O SOM DO TEMPO
Valério Mesquita*
Esperamos que 2017 seja
o ano da restituição. Devolução de tudo aquilo que nos foi tirado. Recuperação
das finanças do estado do Rio Grande do Norte, cujo desempenho do sistema
tributário tem sido pífio e inexplicável. Devolução do direito dos aposentados
do IPERN de receberem os proventos junto com os servidores ativos, porque o
Executivo tomou por “empréstimo” quase novecentos milhões de reais que jamais
serão devolvidos. O previdenciário neste ponto tem o seu direito assegurado
pela lei (Estatuto do Idoso). Ele tem mensalmente necessidade de comprar
alimentos, obrigações financeiras de subsistência, principalmente medicamentos
caros e indispensáveis a vida.
O governo reembolsará
os prejudicados por todos danos sofridos neste ano da provação de 2016? Quem
pagará (ou deverão pagar) outros pelos erros acumulados? Equívocos como o do
governo passado de construir a Arena das Dunas em vez de melhorar a saúde do
povo, a sala de aula e a segurança pública, não devem mais ser repetidos.
Prover-se e abastecer-se de gordos auxílios (saúde, alimentação e moradia),
todo mês, em caráter intensivo, significa uma metodologia incompatível com o
atual momento de crise econômica e financeira.
Nesse imblógrio, renunciar a esses e outros privilégios, fará com que o
doente se restaure, se restabeleça. Funcionário fantasma sempre assustou a
administração pública. Nessa Caixa de Pandora é necessário descobri-lo,
caça-lo, sem a injustiça ou a execração pública da parte de qualquer agente midiático,
insensato e imoderado.
Lembrei-me do poeta
Orides Fontela adequando o Enclesiaste ao seu contexto filosófio: “Há um tempo
para desarmar os presságios; há um tempo para desamar os frutos e há um tempo
para desviver o tempo”. Com a tempestade do lava jato que tece um fio de
amarguras ao político - provocando sua queda hoje na bolsa eleitoral – passou a
valer quase nada o seu nome nas ruas e urnas da credibilidade. O povo já
começou a desarmar presságios, desamar os frutos e a desviver o tempo. E a
pedir critério, bom senso, equilíbrio no trato das estipulações dos super
salários. A grave situação do erário público somente se resolverá com o
sacrifício de todos e de cada um, dos diferentes segmentos do funcionalismo
público. O problema é antigo e é do conhecimento público. Em alguns entes
federativos, integrantes do Judiciário e do Congresso ganham auxílios nos
contracheques até para combustível, educação dos filhos e por ai vai...
Perderam o rumo e o prumo. Falta de controle. Não é assim, também... E eu
imaginava que a dança do ventre fosse o único divisor de águas puras e impuras
no serviço público.
Volto a afirmar que é
imperioso na vida e na administração pública saber gerir o tempo, as suas
temperaturas (tribulações) e os temperamentos de todo elenco cênico. Tanto
quanto o Brasil, o Rio Grande do Norte padece de enfermidade adquirida ao longo
do tempo, Leio que se pretende ir a China. Volta à baila a ZPE com todas as
letras. ZPE não é mais som do tempo e sim gemido antigo. Os deveres de casa
ainda precisam ser feitos, aqui e agora. Como, por exemplo, renunciar valores
estratosféricos de repasses, pois o duodécimo virou vocábulo e refeição de
fantasmas. Moderar é preciso.
No som dos tempos de
hoje, ouço ecos do STF julgando processos sobre vaquejada e sabor de cigarro.
Muito banal. Ondas sonoras do Banco do Brasil desempregando funcionários e
abandonando o social, a família, apesar do lucro bilionário e exagerado dos
seus balanços. Quem não escuta vibrações em alto e bom som que Michel Temer
perdeu a estatura compatível com os princípios e critérios do novo tempo ao
manter no início Geddel Vieira (fez mungangas para ele permanecer) no
ministério e fazer voltar o senador Romero Jucá à liderança do governo? A
orquestra tem que tocar afinada com a música, o estilo e o ritmo, senão, volta
o refrão de golpe. Por fim, com a delação premiada, a Odebrecht transformou-se
agora no morro dos ventos uivantes. É som para mais dez mil decibéis.
(*) Escritor.
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