi esse estágio por alguns anos, quando então vem o “progresso?” me coloca entre duas avenidas – de costas para a estrada de ida a outras praias do sul e na frente com o retorno, com os roncos dos motociclistas apostando corrida, o Circo da Folia, que parecia tocar na minha janela, os barulhos dos carros de som no engarrafamento. Contornei todos esses percalços porque as pessoas da Comunidade continuaram a irradiar harmonia, compreensão e amizade. Até criaram uma associação chamada PROMOVEC em 1987 da qual tornei-me seu integrante lá pelos idos anos 90 e conheci a sua história. Da sacada do primeiro andar minutei muitos artigos e criei um deles com a denominação de Cartas de Cotovelo, com 15 anos de publicação, contando as coisas do lugar e escrevi três livros, sendo um deles todo vivido na praia de Cotovelo (Amor de Verão). Para a PROMOVEC fiz inúmeros Informativos e no seu prédio fiz três lançamentos memoráveis. Enfim, vivi as delícias da cidade de Pasárgada. De maneira incompreensível, o aumento de veranistas provocou a diminuição de associados da Entidade, possivelmente porque tudo estava indo tão bem que se perdeu o espírito associativo e hoje estamos reduzidos a cerca de 80 membros num ambiente de desunião, haja vista as “pelejas intermináveis nos grupos de WhatsApp”, que começam cada dia deste 2025 com cobranças extemporâneas a uma administração que começou no dia 04, numa quebra da harmonia. Venho prestando os meus serviços, inteiramente gratuitos à Comunidade, editando a crônica dos acontecimentos de cada veraneio, mas não fui poupado durante a campanha para a eleição da última Diretoria, quando fazia intervenção especificamente sobre as regras estatutárias, que ajudei a elaborar por duas vezes, razão pela qual, mercê da minha idade e estado de saúde resolvi calar para evitar mais problemas para a associação, mas que em qualquer tempo poderei ter oportunidade de prestar os devidos esclarecimentos. O tempora, o mores!

Um comentário:

  1. Pelo visto, até mesmo a querida "Passárgada" tem sofrido drásticas e incompreensíveis transformações. Contudo, nunca é demais saber que a crítica pode e deve ser livre, mas também e, sobretudo, factual e justa. Para o bem da boa e construtiva convivência.

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