MANOEL DE MEDEIROS BRITO
Carlos Roberto de Miranda Gomes
(mirandagomes1939@yahoo.com.br)
O tempo normal de vida era por volta de 70 anos (Salmos 90:10). A esperança de vida depende do lugar e
da época em que uma pessoa vive. De qualquer forma o excedente virá por
acréscimo e por ordem de Deus, segundo o merecimento de cada um. O próprio
Moisés viveu 120 anos mas isso é raro.
Pois bem, por ordem Superior o "Brito Velho" de guerra
chega aos 90 anos, de uma vida intensa, direcionada para o bem comum, como
paladino das boas ações.
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BRITO VELHO, NOVENTA ANOS
Valério Mesquita*
01) O ex-deputado, secretário de estado e conselheiro do
Tribunal de Contas do Estado Manoel de Medeiros Brito é dono de um repertório
de histórias nascidas do seu “fairplay”, “savoir vivre” e bom humor. Completou
noventa primaveras semana passada. São necessários três idiomas para definir a
extraordinária espirituosidade de uma vivencia tão rica de situações e fina
hilariedade. O jornalista João Batista Machado que o chama de “Brito Velho”,
alusão ao ex-deputado federal gaúcho, possui um longo repertório e causos e
acontecências colhidos ao longo de sua vida pública.
02) Certa vez, estava no interior, quando veio o apelo
irresistível de uma cachacinha. O seu fiel escudeiro era Raul, motorista.
“Raul”, recomenda Brito, com parcimônia, “veja se encontra nesses botecos uma
cachaça pelo menos razoável”. Empreendida a busca, volta Raul com a
recomendação protocolar: “Dr. Brito, tem umas, mas não são de boa qualidade”.
Brito, sediço e aliciador, sentencia: “Seu Raul, ruim é não ter”.
03) Brito é um exímio apreciador da “pinga”
nordestina. Degusta o precioso líquido como se fosse um príncipe do semiárido.
Como Secretário do Interior e Justiça, Brito gostava de integrar a comitiva
oficial às reuniões da Sudene em Recife. E explicava ao jornalista Machadinho:
“eu vou porque lá é tudo muito bom e barato”. Mas nunca perdia o paladar de uma
branquinha. Na capital do frevo, encontrava sempre o amigo Raimundo Nonato
Borba, chefe da Representação do Rio Grande do Norte junto à Sudene. Como é do
seu hábito, arranjou-lhe logo um apelido: Borba Gato. E no trajeto do aeroporto
à Sudene, do banco traseiro Brito avisava: “Borba Gato, não se descuide de
parar antes num boteco para eu beber um “rabo de lagartixa”.
04) O Palácio Campo das
Princesas, em Recife, era o local refinado das reuniões da Sudene para os convescotes
e rega-bofes do mundo oficial do Nordeste. Num desses eventos gastronômicos,
estava presente o então Secretário da Indústria e Comércio do Rio Grande do
Norte, Jussier Santos. Conhecido pela sua finesse, foi logo se servindo de
champignon e sugerindo a Brito para provar aquela delícia. E esse responde de
bate-pronto: “Jussier, eu não como frieira”.
05) Em outro almoço,
alguém da comitiva oficial do Rio Grande do Norte provoca Brito, ao avistar
apetitosos camarões: “Brito, sinta o cheiro inconfundível”. Este, com aquele
olhar jardinense do Seridó, corrige: “In, não. Cheiro confundível!”.
06) Numa conversa descontraída, perguntaram a Brito
qual a sua definição sobre o casamento. De bate pronto, fulmina: “uma ilusão
gratulatória”. De outra feita, Afonso, um dos seus motoristas da atividade
oficial, recebeu dele um apelido que exprimia fielmente o significado de suas
proezas de paquerador. Afonso era baixinho, entroncado, mas era querido do
mulheril funcional que beirava a menopausa. E Afonso “passava” as gordinhas,
mal-amadas, pernetas, num comovente “ofício de caridade”. Sabedor de suas
façanhas, Brito desfechou-lhe um apelido definitivo: “Areia de Cemitério”. Come
tudo.
07) Raul, foi um dos seus últimos motoristas. Em
Mossoró, na residência do casal Edith/Soutinho foi servido um lauto jantar a
comitiva política que visitava Mossoró. Raul, muito displicente e acanhado,
perdeu o jantar que D. Edith, mulher política e sensível, fazia questão de
estender aos motoristas as mesma iguarias que eram servidas aos convidados. Às
11 da noite, Brito dá o sinal de largada com retorno à Natal. No caminho,
impressionado com o lauto rega-bofe, ao lado de Machadinho, indaga a Raul:
“jantou bem?”. “Não senhor”, reponde o tímido motorista. “O quê? Um belo jantar
desse você perdeu?”. Já em Natal, Manoel de Brito não conteve o comentário:
“Raul, amigo velho, pomba mole nem no céu entra!!”. Raul aprendeu a lição.
(*) Escritor.
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