COMITÊ DE SALVAÇÃO
PÚBLICA
Valério Mesquita*
A crise na saúde transformou os hospitais da rede oficial em verdadeiros
cadafalsos. Faz-me lembrar o regime de terror instaurado por Robespierre
durante a revolução francesa do século dezoito. O Walfredo Gurgel é o hospital
dos mártires. Sobre o caos, os leitores já conhecem porque o assunto é bastante
debatido, discutido, na imprensa, na televisão, nos gabinetes das secretarias
de governo, mas nunca aparece a sonhada solução. Ninguém se entende e todos se
acusam. O paciente pobre para ser cirurgiado tem que apelar na justiça comum. A
saúde no Rio Grande do Norte virou caso de polícia e de justiça. Veja a
situação deplorável do hospital Giselda Trigueiro. Mas, projetos turísticos
megalomaníacos são sugeridos numa capital que não tem saúde e segurança. Parte
do funcionalismo público mendiga o décimo terceiro e a maioria protesta nas
ruas pelo atraso de dois meses.
As autoridades e as instituições envolvidas na grave e controvertida ruptura
da saúde pública me fazem lembrar o “comitê de salvação pública” criado por
Robespierre, naquele tempo, que fez jorrar sangue para resguardar o estado. O
ser humano coisificado era considerado alma morta dentro de corpo inutilmente
vivo. Assim vejo o paciente dos hospitais públicos, submissos a dor, ao flagelo
do corpo, tal e qual o servo Jó na terra de Uz, no Antigo Testamento. Somente
Deus era a sua esperança. E o foi, realmente, reabilitando-o depois. E o
“comitê de salvação pública” da saúde do Rio Grande do Norte? Bom, ele já está
formado. Instituiu-se sem precisar de Robespierre, o baixinho perverso e
ensandecido que está na pele de algumas autoridades não inscritas no SUS.
Vejam quantos poderes foram chamados a intervir no problema da saúde
pública, como responsáveis, co-responsáveis, etc.: Governo do Estado,
Prefeitura Municipal, Ministério Público, Universidade Federal, Assembléia
Legislativa, Câmara Municipal e sindicatos. Verdadeiro “comitê de salvação
pública”. Mas, até agora, muito blá, blá, blá. A crise tornou-se emblemática e
semelhante a eterna questão palestina. Enquanto o comitê não decidir investir
pesado na saúde, construindo hospitais, melhorando a remuneração dos profissionais
da medicina e elegendo como prioridade a pobreza e depois o turista, não haverá
salvação pública. O povo continuará a ser tratado como na época do império
romano: com “pão e circo”. E o doente volta a terra porque é da terra. Por fim,
cabe lembrar aos políticos, num apelo dramático e persuasório, que eles já não
liderem o país. Perderam a credibilidade por colocarem os seus interesses
pessoais acima das necessidades do povo. E no Rio Grande do Norte, aquele que
abrir hospitais e cuidar da saúde dos despossuídos não será esquecido no dia da
justiça eleitoral. E também no Juízo Final.
(*) Escritor.
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