A PAQUERA
Valério Mesquita*
Lá
pela metade dos anos 70, o Rio Grande do Norte vivia um período pré-eleitoral.
Entra em cena o velho e tradicional município de Patu com a sua política
extremada que não diferia dos demais da região oeste. Ali pontificava uma
liderança emergente representada no universitário de Farmácia João Ismar de
Moura. Atritos e divergências entre partidários com a parcialidade da política
eram comuns. Certa vez, um primo do nosso João foi agredido por um soldado.
Avisado do fato o jovem político veio em defesa do parente. E recorreu ao
deputado federal Vingt Rosado em Mossoró, para mandar tirar a farda do militar.
O
líder mossoroense, como de costume, atendeu ao correligionário e passou a
diligenciar os procedimentos. Enquanto isso, em Patu, João se sentia perseguido
pelo soldado que acompanhava os seus passos a todos os lugares públicos da
cidade. Temendo uma iminente agressão do praça e conhecendo muitos exemplos
acontecidos ali mesmo e adjacências, recorreu a um amigo comum e ex-prefeito de
Natal Jorge Ivan Cascudo Rodrigues, bastante ligado ao então secretário de
segurança. “Jorge Ivan, esse rapaz se põe em pé, diante de mim, aonde eu chego
e estou temendo já ser fuzilado”, queixou-se. Preocupado com a ansiedade e
temor levou o problema diretamente ao coronel João Pinheiro da Veiga para
receber o acadêmico e líder patuense.
Em
Natal, na sede da SSP, João foi recebido em audiência. O ambiente era tenso,
pois se temia uma violência presumível ante qualquer providência que se tomasse
contra o militar agressor. Isto posto, inicia-se o diálogo. O coronel Veiga
pedia detalhes para ajuizar melhor na decisão. “Mas, quando o senhor se
encontra em lugares públicos, restaurantes, bares, farmácias, lojas, o soldado
assume alguma atitude hostil, faz gestos ameaçadores ou o que ele lhe dirige?”,
pergunta o secretário de segurança já curioso. João Ismar de Moura fez silêncio
e sublinhou: “Olhares”. Risos. Salomonicamente, Veiga transferiu o soldado de
Patu para Mossoró a fim de acabar com as suspeitas. Meses depois, João Ismar em
Mossoró se encontra com o mesmo soldado. Reviveu temores antigos mas o gelo foi
quebrado. O militar se dirigiu a ele e falou franco: “Doutor João, não queira
saber o favor que o senhor me fez, arranjando a minha transferência aqui para
Mossoró. Tô muito feliz com a minha família”. João deixou escorrer pelo abdômen
e entrepernas aquele suor frio mas gostoso e pleno de alívio.
(*)
Escritor.
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