O
MERCADO É O MELHOR JUIZ
Geniberto Paiva Campos (*) – Brasília, 29 de outubro, 2017
“- Pois agora vejo claro que é inútil pedir justiça ao poder contra o
poder...” (1)
(Fala do personagem Sancho,
na peça “O Melhor Juiz, o Rei”, Lope de Vega, 1562/1635)
O segundo “julgamento” de
Michel Temer, o qual resultou em nova “absolvição” pela Câmara dos Deputados,
nos remete às teses do dramaturgo espanhol Lope de Vega, autor da peça “O Melhor Juiz, o Rei”.
Denunciado novamente pela
PGR, com graves acusações, o presidente – ainda – em exercício, obteve os votos
necessários ao não reconhecimento da nova denúncia.
Em permanente estado de
perplexidade, o povo brasileiro, distante e aparentemente alheio, assiste
impassível ao surgimento de uma nova
moral. Um novo conceito de “corrupção”. Onde tudo é permitido, desde que
sejam atos praticados pelos representantes dos interesses da Elite. A favor do
Mercado. E do Neoliberalismo.
E onde se comprova, mais uma
vez, que a luta contra a “corrupção ´é
apenas um mero pretexto político para justificar o afastamento de governos
ditos “populistas”, inaceitáveis para a Elite. Governos que defendem os
interesses da maioria dos cidadãos, cuidam da soberania nacional e dos direitos
de todos brasileiros, preservando o Estado Democrático de Direito.
Ao se apropriar da política
e, finalmente, do Poder, o Mercado mostrou que o moralismo é a mais perfeita tradução da hipocrisia e do cinismo da
classe dominante e dos seus confiáveis e permanentes serviçais da mídia e das
classes médias.
O caso do ex-presidente da
Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, preso na carceragem curitibana, é
totalmente atípico. Quem sabe um dia, teremos conhecimento pleno dos fatos
reais que o colocaram atrás das grades?
Mas o desenrolar dos últimos
acontecimentos já nos permite concluir que o Governo, ou vá lá, os 3 PODERES, tornaram-se reféns do Mercado
e da Teoria Neoliberal.
E o Brasil, lamentavelmente
com ajuda de “brasileiros transnacionais” (2), foi apropriado por um sistema
político/econômico ilegítimo e improdutivo,
potencialmente capaz de destruir a Nação, tornando-a simples Colônia, produtora
e exportadora de matérias primas. Se possível, a preços vis. Projeto que,
cinicamente, ousou denominar “Ponte para
o Futuro”.
Nenhum país, repetimos, nenhum país que adotou as teses
econômico/sociais do Neoliberalismo, tornou-se um país melhor. Ao contrário.
Regrediu como Nação.
Alguns economistas (3)
sustentam: “a justiça social dinamiza a
economia, reduz as tensões políticas, reduz os conflitos éticos.
Essencialmente, (isso é o principal!), ela é saída produtiva”.
O Capitalismo Neoliberal não
tem futuro. Torna-se uma espécie de réquiem para o Capitalismo Produtivo e
Democrático. Garantidor dos direitos sociais.
É legítimo, portanto,
perguntar: - para onde o governo Michel Temer pretende levar o Brasil?
Independente da sua
legitimidade, da honestidade e da correção da conduta pública dos seus
integrantes, o mal que este governo está fazendo ao Brasil poderá tornar-se
irreversível. Inviabiliza o país como nação livre e soberana. Respeitada no
concerto internacional.
A forma ladina, fraudulenta
como o grupo político de Michel Temer arrebatou o poder de um governo eleito
democraticamente, jamais lhe permitiria tamanha ousadia e irresponsabilidade na
condução da coisa pública.
Aos que costumam estabelecer
comparações históricas, não há como fazer confrontos entre o governo Temer e os
governos militares (1964/1985).
Para efeitos comparativos
vamos lembrar de início dois presidentes do ciclo dos generais, Castelo Branco
e Ernesto Geisel, os quais podem ser designados, com justiça, como os de maior
visão estratégica do país e do contexto geopolítico. Ambos militares
originários da Escola Superior de Guerra/ESG, do Exército Brasileiro. E ainda o
general João Batista Figueiredo, que encerrou o período autoritário, promulgou
a Anistia, e conduziu o período da Abertura e garantiu a transição pacífica do
poder aos civis, grandiosa obra política de brasileiros liderados pelo então
governador mineiro Tancredo Neves.
Como enfrentar o imenso
desafio colocado a todos os brasileiros, ameaçados de perder direitos
conquistados e que imaginavam permanentes? Como enfrentar as ameaças, agora já
bem visíveis, de retrocesso?
O ex-ministro Eugênio
Aragão, em artigo recente (4), afirma precisarmos imediatamente de “coragem
civil”. E diz: “O Brasil se encontra numa
dessas encruzilhadas da história em que dependerá muito de se acertar em
escolhas dramáticas para não cair no abismo. E todos parecem saber o melhor
rumo, mas ninguém o quer desbravar. O abismo é o outro, a quem se quer
eliminar, mal enxergando que, a cada impulso exterminador, aproxima-se mais a
borda do precipício que pode a todos engolir”.
Está, assim, lançado o
desafio. Dito de outro modo: A SAÍDA É POLÍTICA.
Precisamos usar de toda
nossa inteligência, coragem e serenidade para impedir a destruição do nosso
país. Enfrentando um inimigo oculto, que não ousa assumir abertamente a sua
deletéria missão. Com o vergonhoso auxílio de brasileiros “transnacionais”.
Conhecidos, antigamente, como traidores da pátria...
(*) – Do Coletivo Lampião
(1) – Lope de Vega in “O
Melhor Juiz, o Rei”
(2) – Alm. Othon Luiz
Pinheiro da Silva, in Carta Capital, Nº 975, outubro, 2017
(3) – Ladislau Dowbor, in Caros Amigos, nº 247, outubro,2017
(4) Eugênio Aragão, in
Diário do Centro do Mundo/DCM, outubro, 2017
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