segunda-feira, 8 de julho de 2019




FACULDADE DE DIREITO DA UFRN – 1968

Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes, advogado

        Num período conturbado da vida brasileira, alguns estudantes potiguares ou aqui residentes, aventuram ingresso na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Norte através do vestibular do ano de 1964. Os que lograram êxito ingressaram no conturbado mês de março daquele ano, quando rebentou o movimento militar, com seus fundamentos voltados para evitar a vitória de uma teoria esquerdizante e, ao mesmo tempo, colocar o País no seu eixo natural, eis que então existente um período de verdadeira anarquia.

        Aqui não tenho nenhuma intenção de desenvolver as razões do movimento e do contra movimento, mas afirmar que foi um período de extrema dificuldades, haja vista as adesões de colegas às duas correntes, causando alguns transtornos que continuaram até a conclusão do curso, em 1968, cuja solenidade ocorreu no dia 12 no Teatro Alberto Maranhão, um dia antes da edição do famigerado Ato Institucional nº 5.

        Entre os sonhadores com dias melhores para o Brasil estava ARNALDO DE CARVALHO FRANÇA, jovem oriundo de uma família pobre, sendo o pai motorista de caminhão e a mãe professora primária e ele próprio um modesto vendedor no Mercado Público da Cidade Alta em Natal.

        Logo no iniciar das atividades acadêmicas, Arnaldo teve destaque em variadas habilidades: bom argumentador, esportista e estudioso, foi gradualmente ganhando o respeito dos colegas ao ponto de alguns deles – lembro bem de Valério Mesquita e Cláudio Emerenciano, chama-lo de Arnaldo de Carvalho Santos, em alusão ao grande jurista natalense J.M. de Carvalho Santos, radicado no Rio de Janeiro.

        Muitos embates jus-filosóficos, muitas participações nos certames esportivos e boa convivência nas reuniões sociais, traçaram a trajetória do nosso colega de turma.

        Com o diploma na mão, o ingresso na Ordem dos Advogados do Brasil, Seção local, funcionário respeitado do Banco do Estado de São Paulo – agência da Av. Rio Branco, assumimos uma parceria no meu primeiro escritório de advocacia, formado com a participação, nada mais, nada menos, do Professor José Gomes da Costa, meu pai e patrono da Turma (o paraninfo foi o Professor Carlos Augusto Caldas da Silva), mais meu irmão Fernando de Miranda Gomes e do colega de turma Simeão de Oliveira Melo. Logo ganhamos alguma notabilidade, haja vista que naquela época era mais comum a advocacia individual. O papel timbrado com tantos nomes, mereceu o comentário jocoso do afamado escrivão do 3º Cartório Fernando Carvalho: isso não é um escritório de advocacia, é uma quadrilha.

        Arnaldo tinha tiradas importantes, uma delas ficou gravada em bronze no Tribunal do Júri, cuja frase, confesso que não me lembro, por enquanto, e também teve destaque nesse tribunal do povo, onde doou grande parte de sua vida.

        Solidário em todas as oportunidades, me faz lembrar de uma audiência em que eu iria participar em defesa de um parente e estava com o espírito armado para uma refrega agressiva. Ele não permitiu que eu funcionasse e assumiu o patrocínio em meu lugar e tudo correu normalmente e saímos vitoriosos.

        Desfeita a parceria no escritório em razão de fatores inevitáveis – falecimentos de papai e Simeão, assunção de tarefas individuais diferentes, continuamos amigos, embora com menos encontros. Foi o tempo em que se casou com Dona Munira, ganhando nova habilidade – exímio dançarino.

        O tempo passou, encontros fortuitos – o último deles em dezembro passado, com outros colegas de turma comemorando os 50 anos de formatura. Começa 2019 eu fui para o meu tradicional veraneio de Cotovelo até fevereiro, esperando voltar em março para o carnaval e aí o nosso Criador resolveu me levar THEREZINHA, minha eterna amante. Mal me refazia do momento mais agudo da saudade, sou informado por um dos seus filhos – Adonis ou Adonai, não lembro, de que Arnaldo estava muito doente. Fiquei atordoado e fui visitá-lo no Hospital Professor Luiz Soares e ali procurei dar-lhe algum alento dentro da filosofia cristã, que foi aceito por ele com extremo respeito e fiquei acompanhando a sua luta. Saíra do hospital, mas teve que regressar com uma recaída. Hoje na hora do café, meu filho Rocco me diz, papai Arnaldo faleceu ontem a noite. Novamente senti-me atordoado e marquei a ida para uma despedida logo mais. Vou com Rocco e Rosa Lígia. Apressei-me a fazer estas rápidas linhas para alertar os companheiros da Turma de 1968 da necessidade da nossa última homenagem ao colega e amigo de muitas e belas jornadas, esperando que Deus o proteja em sua nova morada, certamente nos jardins dos Céus, por merecimento.

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