segunda-feira, 23 de setembro de 2019


BARRO VERMELHO
Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes, morador
         A formação dos bairros fora do perímetro mais importante da cidade de Natal – Rocas, Ribeira, Cidade Alta, Petrópolis, Tirol e Alecrim, que concentravam os segmentos das atividades produtivas como comércio, navegação (a Igreja de São Pedro, em construção em 1919 ergueu uma torre alta para orientar os barcos), a pesca e serviços essenciais, decorreram de circunstâncias naturais.
         O bairro do BARRO VERMELHO (e não bairro Vermelho) teve essa denominação decorrente da coloração do seu solo (areia vermelha), e já era conhecido desde os primeiros tempos da fundação da cidade em 1599 quando os enviados de Dom Felipe II, Rei da Espanha procuravam um local adequado para iniciar a povoação. Isso se conhece pelos documentos históricos encontrados em fins do Século XVIII nos registros de doações de terras em 1787 e 1816. No entanto, o despertar de suas terras ocorreu por ser um lugar fora da área de comércio, se prestando para local de lazer, recomendado pelos médicos para melhoria da saúde, em razão de sua altitude, ventilação abundante, arborização preservada e visual exuberante das cercanias, particularmente do Rio Grande (Potengi), próximo do centro da cidade e por isso bastante procurado para formação de sítios, casas de repouso e de veraneio.
         Uma das motivações mais evidentes era de ser perto do Baldo, onde existia desde1905 uma fonte de água que servia de balneário e sanitário público, ponto de encontro dos seresteiros.
         A propósito, afirma CASCUDO, “Os melhores violões, as mais lindas vozes femininas e masculinas, as mais modernas saias balão, mangas presuntos inauguram-se no Barro Vermelho, nos São João famosos, com fogueiras e adivinhações”.
         Oficialmente se fez bairro pela Lei nº 4.327, de 05 de abril de 1993, publicada no Diário Oficial do Estado de 07 de setembro de 1994. Apesar disso, muitos imóveis são identificados como pertencentes ao Alecrim, Lagoa Seca e Tirol.
         Alguns acontecimentos marcaram a atenção para o bairro: em 1838 deu-se o assassinato do Presidente de Província “Parrudo” (Dr. Manoel Ribeiro da Silva Lisboa), no sítio Passagem; em 1868 foi realizada uma apresentação de teatro livre com a peça “Os Salteadores do Monte Negro”; vacarias, com leite cru, festas nos sítios dos seus mais vetustos moradores – Antonio Melo, Joaquim das Virgens, Desembargador Silvino Bezerra; Coronel João Gomes da Costa; família Pacífico de Medeiros, residência do Senhor João Café, pai do Presidente da República João Café Filho; residência da poetisa Palmyra Wanderley, que costumeiramente hospedava Alta de Souza; pic niks na Lagoa de Manuel Felipe; aqui moraram personalidades da vida social como Paulo Maux o Rei Momo, empresários, juízes, desembargadores, médicos, arquitetos, engenheiros, professores, escritores, cantores (Giliard e Pedrinho Mendes), poetas, grandes comerciantes, industriais, construtores e políticos como os Senadores Jessé Freire e Carlos Alberto.
         Eu tive a sorte de conhecer parte desses encantos e convivi com descendentes de todas essas famílias, inclusive sendo pertencente a uma delas.      Fui da primeira turma do Instituto Batista de Natal, nesta mesma rua; participei de muitas festas de São João; testemunhei quando aqui chegou o calçamento e a união da Rua Meira e Sá com a Alexandrino de Alencar com a retirada de pequena mata na rua Jaguarari.
         Assisti as missas dominicais na Igreja de São Pedro; compareci às festividades do Colégio das Neves; assisti muitos filmes, no Salão Paroquial da Igreja de São Pedro, depois Teatro Jesiel Figueiredo e Cine Olde.
         Agora, com a chegada do Padre Mota, começa a ressurgir a tradição no Barro Vermelho e adjacências, trazendo alegria, fé e confraternização a este bairro tão querido, ordeiro e trabalhador, que possui instituições importantes como a Casa de Apoio à Criança com câncer Durval Paiva, clínicas, padarias, farmácias, docerias e escritórios profissionais.
         Preservemos com carinho essa dádiva de Deus, na esperança da construção da nossa primeira Igreja de Nossa Senhora da Salette.
OBRIGADO.
Pronunciamento feito em 22/09/2019, após a missa de encerramento da festa em homenagem a Nossa Senhora da Salette.

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