A paz e a humanidade
Daladier Pessoa Cunha LimaReitor do UNI-RN
Paz, palavra diminuta, exprime pensamento prolixo, profundo e crucial para o homem. Comum em textos religiosos, documentos oficiais, plataformas políticas, discursos e mensagens individuais, é muito mais escrita e pronunciada do que vivida. Esteja onde estiver, preso a qualquer circunstância, o vocábulo paz tem significado profuso, extraordinário, tanto no âmbito pessoal, quanto nas inter-relações humanas, das mais íntimas e particulares às mais amplas possíveis. O significado é maior quando implica paz de espírito, paz na consciência, ou sentimento de harmonia com Deus, com a vida e com o mundo. O oposto dá lugar ao desespero, à angústia e à crise de culpa, que podem levar a gestos extremos, tal qual o exemplar e histórico episódio do suicídio de Judas. Isto remete a São Francisco de Assis: “Para pregar a Paz, primeiro você deve ter a Paz dentro de você”.
Justiça, liberdade e paz no mundo constituem os fundamentos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, proclamada pela ONU, em 1948. A paz está em todas as constituições, é defendida em prosa e cantada em verso, mas, a cada dia, parece se tornar mais expressão de retórica, distante da realidade. Seriam o egoísmo, a ambição e a agressividade inerentes aos seres humanos e, portanto, causadores de violência tão dispersa? Acreditamos nas virtudes superando os pecados, nos bons vencendo os maus, no amor acima do ódio. Em meio a tantas miséria e injustiças, a tantas mortes violentas e tantas guerras, parece-nos que o homem nunca esteve tão carente de Deus. Jesus proclamou: “Eu vos deixo a paz, eu vos dou a minha paz, para que a minha alegria esteja em vós e seja perfeita a vossa alegria”. Por que a humanidade não O escuta?
A paz predomina quando não somente se apregoa mas também se pratica a igualdade de direitos. Pode-se obter a paz social somente combatendo a violência urbana e o crime organizado, aumentando o efetivo policial e dando-lhe mais treinamento e armas? O correto é identificar as causas e corrigi-las. Por que não levar todas as crianças e adolescentes para a escola, atendendo-os nas suas diversas fases de desenvolvimento por projeto pedagógico de qualidade? Seria plantar hoje a semente da frondosa árvore de paz do amanhã. Nelson Mandela (1918-2013), um dos maiores líderes políticos do mundo no século XX, venceu o Apartheid da África do Sul, movimento que segregava a maioria negra do seu país. Em 1993, recebeu o Prêmio Nobel da Paz, e, no ano seguinte, sagrou-se vitorioso na primeira eleição democrática para Presidente da África do Sul. É de sua autoria uma das mais expressivas frases sobre o valor da educação: “A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo”.
O Professor Paulo Bonavides (1925-2020), talvez o maior constitucionalista brasileiro contemporâneo, reconhecido no Brasil e no exterior, em artigo publicado na Folha, há cerca de 15 anos, sob o título O Direito à paz, assim se expressou: “O Direito à paz é o direito natural dos povos. Direito que esteve em estado de natureza no contratualismo social de Rousseau e que ficou implícito como um dogma na paz perpétua de Kant. (...) Paz, portanto, em seu sentido mais profundo, perpassado de valores domiciliados na alma da humanidade”.
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