sábado, 27 de janeiro de 2018



CARTAS DE COTOVELO versão 2018 - 09
CARLOS ROBERTO DE MIRANDA GOMES, veranista.


Até uns cinco anos atrás havia um velho pedinte, freguês lá de casa em Natal que, ao chegar ao portão e ser atendido por Thereza, às vezes, coincidia com a presença de “bem te vis”, que aproveitavam a ração dos gatos e subiam aos fios da rua e entoavam o seu característico canto. O pedinte, nessas oportunidades, olhava para minha esposa e dizia – tá vendo, Dona Therezinha, eles estão caçoando de mim. Por que? indagava ela. E ele esclarecia – estão dizendo “triste vida”.
Esse fato, depois de tanto tempo, veio à minha mente no instante em que ouvia o noticiário da remessa de mensagens do Governo do Rio Grande do Norte, a propósito de resolver os problemas financeiros do Estado.
A maioria dos projetos enviados à Assembleia Legislativa, em convocação extraordinária (certamente com custos extras), em meu pensar, oferece aos governados a impressão de haver chegado o momento de um triste fim, pela inconsistência das providências de saneamento financeiro da máquina estatal e tão estapafúrdia, que alguns já foram pedidos de volta para uma nova proposição, tal a insegurança dos seus textos.
Não vejo na venda de patrimônio imobiliário e/ou financeiro solução para nada, pois poderá atender a alguma dificuldades por curto espaço de tempo, mas muito breve a situação voltará a exigir novas providências e então não teremos mais de onde tirar.
Também não é solução raspar o taxo do fundo financeiro (Funfir), pois ele é reserva para o pagamento dos inativos.
A exoneração de servidores que ingressaram de forma ilegal no serviço público é medida acertada, incluindo o excesso de comissionados, mas isso não tem grande repercussão para a pretendida redução de despesas e devia ter merecido solução no tempo oportuno para evitar que, depois de tantos anos, agora provoque um verdadeiro clamor, num tempo de escassez e extrema dificuldade.
O que realmente é ponderável para o restabelecimento da governabilidade é uma reforma do Secretariado, pois este atual não está sabendo fazer o dever de casa; um reexame na estrutura administrava do Estado, fortalecendo os órgãos de fiscalização, como a Controladoria Geral do Estado, esvaziada em suas atribuições básicas, perdendo aquela forma que foi o fundamento da sua criação; uma revisão do orçamento para torná-lo sustentável; entrosamento com os outros Poderes e Órgãos para que os mesmos compreendam o momento grave e, igualmente, promovam as suas revisões orçamentárias; cumprir fielmente as suas obrigações com o pessoal, pagando os salários devidos, que representam verbas alimentares, equipando de forma possível, mas prioritária, os serviços essenciais do Estado – saúde, segurança e educação, exatamente os que produzem maior repercussão em favor da população.
Vamos evitar o equívoco de ter que interpretar o canto do bem te vi, como a dizer: “triste vida” ou “triste fim”!

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