FACULDADE DE DIREITO DA UFRN – 1968
Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes,
advogado
Num período conturbado da vida
brasileira, alguns estudantes potiguares ou aqui residentes, aventuram ingresso
na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Norte através
do vestibular do ano de 1964. Os que lograram êxito ingressaram no conturbado
mês de março daquele ano, quando rebentou o movimento militar, com seus
fundamentos voltados para evitar a vitória de uma teoria esquerdizante e, ao
mesmo tempo, colocar o País no seu eixo natural, eis que então existente um
período de verdadeira anarquia.
Aqui não tenho nenhuma intenção de
desenvolver as razões do movimento e do contra movimento, mas afirmar que foi
um período de extrema dificuldades, haja vista as adesões de colegas às duas
correntes, causando alguns transtornos que continuaram até a conclusão do
curso, em 1968, cuja solenidade ocorreu no dia 12 no Teatro Alberto Maranhão,
um dia antes da edição do famigerado Ato Institucional nº 5.
Entre os sonhadores com dias melhores para
o Brasil estava ARNALDO DE CARVALHO FRANÇA, jovem oriundo de uma família pobre,
sendo o pai motorista de caminhão e a mãe professora primária e ele próprio um
modesto vendedor no Mercado Público da Cidade Alta em Natal.
Logo no iniciar das atividades acadêmicas,
Arnaldo teve destaque em variadas habilidades: bom argumentador, esportista e
estudioso, foi gradualmente ganhando o respeito dos colegas ao ponto de alguns
deles – lembro bem de Valério Mesquita e Cláudio Emerenciano, chama-lo de
Arnaldo de Carvalho Santos, em alusão ao grande jurista natalense J.M. de
Carvalho Santos, radicado no Rio de Janeiro.
Muitos embates jus-filosóficos, muitas
participações nos certames esportivos e boa convivência nas reuniões sociais,
traçaram a trajetória do nosso colega de turma.
Com o diploma na mão, o ingresso na
Ordem dos Advogados do Brasil, Seção local, funcionário respeitado do Banco do
Estado de São Paulo – agência da Av. Rio Branco, assumimos uma parceria no meu
primeiro escritório de advocacia, formado com a participação, nada mais, nada
menos, do Professor José Gomes da Costa, meu pai e patrono da Turma (o paraninfo foi o Professor Carlos Augusto Caldas da Silva), mais meu
irmão Fernando de Miranda Gomes e do colega de turma Simeão de Oliveira Melo. Logo
ganhamos alguma notabilidade, haja vista que naquela época era mais comum a
advocacia individual. O papel timbrado com tantos nomes, mereceu o comentário jocoso
do afamado escrivão do 3º Cartório Fernando Carvalho: isso não é um escritório de advocacia, é uma quadrilha.
Arnaldo tinha tiradas importantes, uma
delas ficou gravada em bronze no Tribunal do Júri, cuja frase, confesso que não
me lembro, por enquanto, e também teve destaque nesse tribunal do povo, onde
doou grande parte de sua vida.
Solidário em todas as oportunidades, me
faz lembrar de uma audiência em que eu iria participar em defesa de um parente
e estava com o espírito armado para uma refrega agressiva. Ele não permitiu que
eu funcionasse e assumiu o patrocínio em meu lugar e tudo correu normalmente e saímos
vitoriosos.
Desfeita a parceria no escritório em
razão de fatores inevitáveis – falecimentos de papai e Simeão, assunção de
tarefas individuais diferentes, continuamos amigos, embora com menos encontros.
Foi o tempo em que se casou com Dona Munira, ganhando nova habilidade – exímio dançarino.
O tempo passou, encontros fortuitos – o último
deles em dezembro passado, com outros colegas de turma comemorando os 50 anos
de formatura. Começa 2019 eu fui para o meu tradicional veraneio de Cotovelo
até fevereiro, esperando voltar em março para o carnaval e aí o nosso Criador
resolveu me levar THEREZINHA, minha eterna amante. Mal me refazia do momento
mais agudo da saudade, sou informado por um dos seus filhos – Adonis ou Adonai,
não lembro, de que Arnaldo estava muito doente. Fiquei atordoado e fui visitá-lo
no Hospital Professor Luiz Soares e ali procurei dar-lhe algum alento dentro da
filosofia cristã, que foi aceito por ele com extremo respeito e fiquei
acompanhando a sua luta. Saíra do hospital, mas teve que regressar com uma
recaída. Hoje na hora do café, meu filho Rocco me diz, papai Arnaldo faleceu
ontem a noite. Novamente senti-me atordoado e marquei a ida para uma despedida
logo mais. Vou com Rocco e Rosa Lígia. Apressei-me a fazer estas rápidas linhas
para alertar os companheiros da Turma de 1968 da necessidade da nossa última
homenagem ao colega e amigo de muitas e belas jornadas, esperando que Deus o
proteja em sua nova morada, certamente nos jardins dos Céus, por merecimento.
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