SÍNDROME DA INSÔNIA
CARLOS ROBERTO DE
MIRANDA GOMES, escritor
Mais uma vez
fui sufocado pela maldita síndrome da insônia, que chegou tão logo os ponteiros
do relógio se cruzaram.
Em minha
rede, retorci os pés inúmeras vezes e indaguei a mim mesmo: devo me levantar ou
ficar zanzando na penumbra do meu quarto?
A esposa
dormia a sono solto, tendo aos seus pés a velha companheira Xana (gata que já é
fenômeno de longevidade). No quarto ao lado dava para escutar o ronco da minha
cunhada.
Continuei na
dúvida. O apito repetido do guarda-noturno de uma rua próxima me motivou a
levantar-me. Logo estava eu procurando papel e lápis para escrever alguma coisa
para o tempo passar.
Não ousei
subir ao primeiro andar, onde tenho um computador, com receio de fazer barulho,
pois a noite estava calma e a temperatura agradável, própria para um bom sono
(dos outros).
Escrever o
que? Fui até a mesa da sala, esbarrei no patinete de um dos netos, mas em tempo
não o deixei cair e, cuidadosamente sentei. Olhei ao longe procurando um tema e
me chegaram vivos os episódios e as mazelas do dia que terminou, com os
reiterados exageros da mídia relativos à operação da Polícia Federal a cumprir
mandado de condução coercitiva de depoentes envolvidos, ou supostamente envolvidos
em escândalos administrativos, econômicos e políticos (debaixo de vara) para
usar a velha expressão do Direito, entre os quais o nosso ex Presidente Lula.
O que está havendo, para onde vamos?
A insônia se transforma em pânico – estou velho e tenho muitos descendentes de
pouca idade – como ficarão quando eu partir?
Nesse
instante, após um sopro de brisa litorânea fiquei mais acomodado, ao ponto de
puxar pensamentos menos esdrúxulos – devo apressar a redação do meu livro de
memórias. Mas fiquei confuso!
Achei melhor
ligar a televisão e, apesar dos ponteiros já caminharem para as duas horas,
ainda estavam no ar os assuntos requentados do dia de ontem, com a reprodução
do discurso populista do principal protagonista do episódio e acréscimos de
estatísticas da cotação do dólar, que caiu e da bolsa de valores, que subiu,
numa flagrante insinuação de que o perigo político da queda do governo
permitiria uma mudança de azimute na governabilidade. Só sei que está instalado
o confronto à moda antiga! Não sei não. Será que se aplica o fenômeno da semente
que morre para construir nova vida? Continuo em dúvida. Quero um Brasil mais
brasileiro, sem mistura de estrangeiro, um Brasil nacional (tirei a frase de um
poema popular, mas não sei qual)!
O tempo
passou revoltantemente lento. Cadê o sol? Ainda estava muito cedo para ele
aparecer. Só os ruídos dos aparelhos de refrigeração se tornavam evidentes.
Parei para
concluir esta crônica ao raiar do dia e voltei ao quarto. Já passava da
terceira hora...
Afinal, o
cântico dos passarinhos anuncia que o sol chegou. Dormi quase três horas. Estou
cansado, mas mesmo assim tenho forças para fazer o café matinal. Mas hoje é
sábado. E daí? Vou voltar para o aconchego da rede e ver o que acontece de bom
mais tarde!
Não, vou subir ao primeiro andar, e
terminar logo esta crônica da péssima noite de insônia.
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