ARENEBÊ: RESGATANDO UM EPISÓDIO
Valério Mesquita*
A crônica política de
1977/1978, chegou a me apontar, com certo rigor, como um dos fundadores do
arenebê no Rio Grande do Norte (mistura híbrida do bipartidarismo da época).
Mas, existe um episódio isolado nessa história que explica a situação
ordenadamente e que nunca foi narrado ou analisado pela imprensa. Antes de
Tarcísio Maia assumir o governo do estado, o meu nome foi amplamente especulado
pelos jornais como possível candidato a prefeito indireto de Natal, defendido
pelo deputado Djalma Marinho e pela revelação como administrador de Macaíba além
do meu desempenho político na Grande Natal. Em razão de um atrito em 1974 com
Dinarte Mariz, por não haver apoiado a candidatura de Wanderley Mariz a
deputado federal e sim a de Grimaldi Ribeiro, recebi o veto formal do velho
senador que impôs junto a Tarcísio o nome de Vaubam Bezerra. Absorvida e
atenuada a desinteligência e por instancias de Djalma e Leonel Mesquita resolvi
aceitar o cargo oferecido de presidente da EMPROTURN, renunciando a prefeitura
de Macaíba na metade do mandato, no final de 1975.
O fato, sem dúvidas, me
deixou magoado. Mesmo assim, em 1976, ajudei a eleição de Silvan Pessoa e
Silva, candidato da Arena que derrotou o ex-prefeito Manoel Firmino do MDB.
Mas, em 1977, aconteceu o meu rompimento com Tarcísio Maia. O epicentro foi a
restauração do Solar do Ferreiro Torto, o mais importante monumento histórico
de Macaíba. O governador discordava de minhas divergências públicas com o
diretor administrativo da EMPROTURN, o ex-deputado Francisco Revoredo, pessoa
de Vingt Rosado. A arenga foi a destinação de recursos da EMPROTURN para a Fundação José Augusto restaurar o
Solar, à época, dirigida por Sanderson Negreiros. Revoredo e Vingt queriam que
esse investimento fosse aplicado em Mossoró. Diferenças políticas-geográficas,
diria. O governador da Revolução deu cartão vermelho aos dois diretores. Outra mágoa
profunda, pois ei já era órfão de Djalma Marinho que não se elegera senador e
de Grimaldi Ribeiro que perdera o mandato de deputado federal. Além de
fustigado pelo dinartismo, afastei-me do sistema, exilando-me na praia de
Cotovelo. Em 1978, fui sondado por Ângelo Fernandes, emissário de Aluízio
Alves, ainda com os direitos cassados, se poderia recebê-lo em minha casa. E o
encontro se deu num sábado à tarde, em Macaíba para o espanto de muita gente.
Daí tratei de conversar com os meus amigos que foram contrários ao meu ingresso
no MDB mas favoráveis ao entendimento com Aluízio, nascendo aí, para alguns, o
Arenebê, que escondia só pra mim, por trás do rótulo, uma triste e repetida
história de preterições.
Nas eleições
parlamentares de 1978, como troco à Arena, dei o meu apoio a Henrique Alves/Paulo
de Tarso Fernandes e votei em Jessé Freire para senador. O fato é que o Arenebê
foi o precursor da paz pública com todos os traumas e efeitos colaterais.
Porém, aí começa outra história.
* Escritor
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