terça-feira, 9 de julho de 2019


QUESTÃO DE CARÁTER

Valério Mesquita*
Mesquita.valerio@gmail.com

Conduta nefasta tem se disseminado em Natal. Não se sabe bem de onde veio. Como se trata de comportamento humano, médicos proctologistas já diagnosticaram que tudo é fruto do mau caratismo. Defeito de personalidade para uns, ou, transtorno procedimental para outros. Onde quero chegar, finalmente? Já quer saber o leitor. Só sei que, sete, entre dez executivos, políticos e/ou secretários, agem dessa forma. Em muitos, a vaidade doentia, a megalomania, a mediocridade caracterológica, são fatores preponderantes e prevalentes sobre a humanidade comum que desaparece, de repente, debaixo do verniz do locatário do cargo ou da função.
Hoje em dia, é raríssima a autoridade pública ou privada que dá retorno de telefonemas. Deixar recado é esforço pífio e inútil. Não existe mais apreço, atenção, respeito, civilidade, sociabilidade, humanidade. O político, via de regra, só retorna ligação se houver vantagem de voto gratuito ou financiamento de campanha. O empresário pergunta logo quem está na ponta da linha e quanto vai lucrar. Já alguns secretários de governo, nomeados para atender a sociedade, sempre estão em reunião com “aspones” para evitar interrupções que não atendam seus interesses imediatos. Devolver um telefonema que não foi atendido de imediato por ocupação instantânea ou outro motivo relevante, ou não receber um cidadão que pediu audiência, é ato de cavalheirismo, de educação, de nobreza que pouca gente cultiva.
Sei que muitos leitores estão incluídos na estatística dos sofredores. E gostariam de dizer o que afirmo agora. Os cultores da prática mafiosa alegam que é preciso racionalizar o tempo, eleger prioridades, formatizar custos e ganhos de produtividade, e, o lado humano/cidadão vai para o beleléu, descartado por não representar modernidade, segundo os fariseus dos templos públicos. Cheguei a imaginar, de início, que a minha tese é inconsistente. Seria antiquado portar-me assim, mandando a secretária anotar quem telefonou para retornar, em seguida, uma a uma, as ligações recebidas? Acho que não. Tudo é uma questão de estilo, de ética, de personalidade e de berço.
Quem tem medo do povo não ocupa cargo ou função pública! Deve se lembrar que o cargo não é todo seu e pertence também, a cada pessoa que deseja se comunicar. Mandato eletivo, igualmente, e atividade privada financiada com dinheiro público e dos bancos oficiais. Diga sim ou não. Mas, atenda. Não foi à toa que quintuplicaram o número de telefones no mundo e as portas oficiais se alargaram. Político que não atende eleitor é burro. Secretário que não retorna ligação ou não recebe ninguém é grosso. E empresário que não se comunica se trumbica, já dizia o velho guerreiro Chacrinha.
O recado está dado. Retornar ligação e conceder audiência pública são questões de caráter.
(*) Escritor.

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