O
compositor francês Georges Bizet deixou uma vasta e importante obra
musical, mesmo tendo falecido precocemente aos 36 anos de idade. Sua
curta existência nunca foi simples, se caracterizando por
desapontamentos, falhas e acusações não muito veladas. Os triunfos na
França não faltam, mas não como teria merecido esse músico tão
desafortunado. E isso ocorreu no caso da sua “Les pêcheurs de perles”,
ópera de três atos cuja estreia se deu a 30/09/1863, no Théâtre Lyrique
de Paris. Seu relativo sucesso, dessa que é tida hoje como a primeira
obra-prima do compositor, não evitou a crítica mais intransigente. Foi
completada em apenas 10 semanas, durante o verão de 1863, quando Bizet
ainda tinha 25 anos de idade. O curto espaço de tempo na feitura não
deve enganar. O drama é muito ambicioso e seus aspectos exóticos não
eram uma aposta simples. A inspiração veio claramente de "La vestale" de
Spontini e da "Norma" de Bellini, um tema oriental que provocou a mente
do músico francês. O enredo se situa na antiguidade, na ilha do Ceilão,
e conta a história de como o voto de amizade eterna, firmado entre dois
pescadores de pérolas, Nadir e Zurga, é ameaçado, quando se apaixonam
pela mesma mulher, a casta sacerdotisa Leila, cujo próprio dilema é o
conflito entre o amor secular e seu juramento sagrado.
A música
da obra é cheia de colorido e expressão, todavia não é muito conhecida
do público. O início é, como acontece na “Carmen”, bem calmo e
meditativo, mas passa depois para exames de consciência, remorços e
acusações. Um mérito que certamente deve ser reconhecido ao compositor é
ter redimensionado as cenas mais pesadas, para tornar sua música
dramática, mas ao mesmo tempo esbelta. A ária "Je crois entender
encore", cantada ao final do primeiro ato, é tida como uma das mais
lindamente sedutoras em toda a ópera francesa, e uma das mais sublimes
que já foram escritas. Não poderia deixar de existir, também, uma versão
em italiano (“Mi par d'udire ancora”), tantas das vozes magníficas do
século passado que interpretaram e gravaram inúmeras árias e canções
naquela língua. Há ainda, para essa ária, uma gravação em russo e outra
em alemão.
Aqui no Brasil resolveram , nos primeiros anos da
década de 50, fazer uma versão popular para a ária do Bizet. Renato
Cesar fez o arranjo, em andamento de bolero, e a letra ficou a cargo de
Othon Russo. A interpretação coube à famosa cantora Ângela Maria, a
“Sapoti”, e a gravação, pela Copacabana, em vinil de 78 rpm, foi lançada
em agosto de 1953. Depois foi reproduzida, em 1955, no primeiro LP da
série “Sucessos de Ângela Maria”.
Compartilho, como vídeo
principal desta postagem, a interpretação da bela ária no idioma
francês, original da ópera, pelo extraordinário tenor espanhol Plácido
Domingo, e no primeiro comentário deixo o vídeo com a versão em
italiano, com o renomado tenor italiano Enrico Caruso, que é
considerado, inclusive pelo ilustre Luciano Pavarotti, o maior
intérprete da música erudita de todos os tempos. E ainda acrescento
outro vídeo, com a versão popular pela Ângela Maria. E como complemento
seguem as letras nos dois idiomas em que é cantada a ária, uma tradução
livre baseada na versão francesa original, e ainda a letra da versão
brasileira.
JE CROIS ENTENDRE ENCORE(versão em francês)
Je crois entendre encore,
Caché sous les palmiers,
Sa voix tendre et sonore
Comme un chant de ramiers!
Ô nuit enchanteresse!
Divin ravissement!
Ô souvenir charmant!
Folle ivresse, doux rêve!
Aux clartés des étoiles,
Je crois encor la voir,
Entr’ouvrir ses longs voiles
Aux vents tièdes du soir!
Ô nuit enchanteresse!
Divin ravissement!
Ô souvenir charmant!
Folle ivresse, doux rêve!
Charmant souvenir!
Charmant souvenir!
MI PAR D’UDIRE ANCORA
(versão em italiano)
Mi par d'udire ancora,
O scosa in mezzo ai fior,
La voce sua talora,
Sospirare l'amor!
O notte di carezze,
Gioir che non ha fin,
O souvenir divin!
Folli ebbrezze del sogno,
Sogno d'amor!
Dalle stelle del cielo,
Altro menar che da lei,
La veggio d'ogni velo,
Prender li per le ser!
O notte di carezze!
Gioir che non ha fin!
O souvenir divin!
Folli ebbrezze del sogno,
Sogno d'amor!
Divin souvenir,
Divin souvenir!
EU CREIO AINDA OUVIR
(tradução pela versão em francês)
Eu creio ainda ouvir
Oculta sob as palmeiras
A sua voz terna e sonora
Como um canto de pombos
Oh, feiticeira da noite
Divino arrebatamento
Oh, lembrança encantadora
Êxtase louco, doce sonho!
Ao brilho das estrelas
Eu creio ainda vê-la
Entreabertos seus longos véus
À brisa morna da noite.
Oh, feiticeira da noite
Divino arrebatamento
Oh, lembrança encantadora
Êxtase louco, doce sonho!
Encantadora lembrança!
Encantadora lembrança!
É ILUSÃO
Renato Cesar e Oton Russo
Não, não posso mais
Viver assim sem seu amor
Porque você não vem
Amenizar a minha dor?
O amor é tão divino
Porém você
Não me soube amar
É ilusão você me diz
O amor só é sublime
Para quem sabe amar
O amor só é sublime
Para quem sabe amar
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