CARTAS DE COTOVELO versão 2018 - 09
CARLOS ROBERTO DE MIRANDA GOMES,
veranista.
Até uns cinco anos atrás havia um
velho pedinte, freguês lá de casa em Natal que, ao chegar ao portão e ser
atendido por Thereza, às vezes, coincidia com a presença de “bem te vis”, que
aproveitavam a ração dos gatos e subiam aos fios da rua e entoavam o seu
característico canto. O pedinte, nessas oportunidades, olhava para minha esposa
e dizia – tá vendo, Dona Therezinha, eles estão caçoando de mim. Por que?
indagava ela. E ele esclarecia – estão dizendo “triste vida”.
Esse fato, depois de tanto tempo,
veio à minha mente no instante em que ouvia o noticiário da remessa de
mensagens do Governo do Rio Grande do Norte, a propósito de resolver os
problemas financeiros do Estado.
A maioria dos projetos enviados à
Assembleia Legislativa, em convocação extraordinária (certamente com custos
extras), em meu pensar, oferece aos governados a impressão de haver chegado o
momento de um triste fim, pela inconsistência das providências de saneamento
financeiro da máquina estatal e tão estapafúrdia, que alguns já foram pedidos
de volta para uma nova proposição, tal a insegurança dos seus textos.
Não vejo na venda de patrimônio
imobiliário e/ou financeiro solução para nada, pois poderá atender a alguma
dificuldades por curto espaço de tempo, mas muito breve a situação voltará a
exigir novas providências e então não teremos mais de onde tirar.
Também não é solução raspar o
taxo do fundo financeiro (Funfir), pois ele é reserva para o pagamento dos
inativos.
A exoneração de servidores que
ingressaram de forma ilegal no serviço público é medida acertada, incluindo o
excesso de comissionados, mas isso não tem grande repercussão para a pretendida
redução de despesas e devia ter merecido solução no tempo oportuno para evitar
que, depois de tantos anos, agora provoque um verdadeiro clamor, num tempo de
escassez e extrema dificuldade.
O que realmente é ponderável para
o restabelecimento da governabilidade é uma reforma do Secretariado, pois este
atual não está sabendo fazer o dever de casa; um reexame na estrutura
administrava do Estado, fortalecendo os órgãos de fiscalização, como a
Controladoria Geral do Estado, esvaziada em suas atribuições básicas, perdendo
aquela forma que foi o fundamento da sua criação; uma revisão do orçamento para
torná-lo sustentável; entrosamento com os outros Poderes e Órgãos para que os
mesmos compreendam o momento grave e, igualmente, promovam as suas revisões
orçamentárias; cumprir fielmente as suas obrigações com o pessoal, pagando os
salários devidos, que representam verbas alimentares, equipando de forma
possível, mas prioritária, os serviços essenciais do Estado – saúde, segurança
e educação, exatamente os que produzem maior repercussão em favor da população.
Vamos evitar o equívoco de ter
que interpretar o canto do bem te vi, como a dizer: “triste vida” ou “triste fim”!
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