A OUSADIA DE CRIAR
Valério Mesquita*
Alberto
Frederico de Albuquerque Maranhão nasceu em Macaíba, em 02 de outubro
de 1872 e faleceu em Angra dos Reis (RJ) no dia 1º de fevereiro de 1944.
Um meteoro de luz incandescente, que já aos 20 anos de idade colava
grau na Faculdade de Direito do Recife. Ocupou inúmeros cargos: promotor
público, secretário de governo, deputado federal por dois mandatos e
governador do Rio Grande do Norte, por duas vezes. Intelectual, publicou
livros e colaborou com diversas revistas literárias. Fundador do
Instituto Histórico e Geográfico do RN, em 29 de março de 1902. Era
filho de dona Feliciana e Amaro Barreto de Albuquerque Maranhão. Teve
irmãos que também se notabilizaram como ele na história.
De
compleição altiva, olhar sobranceiro, Alberto conduzia na palavra e nos
gestos toda a obstinação de uma inteligência que escolheu a cultura
como altar de sua crença. Naquele limiar do novo século era o homem
esculpido, de ritmo inimitável de ascensão para a luz que surpreendeu
até o irmão primogênito e líder Pedro Velho. E como primeiro impulso em
favor das artes e da literatura, através da Lei 145 de 06 de agosto de
1900, proposta por Henrique Castriciano, estabeleceu a premiação de
livros produzidos por autores domiciliados no Rio Grande do Norte. E,
logo em seguida, inaugurou o teatro Carlos Gomes, hoje Alberto Maranhão,
cuja renda do seu espetáculo inaugural foi revertida em favor dos
flagelados da seca que se concentravam em Natal. O seu humanismo e
nobreza de caráter alçaram-no à estatura de um Péricles de Atenas, tão
expressiva foi a sua afirmação cultural com a obra administrativa que
realizou.
No segundo mandato, fundou o
Conservatório de Música, o Hospital Juvino Barreto, a Casa de Detenção,
além da implantação da luz elétrica e dos bondes em Natal. Sem esquecer,
ainda, a criação da Escola Normal e a reforma da educação, bem como, a
edificação do Palácio do Governo na Praça 07 de Setembro. Uma visão
global da obra de Alberto Maranhão me leva a dizer que ele foi um
intelectual arrojado com uma intuição administrativa admirável, ao mesmo
tempo que um dirigente operoso com uma visão cultural futurista para o
inicio do século vinte. Conseguiu, até os nossos dias, irradiar uma luz
tão forte sobre a sua personalidade política, ao ponto de merecer o
respeito unânime de várias gerações, eternizado no tempo e no espaço.
Por
tudo isso, no dia 04 de outubro de 2005, os restos mortais dele e de
sua Inês, por iniciativa da Casa da Memória do Rio Grande do Norte,
apoiada pelo Governo do Estado e pelo Conselho Estadual de Cultura foram
trasladados para Natal. O homem não passa de uma extensão do espírito
do lugar. Tudo se desfaz, menos os elos nativos que o prendem à terra. O
homem será sempre prisioneiro de sua origem. Alberto Maranhão foi capaz
de compreender o legado dos seus ancestrais e apaixonou-se pela causa
pública no firme desiderato de dar glória ao seu Rio Grande do Norte.
Nele se resume a dimensão da política no seu sentido aristotélico. Cito
Pablo Neruda: “Ele sabia compartilhar conosco o pão e o sonho”. E a
ousadia de criar.
(*) Escritor
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