Cartas
de Cotovelo – Verão de 2023 – 4
Por:
Carlos Roberto de Miranda Gomes
LEITURAS
DE VERANEIO
Neste veraneio fragmentado os livros povoam as
cercanias da minha rede e vou lendo até o sono, até ser forçado pela brisa da
varanda me derrubando de corpo inteiro.
Após o voo transcendental do sono,
desperto com o volume caído sobre mim, convidando-me a continuar a leitura até
outro surto de sonolência, o que me faz repetir a mesma página um punhado de
vezes.
Obras sobre genealogia potiguar é
sempre do meu agrado, mas os preferidos são os aleatórios – prosa, poesia,
ficções, reflexões e por assim continuar.
Destaco alguns trabalhos que ficam
empilhados na cabeceira para eventuais consultas rápidas, tais como Reflexões
de um Provinciano (Caio Flávio Fernandes); 100 frases & Pensamentos (Juarez
Chagas); Epigramas de Nino (Vicente Serejo); e Novos Poemas Dedicados (Francisco Ivan) - um dos quais, com justiça, em homenagem a Abimael Silva.
No mais, os enigmas de Francisco
Sobreira (Uma noite linda – Mas para quem?), tive de fazer uma segunda leitura
para destrinchar a trama da morte de Romeu Aldigheri, a presença do forasteiro
Douglas e o mistério da viúva Louise com a jovem Susana; as pequenas histórias
de Honório de Medeiros (De uma longa e áspera caminhada); A bela narrativa do Sapo de Pedra e a Magia do Feiticeiro (Raimundo Inácio) e, por fim,
temporariamente, Da Caverna à luz, de André Paganelli.
Desse punhado de livros, atrevo-me a
fazer deduções lúdicas, telúricas ou realistas? Nem sei o que! Mas sempre me
encontro com A República de Platão, em sua parte sobre o Mistério da Caverna.
A Caverna de Platão sempre está
presente em variadas coisas do cotidiano – seja nas questões ideológicas
políticas, na literatura, na própria existência. Explico:
I
– Quando nos fechamos na interpretação das ideologias, de maneira hermética,
temos a impressão apenas do que se encontra fechada naquele conteúdo teórico,
fazendo juízo de valor destorcido das coisas do mundo, até que elas recebam a
luz da realidade fática, daí saírem os seus intérpretes fundamentalistas ou
existencialistas.
II
– Na literatura, alguns se enclausuram nas suas leituras individualistas, sem o
clareamento da luz e transmitem seus conhecimentos, muitas vezes abundantes, em
escritos ininteligíveis porque numa linguagem que não chega aos demais
viventes, tornando-se, assim, o homem, ou melhor, a criatura da caverna,
conhecedor de uma realidade sem luz, sem alcance fora das sombras das paredes
iluminadas pela fogueira;
III
– A existência carece de conhecimento, eruditos ou populares, mas integralmente
compreensíveis no cotidiano, sem a vaidade (que é uma caverna) de apenas
enaltecer a si próprio, empurrando de goela abaixo publicações que, de tão
pesadas, não permitem acesso à plebe rude.
Graças ao Criador, nunca passei pela
Caverna, pois tenho a certeza de que, sem erudição, consigo penetrar o coração
dos meus poucos leitores, trazendo-lhes lembranças, saudades e experiência.
Fico gratificado quando alguém informa
que gostou da minha prosa. E espero que não seja só por gentileza. (O elogio
gratuito é outra caverna). O silêncio tem luz própria.
Esse é o motivo da minha possível imortalidade e
não a pompa de vestes acadêmicas, a pose de intelectual ou a empáfia da
sabedoria – que não tenho. Tomando por empréstimo dito do Professor Mário Porto
– o que interessa é o amor do meu semelhante e a salvação da minha alma.
Como faz bem o mar, a luz e a brisa –
eles nos indicam a nossa finitude, a nossa mortalidade, a humanidade de ser e
até a falta de lucidez ao escrever esses mal traçado textos.
Como faz bem o mar, a brisa, os textos de Carlos Roberto de Miranda Gomes e o agradecimento a Deus por tê-lo como amigo. Conviver com o nobre confrade só diminue a minha ignorância!
ResponderExcluirQue texto bom professor. Grato pela oportunidade de acessá-lo por aqui.
ResponderExcluirOs bons livros nos dão sempre uma excelente oportunidade de irmos em épocas e lugares diferentes. Desejo-lhe ótimo veraneio.
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