Herpes Zoster ou cobreiro
Daladier Pessoa Cunha Lima Reitor do UNI-RN
As doenças virais, por vezes, são difíceis de se entender. Não seguem uma lógica padrão, a exemplo da maioria das doenças, conforme a sequência da fisiopatologia. A mais recente doença viral que se tornou numa pandemia, a Covid 19, além do rastro de mortandade e de sofrimento mundo afora, também revelou casos totalmente anômalos, na prevenção, no diagnóstico e no tratamento. Diante de tanta dúvida, de tanta celeuma, o melhor caminho é seguir a boa ciência, no intuito de acertar mais, ou até, de errar menos. Um dos principais vírus que exibe excêntrica explicação para as doenças que provoca, é o causador da varicela e do herpes zoster. É o mesmo agente etiológico, nominado vírus varicela zoster, causador de duas doenças totalmente diferentes. Uma pessoa que se curou da varicela ou catapora, mantém dentro do organismo, nos gânglios neurais sensoriais, o agente causador dessa virose, na espreita para voltar a atacar, a fim de se revelar sob o diagnóstico de herpes zoster ou cobreiro. O momento provável do ataque ocorre quando a imunidade se reduz por algum motivo, seja por uma doença grave, por tratamento imunorredutor ou mesmo pelo avanço da idade. Na Folha de S. Paulo, li recente matéria que aborda pesquisa realizada pela Universidade Estadual de Montes Claros, MG, a qual encontrou um crescimento de 35,4% nos casos de herpes zoster durante o primeiro ano da Pandemia de Covid 19. Os motivos não foram totalmente esclarecidos, mas há suspeitas de que estejam relacionados ao aumento de estresse, ansiedade e depressão, que podem conduzir a uma baixa de imunidade. Nessas eventualidades, o vírus varicela zoster pode retornar ao ataque, repito, não para reativar a catapora, mas para ativar o herpes zoster. No mínimo, é algo estranho, um mesmo vírus levar a dois diagnósticos diversos. Porém, na arte médica, há uma frase que aqui se aplica muito bem: “Na medicina, como no amor, nem sempre, nem nunca”. O herpes zoster ou cobreiro não se enquadra no rol das doenças graves, mas, na maioria dos casos, reveste-se de dor que muito maltrata a pessoa doente, e que precisa receber a devida atenção médica. Os sintomas, geralmente, começam com a sensação de queimação e ardor em uma área da pele, e, em seguida, surge a dor em fisgada. O mais comum é iniciar em uma área no meio de um dos lados do tórax, com lesões típicas, pápulas e bolhas, as quais seguem o trajeto de um nervo, em direção às costas. Essas lesões, gradativamente, vão se tornando mais dolorosas. Podem ocorrer sintomas gerais, como febre baixa e cefaleia. O tratamento, que deve começar o quanto antes possível, faz-se com antivirais e medicamentos para dor. Com os cuidados médicos corretos, o cobreiro permanece ativo por cerca de 15 dias. Em alguns casos, a dor pode persistir por meses, compondo o quadro da neuralgia pós-herpética. A prevenção se faz com a vacinação. No Brasil, estima-se que quase toda a população acima de 40 anos alberga em seu organismo o vírus varicela zoster. Na minha prática médica, acompanhei alguns casos de herpes zoster. Hoje, ao escrever este texto, estou sofrendo os efeitos do ataque do vírus da catapora, que tive há cerca de 70 anos. É isso, descuidei da vacinação. Agora, é torcer para não sofrer da neuralgia pós-herpética. Texto publicado na Tribuna do Norte, em 24/11/2022
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