Reinados, reis e rainhas
Daladier Pessoa Cunha Lima Reitor do UNI-RN
Em crônica recente na Folha de S. Paulo, o escritor Marcelo Coelho se refere ao rei Farouk 1º, do Egito, deposto em 1952, que dizia: “No futuro, só existirão cinco reis, os quatro do baralho e a rainha da Inglaterra.” Passadas cerca de sete décadas, a previsão do rei Farouk não se confirmou, pois, somente na Europa, ainda existem nove monarquias. Na Espanha atual, a monarquia retornou em 1975, criada num impulso do ditador Francisco Franco, que nomeou para a função o monarca Juan Carlos. Principalmente nos países mais representativos, como Reino Unido, Holanda, Suécia e Dinamarca, as monarquias têm somente o papel de representação, sem qualquer poder político. Não é à toa que a expressão “rainha da Inglaterra” é sinônimo de algo simbólico, alegórico. As monarquias, no geral, despertam simpatia e curiosidade nas pessoas, ao redor do mundo e ao longo do tempo. No entanto, nenhuma se iguala à monarquia do Reino Unido, que é líder de um grupo de 56 países soberanos, chamado de Commonwealth, dos quais 15 são reinados. Desde o dia 8 de setembro de 2022, com a morte da Rainha Elizabeth II, assumiu o Trono do Reino Unido o Rei Charles III, filho da charmosa monarca recémfalecida. Talvez falte ao novel rei o carisma tão presente na vida de Elisabeth II. Devido ao funeral da rainha do Reino Unido, a celebração dos 50 anos do reinado da rainha da Dinamarca, Margrethe 2ª, teve de ser reduzida somente para o âmbito interno. O reinado de Margrethe 2ª, hoje, é o mais duradouro da Europa. Ao se falar do reinado dinamarquês, vem logo à mente a frase “Há algo de podre no reino da Dinamarca”, de Shakespeare, em sua obra mais famosa, a tragédia Hamlet. Nesta mesma obra, outra frase profunda e atemporal: “Ser ou não ser, eis a questão”. A rainha Margrethe 2ª, que tem aprovação de 80% dos súditos, é prima distante de Elizabeth II. No início do século XX, quase todos os países da Europa mantinham o regime monárquico, com raras exceções, a exemplo da França. A Alemanha, a Rússia e o Império Austro-Húngaro aboliram o regime monárquico logo após a Primeira Guerra. Decorridas cerca de três décadas, também mudaram de regime a Bulgária, Romênia, Iugoslávia e a Itália, mas todos abraçaram o sistema democrático. No Brasil, destaca-se o reinado de Dom Pedro 2º, que durou 49 anos, três meses e vinte e dois dias. Dom Pedro 2º é o melhor exemplo de homem público do país, culto, respeitado, um democrata de cetro e coroa. A ruptura do regime, com a Proclamação da República, em 15 de novembro de 1889, deu-se em moldes de golpe de Estado, pois os donos do poder deram ao velho monarca a única opção de entrar em um navio e zarpar para a Europa, tornando-o órfão do seu próprio país. O navio Alagoas, que transportou a família real, levou 21 dias entre o Rio de Janeiro e Lisboa. Dom Pedro 2º resistiu, buscou alento nos livros, mas a imperatriz Tereza Cristina faleceu, poucos dias depois de chegar a Lisboa. O Brasil não soube se espelhar nos exemplos de Dom Pedro 2º, de probidade no serviço público e de amor às letras, à ciência e à educação. Seus méritos de estadista foram mais louvados no exterior do que no seu próprio país, porquanto foi chamado na Europa e nos Estados Unidos de “Governante modelo do mundo”.
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