Oração pela pátria
Gaudêncio Torquato
03/09/2017
Pai nosso
que estás no Céu, santificado seja o vosso nome!
Pedimos
suas bênçãos, Senhor, na semana em que nosso país comemora seus 517 anos de
existência, abrigando uma população de 207,6 milhões de habitantes e vivendo
um dos momentos de maior aflição de sua trajetória política.
Eis a nossa prece.
É bem
verdade, Senhor, que habitamos um território belo e imenso, do tamanho de um
continente, que possui a maior reserva de água doce do mundo, 12% da quantidade
existente nos 193 países do nosso planeta, e com biomas terrestres – Mata
Atlântica, Amazônia, Cerrado, Caatinga e Campos do Sul – abrigando 20% das
espécies do planeta. Em nosso exuberante torrão, até desastres naturais há,
sem, porém, o poder destruidor de tufões, terremotos e furacões que devastam
nações poderosas e maltratam populações.
Pero Vaz
de Caminha certamente tinha razão, Senhor, na carta escrita ao rei Dom Manuel
em 1º de maio de 1500, ao descrever que a terra descoberta pelo comandante
português Pedro Álvares Cabral, em 22 de abril, “em tal maneira é graciosa que,
querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo, por bem das águas que tem”.
Agradecemos,
Senhor, pela extrema generosidade com que nos agraciou, dando-nos terra tão
rica, onde se plasmou a índole de uma gente singular, assentada em um “processo
de equilíbrio de antagonismos”, como ensina o mestre Gilberto Freyre: as
culturas europeia, indígena, africana; o católico e o herege; o jesuíta e o
fazendeiro; o bandeirante e o senhor de engenho; a paulista e o emboaba; o
pernambucano e o mascate; o bacharel e o analfabeto; o senhor e o escravo”.
Tal
convivência antagônica formou um povo cordial, alegre, trabalhador,
hospitaleiro, afeito à paz, acessível, mesmo que também carregue traços
negativos, como bem ilustra Afonso Celso em seu clássico Por que me Ufano do
meu País”: falta de iniciativa, falta de decisão, falta de firmeza, pouco
diligente”. Seria esse o outro lado da profecia de Vaz de Caminha, quando
garantiu que, na nova terra, “em se plantando tudo dá?”
Venha a
nós o vosso Reino!
E que
venha logo, Senhor. Antes que a matança nas ruas alcance níveis incontroláveis.
E antes que a divisão entre “nós e eles” torne irreversível a desarmonia
social. É o que ansiosamente esperamos. Por aqui, baixou um clima de
guerra aberta. Irmãos contra irmãos. Tiros por todos os lados. A violência
urbana assola bairros, ruas, vielas das grandes e médias cidades. Os atentados
terroristas no mundo, nos primeiros 5 meses deste ano, registram um número
menor de homicídios do que os ocorridos em nossas plagas em apenas 3 semanas de
2015, quando foram assassinadas 3,4 mil pessoas, uma morte a cada 9 minutos.
O Rio de
Janeiro, nosso mais conhecido cartão postal, virou terra de ninguém. Semana
passada, mataram o 100º policial militar somente este ano.
O
apartheid social se alarga na onda de um discurso propagandeado por um
partido político, que há três décadas tenta incutir na alma da população o
divisionismo entre bons e maus, bandidos e mocinhos, nós e eles, elites e
plebe. A velha luta de classes aposentou suas armas após a queda do muro de
Berlim, em 1989, e o fim da guerra fria, mas por aqui a estrela do comunismo
continua a brilhar no peito de militantes vestidos de vermelho, que pregam a
“revolução”, a derrocada das elites e a morte do liberalismo, ao qual adicionam
o prefixo “neo”.
Não somos
uma sociedade igualitária, Senhor. Há enorme distância entre pobres e ricos,
privilegiados e oprimidos, donde se pode até a compreender o escopo de
instituições que desfraldam as bandeiras da igualdade, da fraternidade e da
justiça para todos. Só não é possível defender o ideário dos direitos humanos
usando as armas da intolerância e da condenação contra quem ousa discordar de
métodos como invasão de propriedades, depredação de patrimônios, incitação à
violência.
Seja
feita a vossa vontade assim na terra como no céu.
Que a
vossa vontade, Senhor, chegue até nós. Rogamos que a paz do céu baixe sobre
nosso território, elevando os menos favorecidos a degraus superiores e dando
aos habitantes do alto da pirâmide social nobreza de espírito para lutar pelo
fim das desigualdades e enxugar a lágrima dos aflitos.
Nossos
pobres, Senhor, chegam a 30 milhões de pessoas. E mais de 10 milhões de
brasileiros vivem em condições de extrema miséria, sem condições de comprar
comida em quantidades necessárias para sua sobrevivência. A milhares de
brasileiros falta pão sobre a mesa, sobretudo nas periferias das metrópoles,
onde populações carentes se aboletam em favelas, palafitas e casas de
papelão.
O pão
nosso de cada dia nos daí hoje. Farto para uns e migalhas para outros.
Rogamos,
Senhor, que injete na consciência dos nossos homens públicos o dever sagrado de
cumprir a missão de não trair o compromisso com aqueles que os conduziram às
suas funções. Impõe-se a eles o dever de bem representar o povo. Que não deixem
faltar pão sobre a mesa dos famintos. Que dêem qualidade aos serviços públicos.
Que não permitam aumentos exagerados de impostos.
Perdoai
as nossas ofensas. Assim como nós perdoamos a quem nos tem
ofendido.
Pedimos
perdão, Senhor, para os pecadilhos do cotidiano, as ofensas comuns que se
revelam em deselegância, gestos mal educados, mentirinhas e falsas versões. Não
podemos pedir perdão, Senhor, para atos que signifiquem assalto à coisa
pública, praga que se expande sob a maquinação da burocracia estatal, de
políticos e círculos de negócios. Máfias e assaltantes do Estado, formando
milícias de um poder invisível, precisam prestar contas à Justiça, antes de
receber o perdão divino.
E não nos
deixei cair em tentação, mas livrai-nos do mal.
Nessa
Semana da Pátria, suplicamos por ajuda, Senhor, para construir a Terra dos
nossos sonhos, onde gerações viverão em convivência harmoniosa, o ponto de
encontro entre grupos e classes, o habitat do bem-estar coletivo, o terreno
onde florescem sementes do Produto Nacional Bruto da Felicidade. Dai-nos força,
Senhor, para nos livrar dos males que afligem nossa bela, porém sofrida,
Nação.
Ajudai-nos,
Senhor, a subir ao altar do Bem.
Amém!
____________________
Meu Comentário (Carlos de Miranda Gomes)
É difícil a convivência da comemoração histórica do Brasil com a história recente da nossa pátria, vilipendiada pela onda gigantesca de corrupção, em todos os níveis de governo e entre os Poderes constituídos, contaminados pela máquina destruidora da moralidade e do patriotismo.
Todos os dias surgem os casos nefastos que afastam a esperança do povo brasileiro, castigado pelos efeitos desses atos deletérios e vítima permanente pela falta de amor.
Não podemos aceitar os comentários permanentes como uma coisa normal, já instaurados no cotidiano. Temos de dar a resposta MEDIATA e, pela via democrática, será viável a boa utilização do direito de voto. Mas pela necessidade IMEDIATA o caminho mais sensato, legal e moral será a destituição dos governantes comprometidos.
Tem sido vergonhosa a nossa condição de cidadãos deste País. É preciso reagir e fazer voltar o BRASIL aos seus dias gloriosos em todos os sentidos - moral, social, cultural e econômico.
No momento, estamos de LUTO
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Meu Comentário (Carlos de Miranda Gomes)
É difícil a convivência da comemoração histórica do Brasil com a história recente da nossa pátria, vilipendiada pela onda gigantesca de corrupção, em todos os níveis de governo e entre os Poderes constituídos, contaminados pela máquina destruidora da moralidade e do patriotismo.
Todos os dias surgem os casos nefastos que afastam a esperança do povo brasileiro, castigado pelos efeitos desses atos deletérios e vítima permanente pela falta de amor.
Não podemos aceitar os comentários permanentes como uma coisa normal, já instaurados no cotidiano. Temos de dar a resposta MEDIATA e, pela via democrática, será viável a boa utilização do direito de voto. Mas pela necessidade IMEDIATA o caminho mais sensato, legal e moral será a destituição dos governantes comprometidos.
Tem sido vergonhosa a nossa condição de cidadãos deste País. É preciso reagir e fazer voltar o BRASIL aos seus dias gloriosos em todos os sentidos - moral, social, cultural e econômico.
No momento, estamos de LUTO
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