terça-feira, 11 de maio de 2021

 

  • IVO VIVE A POESIA
    Diogenes da Cunha Lima
    A poesia é verdadeiramente traduzida quando a linguagem
    atinge o grau de excelência. Ivo Barroso consagra a tese de que
    um grande poeta pode traduzir poesia. Ele traduz a nobreza
    intelectual de expressão saxônica e neolatina. Rimbaud, André
    Malraux, Gabriela Mistral, Montale, T. S. Eliot, Shakespeare e
    Hermann Hesse, entre outros, vestem a pele de Ivo.
    A Inteligência Artificial (I.A.) gera traduções por
    computadores. Nunca será capaz de traduzir emoção. Ainda que
    toda tradução seja sistêmica, afeita por I.A. será sempre algo
    insosso. A condução humana é imprescindível. Gaston Bachelard
    define: “Deve-se reconhecer que a poesia é um compromisso da
    alma. Nos poemas manifestam-se forças que não passam pelos
    círculos de um saber”.
    O poeta Ivo Barroso é um caçador de palavras. Dispara tiros
    certeiros. Acerta a palavra exata. Tem o domínio das línguas
    trabalhadas, seus detalhes, do mais despercebido significado até às
    sonoridades especiais. Apesar de ser um clássico, ele pertence à
    vanguarda artística. E não descura das novas tecnologias, porque
    sabe que “O Poeta não escreve. Sua escrita por mais breve ele
    digita”.
    Estimulando vocações intelectuais, notadamente de
    tradutores de Natal, Ivo Barroso aplaudiu as traduções de Luiz
    Carlos Guimarães e Nelson Patriota. Convidado a participar da
    Feira de Livros de Frankfurt, pedi a Nelson que traduzisse o meu
    livro “Flores que Encantam o Brasil”, inspirado na beleza das
  • fotografias de minha filha Leila. Encantou-me o trabalho. Nascera
    uma nova poética. Por justiça, são três os autores do “Charming
    Flowers of Brazil”.
    Ivo vive, desde os sete anos, a poesia, com versos cheios de
    rios, sois, savanas. Ele continua jovem, mas faz previsão de um céu
    dos velhos: “algodões de nuvens doces ou salgadas que se
    desfazem no céu da boca, colchões de nimbus que se amoldam à
    lembrança do corpo, nádegas de cúmulos alimentando a nostalgia
    do sexo”.
    Um literato de fama ironizou-me um dia dizendo que eu dava
    honra dos altares a esse meu ícone. Notei a tristeza da inveja e
    desviei a conversa para Dante Alighieri. Na Divina Comédia” o
    castigo dos invejosos era no purgatório, ter as pálpebras costuradas
    com arame. Certas línguas também devem ser costuradas. Lembro
    ainda São Tomás de Aquino para quem a inveja é a tristeza pela
    felicidade dos outros.
    Ivo Barroso é um homem feliz por dedicar a sua vida ao que
    ama, a ser fiel a si mesmo e a viver a poesia em plenitude.


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