Vinicius de Moraes, com as lágrimas do tempo
e a cal do dia
20/03/2017
texto Gustavo Sobral e ilustração Arthur Seabra
Poeta, poetinha. E camarada.
Um dia disse também que era
o branco mais preto do Brasil.
E foi. Diplomata representou
a nação verde e amarela
mundo afora, escreveu
crônicas (além de muita poesia)
e foi aficionado por cinema.
Amigo de Carmem Miranda
e de um tanto de gente
assim, como Pablo Neruda,
Tom Jobim, Rubem Braga,
gente daqui e de fora.
Também compositor,
e dos melhores.
De muitos parceiros.
Fez muitos shows e
teve muitas mulheres.
Cada uma, uma paixão.
Cada uma, um poema.
Teve muitos filhos, dentre
eles, uma filha de muitos
pais, a bossa nova. Cultuou
o samba e o jazz.
E foi Vinicius de Moraes.
Bon vivant, boêmio,
senhor do seu próprio destino.
Um dia disse também que era
o branco mais preto do Brasil.
E foi. Diplomata representou
a nação verde e amarela
mundo afora, escreveu
crônicas (além de muita poesia)
e foi aficionado por cinema.
Amigo de Carmem Miranda
e de um tanto de gente
assim, como Pablo Neruda,
Tom Jobim, Rubem Braga,
gente daqui e de fora.
Também compositor,
e dos melhores.
De muitos parceiros.
Fez muitos shows e
teve muitas mulheres.
Cada uma, uma paixão.
Cada uma, um poema.
Teve muitos filhos, dentre
eles, uma filha de muitos
pais, a bossa nova. Cultuou
o samba e o jazz.
E foi Vinicius de Moraes.
Bon vivant, boêmio,
senhor do seu próprio destino.
Décima primeira entrevista da
série entrevistas imaginadas,
quando se falará de e com poetas
e escritores, pelo que já
disseram em seus versos
e prosa, por isso, imaginadas,
mas nunca imaginárias, porque
o fundo da verdade é o que
já disse e está estampado no
que já disseram. O entrevistado
é poeta, como se disse, é
Vinicius de Moraes, como
se sabe, e que fez muita festa
na vida e tornou a vida uma
festa. Disse coisas lindas e
as escreveu em verso
contribuindo para uma
instituição universal: a
paixão semeada em sonetos.
série entrevistas imaginadas,
quando se falará de e com poetas
e escritores, pelo que já
disseram em seus versos
e prosa, por isso, imaginadas,
mas nunca imaginárias, porque
o fundo da verdade é o que
já disse e está estampado no
que já disseram. O entrevistado
é poeta, como se disse, é
Vinicius de Moraes, como
se sabe, e que fez muita festa
na vida e tornou a vida uma
festa. Disse coisas lindas e
as escreveu em verso
contribuindo para uma
instituição universal: a
paixão semeada em sonetos.
Entrevistador: Poeta, e foi de repente,
não mais que de repente?
não mais que de repente?
Vinicius
de Moraes: De repente, não
mais que de repente do riso fez-se o pranto.
mais que de repente do riso fez-se o pranto.
E: Onde e quando foi isso, poetinha?
VM: Oceano
Atlântico, a bordo do
Highland Patriot, a caminho
da Inglaterra, setembro de 1938.
da Inglaterra, setembro de 1938.
E: E o que mais poeta?
VM: E da paixão fez-se o pressentimento.
E: E foi na Inglaterra, nesse tempo
que viu o Portinari?
que viu o Portinari?
VM: Vi-o na Inglaterra uma tarde,
vi-o ermo, vadio.
vi-o ermo, vadio.
E: E a pergunta que não calará,
de tudo será sempre mesmo atento?
de tudo será sempre mesmo atento?
VM: De tudo ao meu amor serei atento,
antes, e com tal zelo, e sempre, e
tanto, que mesmo em face do maior
encanto dele se encante
mais meu pensamento.
antes, e com tal zelo, e sempre, e
tanto, que mesmo em face do maior
encanto dele se encante
mais meu pensamento.
E: E o que poderá dizer do amor?
VM: Que não seja imortal, posto
que é chama,
mas que seja infinito enquanto dure.
E: E de que morrerá feliz poeta?
VM: De ter vivido sem comer
em vão.
E: E não comerá da alface a
verde pétala?
verde pétala?
VM: nem da cenoura as hóstias
desbotadas!
desbotadas!
E: E a pêra?
VM: entre bananas supervenientes
e maças
lhanas.
E: De manhã?
VM: escureço.
E: De dia?
VM: tardo.
E: E de tarde?
VM: anoiteço.
E: E à noite?
VM: De noite ardo.
E: E a vida?
VM: Ser criado, gerar-se,
transformar o amor
em carne
e a carne em amor; nascer,
respirar, e chorar, e adormecer
e se nutrir para poder chorar.
e a carne em amor; nascer,
respirar, e chorar, e adormecer
e se nutrir para poder chorar.
E: Neruda...
VM: Quantos caminhos não
fizemos juntos.
Neruda,
meu irmão, meu companheiro...
meu irmão, meu companheiro...
E: E de que fez a sua poesia?
VM: Com as lágrimas do tempo
e a cal do meu
dia.
E: Vinicius, quem é Vinicius?
VM: Homem, sou fera.
Poeta, sou louco.
Amante, sou pai.
E: E o que quer o poeta?
VM: Eu quero o repouso do
que não espero.
que não espero.
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